No final de 2012, a decisão da União Europeia de tornar obrigatório os freios ABS nas motos acima de 125cc causou um alvoroço no segmento de duas rodas, mesmo do outro lado do oceano. A repercussão aqui no Brasil fez com que o deputado federal Adrian Mussi Ramos (PMDB/RJ) entrasse com o Projeto de Lei 6273/13. No texto, o parlamentar exige que todas as motos – não existe menção a uma faixa de cilindrada – saiam de fábrica já com os freios antitravamento instalados.
“O projeto de lei em tela é uma exigência que, na prática, se traduz em melhoria social para todos, pois a utilização de freios ABS nas motocicletas, embora possa tornar os referidos veículos um pouco mais caros, será importante para a segurança dos pilotos e dos pedestres, com a consequente redução de acidentes”, justifica o deputado no texto da proposta.
A matéria se apoia em dados do Ministério da Saúde, como o aumento 270% nos acidentes com motocicletas e afirma ainda que um acidentado grave pode custar até R$ 200 mil ao SUS (Sistema Único de Saúde). Entretanto, seria o ABS realmente a solução para a diminuição das ocorrências com motos? Para ajudar a responder essa pergunta, Alfredo Guedes Jr, engenheiro da Honda, apresentou um workshop sobre os tipos de freios para motocicletas durante o Salão Duas Rodas 2013, que aconteceu entre os dias 8 e 13 de outubro, em São Paulo (SP) e mostrou que não é apenas uma tecnologia que irá reduzir esta estatística.
Treinamento falho
Na palestra, o engenheiro ressaltou que a presença do sistema ABS na moto pode ser pouco significativa quando o piloto não é treinado para utilizar os freios de maneira adequada durante seu curso na moto-escola. “Durante o processo de habilitação, o usuário é equivocadamente orientado a usar apenas o freio traseiro. Quando, na verdade, deveria ser orientado a usar os dois simultaneamente”, disse ele, no início da apresentação.
Acompanhando a explicação, Alfredo Guedes mostrou um infográfico no qual é possível ver três motociclistas nas mesmas condições: a uma velocidade de 50 km/h em pista seca. Enquanto o piloto que aciona ambos os freios ao mesmo tempo consegue realizar a frenagem em 18 metros, o que utiliza apenas o dianteiro leva 24 metros para parar completamente e, por fim, aquele que freia apenas a roda traseira da moto, orientação comum das moto-escolas, consegue parar a motocicleta após 35 metros.
Na região Nordeste, por exemplo, é comum encontrar motociclistas que chegam a remover o freio dianteiro das motos, “Eles tem um mito muito forte em relação a não usar o freio dianteiro. Tiram o manete, cabo, tiram tudo.” comenta o engenheiro da Honda, frisando que alguns motociclistas da região acreditam que ao acionar apenas o freio dianteiro serão arremessados da moto. O aprendizado equivocado é confirmado por números computados pela Abraciclo, associação que reúne os fabricantes de motos.
De acordo com a entidade, nas 16 edições do MotoCheck-Up, evento de conscientização para motociclistas, que também realiza revisões nas motocicletas, 44,1% das 29 mil motos avaliadas apresentavam defeitos no freio traseiro por conta do uso excessivo e da falta de manutenção preventiva.
Freios combinados
Durante o workshop, o engenheiro da Honda também falou sobre os freios combinados, que estão presentes nos scooters Lead 110 e PCX 150. Em suma, o sistema faz com que a força da frenagem seja distribuída em ambas as rodas, quando o motociclista aciona o manete traseiro. “O sistema Combined existe para nunca deixar a roda traseira travar sozinha”, explicou Alfredo Guedes Junior.
Segundo ele, o sistema que divide a força da frenagem é mais amigável aos motociclistas novatos que o ABS e a marca não descarta incorporá-lo em outros modelos de baixa cilindrada além dos scooters. “Isso está em estudo. A ideia é que as motos de entrada já saiam de fábrica com o sistema Combined incorporado e as de alta cilindrada com o C-ABS”. Este último, mescla as tecnologias de frenagem combinada e antitravamento.
Em 2008, a Honda CBR 1000RR foi a primeira superesportiva a adotar os freios Combined ABS. No mês de julho desse mesmo ano, a naked CB 600F Hornet foi outro modelo que passou a contar com uma versão equipada com o sistema, disponível junto com a standard. Hoje, o C-ABS está presente também como opcional em modelos de baixa capacidade cúbica da marca japonesa, como a CB 300R e a XRE 300. Tanto a Hornet como as duas motos de 300cc são produzidas no Brasil.