Após desglobalizar, em 2007, o Ka produzido em São Bernardo do Campo desde 1997, a Ford decidiu começar (e tentar) de novo. O compacto volta a ser global, mas desta vez projetado pelo centro de engenharia da empresa no Brasil, instalado na fábrica de Camaçari (BA), onde a nova geração do Ka será produzida a partir do primeiro semestre de 2014, conforme antecipado por Automotive Business.
A renovação do Ka é parte do programa de investimento de R$ 4,5 bilhões que a companhia executa no País de 2011 a 2015, sendo R$ 2,8 bilhões só para a planta baiana, que teve a capacidade expandida para mais de 300 mil unidades/ano. O carro também será fabricado e vendido em outros países, que a Ford ainda não divulga. Portanto, é o segundo modelo global desenvolvido dentro da operação brasileira da companhia, depois do novo EcoSport lançado em 2012.
As formas externas finais do novo Ka foram apresentadas ao público, ainda como conceito, na quarta-feira, 13, na planta baiana onde foram desenhadas, em projeto que envolveu a participação de 1,1 mil pessoas em 11 estúdios de design liderados pela Ford América do Sul. A apresentação oficial foi feita em evento para revelar o carro que reuniu autoridades e os principais executivos globais e regionais da Ford, incluindo o ministro do Planejamento, Fernando Pimentel, e William Clay Ford Jr., mais conhecido como Bill Ford, presidente do conselho da companhia e bisneto do fundador Henry Ford.
“O Brasil é parte importante de nosso crescimento e estamos comprometidos em fazer produtos globais aqui”, disse Bill Ford a um grupo de jornalistas após a cerimônia oficial em que o novo Ka foi revelado. Interessante notar que a última vez que ele esteve no País, em 1997, também foi na Bahia, mas em Comandatuba, e também para o lançamento do Ka – no caso, a primeira geração que foi produzida na fábrica do ABC paulista, quando ainda nem se pensava em instalar uma planta de automóveis em solo baiano. Desta vez, Bill espera trazer mais sorte para o Ka: “É o segundo modelo global projetado no Brasil depois do EcoSport. Fabricar aqui um novo carro é sinal de que o melhor ainda está por vir”, disse em seu discurso aos empregados.
Globalização à Baiana
“Camaçari tornou-se estratégica para nosso plano One Ford e o novo Ka é um exemplo do que de melhor pode ser feito no Brasil”, disse Joe Hinrichs, presidente da divisão Américas da companhia. Segundo ele, o desenvolvimento e a produção do novo Ka no País faz parte da estratégia da Ford em globalizar todos os seus modelos vendidos ao redor do mundo. “Todos os nossos produtos são globais e aqui não poderia ser diferente, até porque o interesse do público está convergindo para os mesmos padrões com a internet mostrando tudo a todos no mundo”, avalia.
Em 2012, a Ford anunciou que todos os seus carros produzidos no País e vendidos no mercado brasileiro seriam globalizados até 2015. Desde então, já foram renovados (e globalizados) EcoSport, Ranger, New Fiesta e Focus. Só faltava o Ka para fechar esse ciclo. Em 2014, provavelmente até junho, começam as vendas da versão hatch, desta vez com quatro portas, espaço para até cinco passageiros e aparência mais robusta, com identidade visual internacional da marca expressada na grade frontal trapezoidal e nas linhas cinéticas. Até o início de 2015 deve ser iniciada a produção do sedã.
A Ford ainda não confirma nenhum detalhe técnico, mas já se sabe que a nova geração do Ka produzida em Camaçari usará o motor 1.0 de três cilindros que será produzido bem ao lado, dentro do mesmo complexo, na nova fábrica de motores a ser inaugurada ainda no primeiro semestre de 2014. Também haverá opções com motor 1.5, o mesmo feito em Taubaté (SP) que já equipa versões do New Fiesta, conforme antecipou Automotive Business (leia aqui).
Hinrichs explica que alguns fatores combinados levaram a Ford a endereçar no Brasil o desenvolvimento do novo Ka: “Primeiro, o carro é produzido sobre a mesma plataforma do EcoSport, que foi desenvolvida em Camaçari. Segundo, havia capacidade para receber o projeto. E terceiro, a engenharia brasileira tem grande competência em projetar esse tipo de veículo.” De acordo com o executivo, os planos para o centro brasileiro de desenvolvimento não param por aí. “Não vou contar nossos segredos, mas posso dizer que nossa intenção é utilizar a todo vapor a capacidade de desenvolvimento que temos aqui, até porque hoje temos mais projetos do que lugares suficientes para levá-los adiante”, afirmou.
Mercado em crescimento
Os executivos da Ford avaliam que o novo Ka trará aumento de participação da montadora no mercado brasileiro. Para isso, a promessa é entregar no compacto mais tecnologia do que a normalmente encontrada em carros desse segmento, o mais povoado e movimentado do País. “É o segmento com maior crescimento no mundo, cerca de 35% entre 2012 e 2017, quando se espera vender 6,2 milhões de unidades globalmente. E no Brasil os hatches compactos B representam 40% do mercado, com mais de 30 modelos na disputa. Portanto, é preciso ser muito criativo para competir aqui”, avalia Oswaldo Ramos, gerente de marketing da Ford Brasil.
Ramos garante que o novo Ka chegará ao mercado com tecnologia completa de conectividade, motores econômicos e altos níveis de segurança passiva e ativa. Ainda assim, o carro continuará a ficar posicionado em preço abaixo do New Fiesta, para competir com os 1.0 mais vendidos do mercado, como Volkswagen Gol, Fiat Palio, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix.
Para Hinrichs, a Ford está à frente da concorrência diante das exigências de eficiência energética e tecnologia trazidas pelo regime automotivo, o Inovar-Auto. “O Brasil passa por grandes mudanças, mas como nós decidimos antes globalizar todo o portfólio aqui até 2015, temos uma vantagem, estamos quase lá para atender todas as exigências da legislação. Teremos mais tecnologia, mais segurança e mais economia. Ficaremos à frente de alguns de nossos concorrentes que ainda têm carros obsoletos”, avisa.
“É um momento bastante interessante em termos de desenvolvimento para a indústria automotiva e nossos produtos já estão em um nível bastante alto”, avalia Bill Ford. Para ele, todas as novas tecnologias não deverão elevar muito o preço dos veículos. “Meu bisavô (Henry Ford) acreditava que os carros deveriam ser acessíveis para a classe média. A Ford continua acreditando nisso”, finalizou.