Se tudo ocorrer conforme anunciado, o Brasil verá aumentar de 18 para 25 o número de fábricas de automóveis e comerciais leves entre 2013 e 2015. Também até 2015 passará de oito para 15 o número de fábricas de caminhões – incluindo a transferência da unidade da Navistar International, que saiu Caxias do Sul e desceu a Serra Gaúcha para Canoas, onde começa a funcionar em maio.
O montante de investimentos anunciados só em novas fábricas de veículos, antes mesmo das definições do Inovar-Auto, soma R$ 15 bilhões até 2015. A principal mudança é que, depois do anúncio das medidas do regime automotivo, muitos tiveram de repensar a operação, pois o que antes seriam operações de montagem de componentes importados agora deverão ser fábricas completas, com grande conteúdo de peças nacionais.
Hoje no Brasil há nove fábricas novas (a maioria ainda em construção) que vão fazer automóveis e comerciais leves. Dessas já estão prontas as unidades da Hyundai em Piracicaba e da Toyota em Sorocaba, que entraram em operação no ano passado. Essas fábricas somam cerca de R$ 12 bilhões em investimentos e, até 2014, quando estiverem todas operando, vão acrescentar ao País mais 1 milhão de veículos por ano em capacidade instalada de produção.
Oito novas fábricas de caminhões e ônibus no País até 2015, com investimentos de R$ 3 bilhões, acrescentarão 80 mil veículos por ano à capacidade de produção nacional.
No meio desses investimentos todos, o País ganha cinco novas fábricas de motores ligadas às montadoras, que entram em operação entre este ano e 2015. Assim, saltará de 13 para 18 o número de linhas de produção de propulsores, incluindo os ciclos otto e diesel. Uma delas, a da Chery, foi anunciada em 1º de abril, durante o painel de "Novos Empreendimentos" do IV Fórum da Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business em 1° de abril no WTC, em São Paulo. O CEO e vice-presidente comercial da Chery Brasil, Luis Curi, informou que a montadora aprovou investimento no País de uma fábrica da Acteco, divisão de motores da empresa chinesa. “Estou indo à China para definir isso, pois será feito a toque de caixa”, disse Curi.
Em relação à fábrica de Jacareí (SP), Curi informou que terá duas plataformas: a do Celer nas configurações hatch e sedã e um subcompacto. “A Chery já estava voltada a nacionalizar o Celer o máximo possível para o mercado do Brasil e da América Latina para dar fôlego de exportações à China, fazendo com que a unidade brasileira fosse o mais independente possível, inclusive em compras”, disse. Segundo ele, um centro de desenvolvimento estava previsto para o País, mas agora a prioridade é a fábrica de motores.
Para a produção em Jacareí, Curi informou que a Chery convidou sete empresas chinesas para ser fornecedoras, mas não sabe se todas vêm. “A maioria deve acompanhar a Chery, que é uma estatal.” Ele disse que, no ano passado, a montadora realizou um encontro em São Paulo, com apoio do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), reunindo mais de 300 empresas.
“Começamos a cadastrá-las, algumas já estão homologadas e agora é a fase da precificação para ver se cabem dentro do orçamento predeterminado. Já são 14 empresas pequenas nacionais homologadas pela Chery. Facilitou bastante o fato de a Chery ter sistemistas na China com unidades no Brasil. A maioria delas será fornecedora aqui.”
Caminhões
Quem também está investindo em nova fábrica é a Paccar. São US$ 200 milhões em uma unidade em Ponta Grossa (PR), para fazer até 10 mil caminhões da marca DAF por ano. Outros US$ 120 milhões serão empregados no desenvolvimento de rede de concessionários, fornecedores e engenharia. No total, a DAF deverá ter mais de 100 concessionárias, o que representará investimento da ordem de US$ 300 milhões. “Vamos iniciar a produção em setembro. Não podemos entrar no Brasil sem distribuição profissional”, afirmou Marco Antonio Davila, presidente da DAF Caminhões.
Ele acrescentou que a marca foi aprovada no Inovar-Auto e pode trazer em veículos o equivalente a 50% de sua capacidade de produção. “Mas achamos que vamos importar quantidade pequena, apenas para demonstração. Não vamos importar nenhum modelo que não será produzido no Brasil. Será apenas o extrapesado XF.”
Sobre os fornecedores, Davila disse que a DAF, quando chegou ao Brasil, pôde desenvolver fornecedores que já são parceiros da marca em outras partes do mundo. “Mas também temos de desenvolver fornecedores locais, como a Usiminas, por exemplo (para executar a soldagem e pintura das cabines dos caminhões). O processo é de adaptação. Vamos começar com 50 ou 60 fornecedores em setembro, quando começamos a produzir.”
Fiat
O diretor de desenvolvimento da Fiat Automóveis, Antonio Damião, explicou que o processo de desenvolvimento da fábrica de Goiana (PE) começou antes das definições do regime automotivo. “Lá será construído um centro de pesquisa e desenvolvimento. Produtos novos vão nascer lá dentro do conceito do Inovar-Auto e os fornecedores estão alinhados. O difícil é fazer a fábrica, fazer um produto novo dentro de uma área a ser desbravada, e não atender ao regime automotivo”, avaliou.
“Escolhemos 14 fornecedores estratégicos para nos acompanhar em Goiana, principalmente os de peças maiores ou que tenham transporte complexo”, explicou Damião. Segundo ele, esses 14 fornecedores que estão dentro do polo da Fiat não poderão fornecer para outros fabricantes.
Novo carro e nova fábrica
O vice-presidente industrial da JAC Motors, Tarcício Telles, disse que a montadora chinesa interrompeu os investimentos por alguns meses antes da divulgação do Inovar-Auto, no período de incertezas, mas agora tudo corre dentro do prazo. “Temos oportunidade única na indústria automobilística em que estamos construindo um carro para uma fábrica e uma fábrica para um carro.” Ele explicou que todos os processos produtivos, como estamparia e pintura, estarão instalados na fábrica e o parque de fornecedores fica próximo à unidade.
Além de automóveis, a JAC vai produzir caminhões leves. “Não dá para aproveitar todos os processos produtivos para carros e caminhões, mas a pintura vai ser comum, o que vai reduzir custos.” Telles está satisfeito com a base de fornecedores de Camaçari (BA) e disse que o governo do Estado dá apoio muito forte. “Os fornecedores já existentes da Ford têm interesse em se tornar fornecedores nossos também. Há empresas que acreditam muito no crescimento da marca e querem participar do projeto desde o início.”
“Fornecedores que se instalam no nosso parque também podem fornecer para outros clientes, contanto que entreguem com qualidade e no prazo”, ressaltou. Segundo Telles, o primeiro carro da JAC Motors a ser feito no Brasil sairá da linha de produção no fim de 2014 ou início de 2015.