A associação dos concessionários, Fenabrave, projeta em não mais de 3,5% o crescimento do mercado brasileiro de veículos em 2013 na comparação com 2012, para o total de 3,9 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus emplacados este ano.
A previsão foi divulgada na quinta-feira, 3, pelo presidente da entidade, Flávio Meneghetti. Ao contrário do que ocorria em anos anteriores, o desempenho projetado pelos revendedores é mais pessimista do que a estimativa dos fabricantes associados à Anfavea, que esperam avanço de 3,5% até 4,5% (leia aqui), mas também pode ser visto como otimista, dadas as condições adversas que despontam para o ano novo, em especial o aumento dos preços causado pelo fim gradativo dos descontos de IPI, além do crédito restrito pela inadimplência ainda alta.
Para a Fenabrave, o mercado de veículos leves deve fechar 2013 com avanço de 3%, sendo 3,5% para carros de passageiros e apenas 1% para utilitários, somando 3,74 milhões de unidades emplacadas no ano. Essa projeção, segundo Meneghetti, está lastreada na confiança de continuação dos níveis de pleno emprego no País e expansão da renda média da população, calculada em pouco mais de 6% pela consultoria MB Associados.
“Os primeiros três meses do ano serão difíceis, com consumidores em férias, aumento de gastos e dos preços dos carros. O cenário não é róseo, mas com pleno emprego e crescimento da renda o mercado de veículos pode crescer no mesmo ritmo do PIB, estimado em torno de 3%”, avalia Meneghetti.
O dirigente não espera por novos descontos de IPI em 2013. “Fica difícil, o governo já anunciou que o imposto volta ao normal gradativamente até julho. Não existe clima político nem financeiro para novos incentivos”, disse, lembrando que Estados e municípios já reclamam do repasse que perderam com o corte.
Caminhões e ônibus
No caso das vendas de caminhões, a projeção da Fenabrave para 2013 é de crescimento de 16% sobre 2012, para 159,7 mil unidades, próximo ao resultado de 2010 (157,4 mil), mas ainda distante do recorde de 2011 (172,6 mil).
“Houve em 2011 crescimento atípico do mercado de caminhões, provocado pela mudança da legislação de emissões no ano seguinte (que tornou os veículos mais caros), com muitas antecipações de compra. Pelo mesmo motivo, aliado ao ritmo mais lento da economia, houve queda atípica das vendas em 2012. Agora os negócios devem voltar ao ritmo normal”, analisa Meneghetti. Ele destaca também que os financiamentos do BNDES para o setor continuam muito atrativos, com juros reais negativos, abaixo da inflação.
No mercado de ônibus, que em 2012 sofreu menos com a evolução da legislação de emissões, a Fenabrave estima crescimento de 4,1% nas vendas em 2013, para 30,9 mil unidades emplacadas.
Impacto do IPI
O presidente da Fenabrave diz que, com o fim gradativo do desconto de IPI para veículos leves, o impacto imediato sobre os preços finais deve girar de 3% a 4%, dependendo do modelo. “Ainda estamos recebendo as novas tabelas das montadoras, por isso ainda não temos esse valor com precisão”, explica.
Meneghetti destaca, no entanto, que esse aumento poderá ser, em grande medida, compensado pela queda expressiva dos juros no decorrer de 2012. “Ainda estamos fazendo esse cálculo, mas o acréscimo nas prestações de um financiamento deve ser muito pequeno”, diz, lembrando que em maio, quando o governo anunciou os cortes de IPI dos automóveis, o impacto nos preços foi de 6% a 8%, o que somado aos descontos dos fabricantes e às taxas menores, na época reduziu o valor das parcelas em torno de 14%.
O dirigente também recorda que o aumento médio de preços dos veículos foi inferior à inflação nos últimos dois anos. A economista Tereza Fernandez, diretora da MB Associados, acrescenta que, descontada a inflação de 2012, o aumento real dos carros pode ficar muito próximo de zero. “Claro que deve haver elevação no valor nominal agora, mas pode ser ainda abaixo da inflação”, ela calcula.
Inadimplência e crédito
O cenário do crédito para aquisição de veículos deve continuar restritivo em 2013, porque a alta da inadimplência tornou os bancos mais seletivos na aprovação dos financiamentos, o que acaba anulando os juros mais baixos praticados na história do País. “O total de contratos inadimplentes (em todas as modalidades) já atinge R$ 44 bilhões e mais de 20% da renda das famílias estão comprometidos, o que torna difícil a expansão do crédito”, avalia Tereza Fernandez.
A inadimplência dos financiamentos de veículos, que passou de 6% em 2012, começou a recuar e chega ao fim do ano menor, 5,9%, mas ainda assim muito alta, o dobro do nível confortável de 3% verificado até o fim de 2010. “A inadimplência demora teimosamente a ceder e por isso os bancos vão continuar a restringir o crédito”, avalia Meneghetti. “Ainda vai levar algum tempo para limpar das carteiras os contratos inadimplentes, a maioria com prazos de 60 meses”, lembra.
Para Tereza Fernandez, a taxa de inadimplência dos financiamentos de automóveis deve continuar a recuar lentamente em 2013, para 5% ou 4,9% até o fim do ano. Meneghetti destaca que a Febraban, a federação dos bancos, em 2012 havia calculado em cerca de 18 meses o prazo para limpar as carteiras. “Por isso espero que antes do fim de 2013 o ritmo de concessões possa aumentar um pouco, mas não no mesmo ritmo de antes, com planos longos e sem entrada”, finaliza.