Todo motociclista sonha em ter várias motos na garagem: um modelo ágil e fácil de pilotar para o uso diário; outra moto divertida para passear com os amigos no final de semana; e uma preparada para “devorar” as curvas do seu autódromo favorito. A Triumph tentou realizar esse desejo dos motociclistas com a nova Street Triple RS, versão top de linha da renovada naked, que desembarca agora no Brasil.
Com um motor novo de maior capacidade cúbica (agora são 765 cm³ contra os antigos 675 cm³), uma ciclística completamente renovada e eletrônica de última geração, a Street Triple RS 2017 tem a proposta de ser uma naked urbana ou uma verdadeira esportiva para se divertir em um trackday.
Mas, como todo sonho tem seu preço, a versão topo de gama da naked inglesa chega agora em setembro às concessionárias da marca por “salgados” R$ 48.990 – uma versão “S” com especificações mais espartanas será vendida por R$ 38.990.
Outra moto
Não estaria exagerando se eu dissesse que a nova Street Triple é “outra moto”. Embora tenha a identidade visual das nakeds da Triumph – com os dois faróis protuberantes e a silhueta esguia – e motor de três cilindros, praticamente todos os componentes são novos no modelo 2017.
A começar pelo motor. Além de maior, o tricilíndrico ganhou novo virabrequim, cilindros em alumínio, revestimento de níquel e sílica nos pistões e um novo comando de válvulas. O resultado são 123 cv de potência máxima a 11.700 rpm – quase 40 cavalos a mais do que a geração anterior com 675 cc e 85 cv.
Para se ter uma ideia do potencial desse propulsor, ele foi o escolhido para ser o motor oficial da categoria Moto2 (que atualmente usa motores Honda de quatro cilindros e 600cc) a partir de 2019.
Outra novidade é o acelerador eletrônico (ride-by-wire) que acabou com “buracos” na aceleração e permitiu a instalação de controles eletrônicos. A versão RS, avaliada, oferece cinco modos de pilotagem: rain, road, sport, track e rider (personalizável). Cada modo ajusta o controle de tração com quatro níveis de atuação e os freios ABS com outros três. O modo “rider” permite que os mais radicais desliguem o controle de tração e os freios ABS.
Toda a eletrônica pode ser facilmente ajustada pelos novos punhos – no direito, a Street Triple RS ganhou um “joystick” multidirecional para alterar os parâmetros da moto. As informações são mostradas para o piloto em uma tela colorida de TFT de 5 polegadas e com seis modos de exibição e contraste variável. Sem dúvida, um dos painéis digitais mais bacanas a equipar uma moto: é possível ajustar até mesmo a inclinação para evitar que o sol atrapalhe a visão.
Ciclística de pista
Por baixo da nova roupagem, um quadro redesenhado e uma nova balança traseira, projetada para garantir que a forte aceleração do novo motor não desequilibre o conjunto. Nas suspensões da versão RS, a Triumph escolheu garfo telescópico invertido Showa do tipo BPF, na dianteira; e um monoamortecedor Öhlins STX 40, na traseira. Especificações dignas de uma moto superesportiva.
Nos freios não foi diferente: duplo disco de 310 mm com pinças monobloco Brembo M50, na roda dianteira; e disco de 220 mm na traseira também com pinça Brembo. Uma novidade é o manete de freio MCS que, além de permitir a regulagem de altura, altera também a dosagem do freio. É possível optar por uma frenagem que “estanca” a moto ou outra mais progressiva.
Completam o pacote “de pista” pneus Pirelli Diablo Supercorsa SP na versão RS, calçados em rodas de liga-leve de 17 polegadas, nas medidas 120/70 (dianteiro) e 180/55 (traseiro).
No trânsito
No lançamento da Street Triple RS para a imprensa brasileira, a Triumph elaborou um roteiro que mesclou trânsito urbano, rodovias largas e estradas sinuosas. Partimos da sede da marca, na Zona Sul da capital paulista, com direção à Campos do Jordão (SP).
Ao montar na moto, já se nota que a posição de pilotagem não mudou muito em relação ao modelo anterior. As pedaleiras são bem recuadas, exigindo que se flexione bem os joelhos. O guidão, porém, é largo e não projeta tanto o piloto à frente. Mas o ângulo de esterço ainda é um pouco reduzido – algo esperado em uma naked com vocação esportiva.
Por outro lado, a boa notícia é que o assento fica a 82,5 cm do solo e a Street Triple ficou mais leve: agora são apenas 166 kg a seco, o que facilita manobras em baixa velocidade. Afinal, o primeiro trecho reservava o “agradável” trânsito das Marginais – Pinheiros e Tietê – com direção à Rodovia Ayrton Senna.
Optei pelo modo “road”, que mantém os controles de segurança ativos (tração e ABS), e proporciona uma resposta “standard” do acelerador. Mesmo mais potente, o tricilíndrico manteve bom torque em médios regimes: a partir de 2.000 giros a resposta é quase instantânea.
Para minha surpresa, os espelhos retrovisores fixados na ponta do guidão (outro diferencial da versão RS) não atrapalharam para circular no corredor entre os carros na Marginal.
Na estrada
Assim que deixamos o asfalto ruim da Marginal Tietê, troquei para o modo “sport”. A resposta do acelerador ainda se mostrou bastante progressiva, mas o motor cresce de giros mais rapidamente e era hora de avaliar o quickshifter, outro item de série na versão RS. O sistema permite subir as marchas no câmbio de seis velocidades sem o uso da embreagem – segundo a Triumph, as trocas são 2,5 vezes mais rápidas do que se fossem feitas de forma tradicional, com o uso da embreagem.
Mas é acima dos 8.000 rpm que o tricilíndrico mostra seu potencial esportivo. Tem-se a impressão de que há dois estágios na alimentação, tamanho é o “soco” no estômago – mas, na verdade, o corpo de aceleração é simples. Foi preciso atenção para se manter no limite de 120 km/h da rodovia. Mesmo em velocidade mais altas a Street Triple RS manteve-se estável e o único incômodo é o vento, pois se trata de uma naked com pouca proteção aerodinâmica.
Pelas curvas
Como a proposta era avaliar a nova naked, o caminho para Campos do Jordão foi mais longo do que o tradicional. Ao invés de seguirmos direto para a estância climática, subimos a Serra da Mantiqueira com direção à Monteiro Lobato (SP). Foi então que a Street Triple RS me surpreendeu.
Leve, ágil e com uma ciclística impecável, a naked inglesa parecia não ter limites para deitar nas curvas fechadas da estradinha secundária. Bastava projetar o corpo a frente, fazer o contra-esterço e inclinar a moto: a Street Triple seguia com confiança pela trajetória escolhida, ajudada pela boa aderência dos pneus de rua, mas feitos para a pista. Não era preciso nem mesmo reduzir uma marcha, pois o motor tinha torque para retomadas.
Foram quase 100 km de curvas (e diversão) entre São José dos Campos, passando por Monteiro Lobato, Santo Antônio do Pinhal até chegar a Campos. O comportamento dinâmico da Street Triple RS nos trechos sinuosos me deixou com vontade de pilotar a naked em uma pista.
Claro que nem tudo são flores. As pedaleiras recuadas e o banco estreito facilitam o posicionamento para pilotar esportivamente, mas, por outro lado, cansaram as pernas após o trajeto de pouco mais de 200 km. A Street Triple é uma naked e, em velocidades mais altas, o vento cansa o pescoço.
Brinquedo caro
Após quase 400 km com a nova Street Triple posso afirmar que a naked inglesa, que já era sucesso de vendas com mais de 50.000 unidades comercializadas no Brasil e no mundo desde seu lançamento em 2009, ficou ainda melhor. O motor está mais forte e com uma alimentação impecável. Os controles eletrônicos, fornecidos pela Continental, funcionam muito bem. E ela manteve seu caráter versátil: pode ser uma companheira para o dia-a-dia ou para viagens curtas e, de quebra, permite que os mais radicais se divirtam em uma pista.
Principalmente nessa versão topo de linha, RS, equipada com o que há de melhor em termos de freios e suspensões. Não fosse pela ausência de carenagens poderia muito bem ser uma moto esportiva.
Mas, por outro lado, a Street Triple RS é um brinquedo caro. Vendida por R$ 48.990 – com as opções de cores cinza fosco e preto – é a mais cara da categoria. A Ducati Monster 821 tem 112 cavalos, bastante eletrônica e custa R$ 46.990. Outras concorrentes serão a Yamaha MT-09 que, no exterior, recebeu novo visual, além de mais potência no motor e controles eletrônicos; e a nova Kawasaki Z 900 – porém ambas ainda não chegaram ao Brasil.
Por isso mesmo, a Triumph vai comercializar também a versão “S”, de entrada, por R$ 38.990. Com motor de 113 cv, somente dois modos de pilotagem, freios e suspensões inferiores, painel e acabamento convencionais, a Street Triple S pode ser uma boa opção para quem quer apenas uma naked para o uso urbano e viagens mais curtas.
Ficha Técnica - Triumph Street Triple RS
Motor Três cilindros em linha, 12 válvulas, DOHC e arrefecimento líquido
Capacidade cúbica 765 cm³
Potência máxima (declarada) 123 cv a 11.700 rpm
Torque máximo (declarado) 7,85 kgf.m a 10.800 rpm
Câmbio Seis marchas
Transmissão final corrente
Alimentação Injeção eletrônica
Partida Elétrica
Quadro Dupla viga de alumínio e sub quadro traseiro com duas peças fundidas sob alta pressão
Suspensão dianteira Garfos invertidos de 41 mm de diâmetro Showa BPF, totalmente ajustáveis, com 115 mm de curso
Suspensão traseira Monoamortecedor Öhlins STX40, com ajuste de compressão e retorno e curso de 131 mm
Freio dianteiro Disco duplo de 310 mm de diâmetro com pinça monobloco Brembo M50 (ABS)
Freio traseiro Disco simples de 220 mm de diâmetro com pinça deslizante Brembo (ABS)
Pneus 120/70-17 (diant.)/ 180/55-17 (tras.) Pirelli Diablo Supercorsa SP
Comprimento 2.065 mm
Largura do guidão 735 mm
Altura (sem espelhos) 1.085 mm
Distância entre-eixos 1.410 mm
Distância do solo Não disponível
Altura do assento 825 mm
Peso a seco 166 kg
Tanque de combustível 17,4 litros
Cores Cinza fosco e Preta
Preço sugerido R$ 48.990,00