A Fenabrave, federação dos distribuidores de veículos, projeta cenário instável para as vendas em 2014. Diante das incertezas acerca da economia, a entidade traçou duas expectativas para o mercado interno este ano. A primeira, mais otimista, indica desempenho praticamente estável na comparação com 2013, com emplacamento de 3,77 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, leve expansão de 0,3%. O segundo cenário sinaliza a possibilidade de que as vendas sofram contração de 3,2%, para 3,64 milhões de unidades. Com 3,76 milhões de licenciamentos, 2013 terminou com queda de 0,9% nas vendas.
Tereza Maria Dias, diretora da MB Associados e responsável pelas projeções da Fenabrave, enfatiza que é difícil arriscar apenas um palpite para o desempenho do setor. “Este será um ano atípico. Temos o carnaval em março, Copa e eleições”, lembra. A economista aponta que, se o Brasil chegar à final do campeonato de futebol, o ano poderá ter até sete dias úteis a menos. “Isso sem levar em conta o impacto dos outros jogos nos negócios em cada uma das cidades sede.”
Há outros fatores capazes de frear as vendas de veículos, como o endividamento das famílias, que está em torno de 65%, a maior seletividade para a liberação de crédito, e a inflação em alta, que reduz a capacidade de compra do consumidor. “Também não esperamos grande evolução do PIB, que deve crescer em torno de 2% em 2014”, estima Tereza. Segundo ela, a principal incerteza para definir os rumos da economia é o câmbio volátil. “Esta é a variável mais importante para 2014”, acredita.
Apesar das dúvidas, a Fenabrave indica alguns fatores positivos que poderão estimular as vendas. A prorrogação do IPI reduzido é uma delas. O tributo, que deveria voltar a ser recolhido integralmente no início deste ano, deve continuar com desconto até 30 de junho. Alarico Assumpção, diretor-executivo da entidade, comemora ainda a prorrogação das condições de financiamento pelo Finame/PSI, com taxa de juros de 6% ao ano. “Temos também a queda da inadimplência, que tinha atingido patamares mais altos com uma safra de crédito com prazos mais longos e sem entrada concedida logo após a crise financeira de 2008”, explica.
O executivo avalia como positiva também a obrigatoriedade de os veículos vendidos no Brasil serem equipados com airbags e freios ABS. Segundo ele, estes equipamentos são importantes para a segurança e não têm impacto grande no preço. “As montadoras estimam que estes itens custem por volta de R$ 1,5 mil. Seria cerca de 5% do preço de um carro de entrada. Se pensarmos em um financiamento de 36 meses, o consumidor pagaria em torno de R$ 42 por mês para ter os dispositivos”, calcula Assumpção.
O executivo não demostra grande preocupação com a provável retração do mercado interno em 2014. “Se isso acontecer, será sobre uma base muito forte.” Ele lembra que as vendas de caminhões devem continuar em alta com a expectativa de uma nova grande safra agrícola. A Fenabrave aponta que podem ser vendidas no País até 165,6 mil unidades, com alta de até 6,4% sobre o resultado de 2013.
Tereza, da MB Associados, defende que era insustentável que as vendas de veículos mantivessem o mesmo ritmo de expansão no Brasil. “No caso de automóveis e comerciais leves a média de crescimento foi de 10% ao ano nos últimos 10 anos.” Segundo ela, esse ritmo ficará menor, mas, no longo prazo, o crescimento não sofrerá interrupção. “Esperamos evolução média de 3% ao ano nos próximos 10 anos para modelos leves. Com isso, o mercado nacional dobrará de tamanho nesse período”, estima.