Não é de hoje que diversas empresas estudam uma forma de reduzir a pegada ambiental de seus produtos. Principalmente na área automotiva. Por isso, combustíveis alternativos e novos métodos de produção vêm sendo testados para tornar os meios de transporte cada vez mais “verdes”. Sendo assim, o scooter elétrico Be.e, produzido pela Van.Eko, chega ao mundo para levar esse conceito a outro patamar, já que é produzido com o composto resultante das fibras do cânhamo. Isso mesmo: cânhamo. O caule da famigerada maconha é a matéria prima para a construção deste scooter experimental, que surge como alternativa para o transporte individual em trechos urbanos.
A Van.Eko é uma start-up capitaneada pela Universidade de Ciências Aplicadas Inholland, da Holanda (alguém surpreso?). Criada para comercializar o scooter desenvolvido pela Universidade, a empresa está agora angariando fundos para que o Be.e possa chegar ao consumidor. Ao todo, o projeto envolveu 56 estudantes e onze professores, além de outros vinte colaboradores, que se esforçaram para que o veículo feito com materiais biocompostos se tornasse realidade. O Be.e é um veículo idealizado para trajetos curtos, como o percurso diário entre trabalho e residência, por exemplo.
No design, feito pela agência Waarmaker, o Be.e prima pela funcionalidade. O corpo, produzido em uma única peça, recebeu um assento simples, integrado com uma alça traseira e que também traz as lanternas, na forma de dois conjuntos circulares. Na parte dianteira, o farol parafusado acima do paralama cria um aspecto de trabalho artesanal, reforçado pelo parabrisa fixado diretamente ao guidão. Para deixá-lo mais estiloso, a Van.Eko ainda apostou em prender a roda traseira por meio de um monobraço.
Mas, por que o cânhamo?
A relação dos holandeses com a cannabis e seus derivados já é conhecida no mundo todo. Entretanto, o uso do cânhamo como matéria prima se mostrou viável devido a estudos realizados pela Inholland. Nos últimos dois anos, os testes conduzidos pela universidade foram capazes de provar que a fibra derivada da planta se mostrou durável o suficiente para ser utilizada na construção de um scooter.
Outro argumento dado pela fabricante é que produtos feitos com compostos de origem vegetal ainda podem virar biomassa após o seu descarte e serem queimados para gerar energia. Por mais que a ideia de queimar algo feito de cânhamo possa ser associada a problemas com as autoridades – mesmo na Holanda –, a Van.Eko argumenta que esta particularidade faz do Be.e o scooter mais sustentável do mundo. Para manter essa proposta, a start-up holandesa também optou por equipá-lo com um motor elétrico, embora não tenha divulgado suas especificações técnicas.
A grande sacada do Be.e, todavia, é a sua estrutura. Segundo sua fabricante, enquanto o corpo completo de uma moto ou scooter é composto, em geral, por mais de cem peças, incluindo quadro feito em metal e cerca de quinze a vinte painéis plásticos, o scooter ecológico adota a arquitetura “monocoque”. Esta, por sua vez, consiste em um corpo moldado em uma só peça e descarta o processo de montagem. Isso também fez com que o scooter, em sua forma final, ficasse leve, ágil e ocupasse pouco espaço quando estacionado ou mesmo no trânsito.
Compartilhamento controlado
A forma na qual a Van.Eko pretende disponibilizar o Be.e para o consumidor final é tão inovadora quanto seu conceito. Segundo a fabricante, o programa Be.eSharing consiste em alugar o veículo – mediante uma taxa mensal – para uso pessoal dos consumidores de primeiro nível, chamados pela empresa de Be.eKeepers. Estes, por sua vez, poderão subalugar seu Be.e para outras pessoas interessadas em pilotá-lo, os WannaBe.e’s. A Van.Eko irá disponibilizar um cadastro online no qual os WannaBe’s possam encontrar o Be.eKeeper mais próximo de sua residência para agendar a retirada do scooter. Atualmente, a empresa trabalha na plataforma web e está definindo os valores das taxas.
Por mais que o esquema pareça confuso, pelo menos nesse primeiro momento, a Vane.Eko tem seus motivos para preferir que as coisas sejam feitas assim. Segundo a empresa, essa forma de operação lhe confere controle total e permite que na hora de encerrar o ciclo de operação de cada unidade, seus componentes sejam processados, reciclados e descartados de uma maneira sustentável. Justo. Se você também produzisse um scooter utilizando maconha como matéria prima, também procuraria evitar o risco de alguém queimá-lo até a última ponta sem nenhum critério, certo?
Madeira também pode
Utilizar materiais que fujam do lugar comum do plástico e do aço nem sempre significa revolucionar a indústria. Às vezes isso pode ser feito apenas por diversão. Foi o caso do carpinteiro português Carlos Alberto e de sua criação, a Vespa Daniela. Batizada em homenagem à filha de Alberto, a moto é totalmente feita em madeira e inspirada em uma Vespa VN1 de 1951. No entanto, o scooter não foi a primeira motocicleta de madeira feita pelo português. Em 2001, Carlos Alberto já havia criado uma custom com motor monocilíndrico no mesmo material. “Tudo começou por uma reportagem de um carpinteiro italiano que construía bicicletas em madeira. O tempo foi passando e no ano de 2000 tornei-me sócio do Moto Clube de Paços de Ferreira e estando ligado ao mundo das motas pensei ‘porque não fazer uma fazer uma mota em madeira?’”, comenta o carpinteiro no perfil oficial da Vespa Daniela no Facebook.
Carlos Alberto conta ainda que a ideia de construir uma Vespa de madeira veio por acaso. “O nascimento da Vespa começou quando um amigo meu presidente de um Vespa Clube de Freamunde e dono de uma drogaria onde eu ia comprar materiais e derivados perguntava-me quando é que eu começava a construir a próxima mota de madeira, eu respondia-lhe ‘qualquer dia’ e ele então dizia que a próxima tinha de ser uma Vespa”, revela. O scooter começou a ser construído em outubro de 2007 e foi terminado em julho do ano seguinte.