A estratégia é velha conhecida no mercado automotivo brasileiro: um carro global é produzido no Brasil ou Argentina com grande defasagem tecnológica em relação à geração produzida na Europa. Após alguns anos, o modelo recebe remodelações cosméticas e ganha o adjetivo “novo”. O atraso fica e as vendas seguem, sob o argumento de que as evoluções nos países desenvolvidos não cabem no bolso brasileiro. O Clio que começou a ser vendido nas concessionárias Renault na segunda-feira, 12, é mais um de muitos exemplos dessa estratégia amplamente aplicada pelas montadoras instaladas aqui. No caso da Renault do Brasil, o método tem se mostrado absolutamente acertado e eficaz, fazendo as vendas da marca nos últimos três anos crescer de três a quatro vezes acima da média da expansão do mercado – a expectativa deste ano é de 25%.
Duas gerações atrás do modelo europeu, por preço a partir de R$ 23.290, o Clio fabricado na Argentina e remodelado para o Mercosul é o carro popular mais barato do Brasil atualmente, que chega com a missão de fazer a participação da Renault nas vendas nacionais passar dos 7% em 2013 – no acumulado de 2012 essa fatia é de 6,7% e a marca está na quinta colocação. Com a mesma plataforma da versão anterior, mas dianteira e traseira redesenhadas, novo motor 1.0 mais econômico e algumas modificações no painel interno, a ambição da Renault é fazer o desempenho do Clio crescer 50% no próximo ano, passando à média de 2,5 mil a 3 mil/mês, o que pode fazer o modelo subir cinco ou seis posições no ranking (hoje, com 17.413 emplacamentos de janeiro a outubro, está em 34º).
“O Clio já foi responsável por 0,7 ponto porcentual do nosso market share e desceu para 0,5 ponto nesse período de transição. Com a renovação e o reposicionamento de preço, calculamos que essa participação deve passar de 1 ponto”, explica Gustavo Schmidt, vice-presidente comercial da Renault do Brasil. Como o executivo espera que não haverá queda de vendas dos outros modelos, o Clio remodelado ganhou potencial para aumentar o tamanho da fatia do bolo da marca francesa no mercado brasileiro.
Foco no custo
A Renault classifica o Clio como carro de entrada, o seu “pé-de-boi”, um hatch com motorização 1.0 situado na faixa de R$ 20 mil a R$ 30 mil, onde estão 20% das vendas do mercado brasileiro, algo como 640 mil carros/ano. “A renovação do nosso modelo popular vai nos trazer crescimento consistente”, aposta Frédéric Posez, diretor de marketing da Renault do Brasil, mostrando uma pesquisa que aponta o preço como fator mais importante de compra para 59% dos potenciais clientes desse segmento. Com porcentuais bem menores, vêm pela ordem consumo, conforto, aparência externa, garantia e nível de equipamentos. A Renault seguiu exatamente esses pesos e medidas para remodelar o Clio.
Justamente por isso a produção ou venda aqui do Clio 4 feito na Europa está fora de questão no momento. “Um carro como esse custaria de R$ 40 mil a R$ 50 mil aqui, não seria um popular e assim não cumpriria a missão de participar com um ponto porcentual de nosso market share”, explica Posez.
Para reduzir o preço do modelo vendido aqui, a Renault seguiu a mesma fórmula de todos os fabricantes no Brasil: tirou o que podia do carro. O Clio, que em 1999 foi o primeiro modelo no mercado brasileiro lançado com airbags frontais de série, sob o mote de que a Renault não abria mão da segurança, em 2013 se rendeu às tais forças de mercado: não terá o dispositivo nem como opcional. Da mesma forma, não há opção de freios com ABS. Segundo a Renault, o consumidor não paga por esses equipamentos – que serão obrigatórios em todos os veículos vendidos no Brasil só a partir de 2014.
Pelos preços básicos, nenhuma das três versões do Clio traz vidros com acionamento elétrico, direção assistida e muito menos ar-condicionado. Para compensar, a Renault informa que baixou em R$ 200 o preço de cada um dos dois opcionais: a direção hidráulica agora sai por R$ 1,1 mil e o ar-condicionado por R$ 2,5 mil.
Economia
O foco foi baixar ao máximo o custo de propriedade, explica Posez. É aqui, portanto, que surge a maior evolução do carro: o redesenhado e econômico motor 1.0. Foram feitas mudanças importantes: com 71 novas peças, como pistões e bicos injetores, a compressão foi aumentada de 10:1 para 12:1, houve redução de atrito e a potência subiu para 77 cv com gasolina e 80 cv com etanol. Algumas das alterações foram baseadas no motor 1.2 turbo usado pelo Clio europeu.
Como resultado dessa reengenharia, o Clio conquistou a nota máxima (A) de eficiência energética na avaliação do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBE), realizada pelo Inmetro em outubro passado. O consumo de gasolina de 15,8 km/l na estrada e de 14,3 km/l na cidade torna o modelo básico, sem ar-condicionado nem direção hidráulica, o mais econômico do País. Com etanol o desempenho é de 9,5 km/l e 10,7 km/l, respectivamente.
Na garantia de três anos, o plano de revisões programadas do Clio custa menos de R$ 1 por dia. Segundo a Renault, o cliente gastará R$ 851 nesse período. “É o valor mais barato do mercado popular”, afirma Posez.
O executivo também destacou as possibilidades de personalização de design do carro, com 288 derivações de adesivos e apliques, como faixas no exterior e texturas no painel interno. Para enfeitar o carro popular da Renault, os kits custam de R$ 299 a R$ 1.450. Na falta de poder aquisitivo para comprar maior evolução, ao menos dá para disfarçar o atraso.
Confira os preços do novo Clio:
- Authentique 1.0 16V Hi-Power (2 Portas): R$ 23.290
Pintura metálica: R$ 710 // Ar-condicionado: R$ 2.500
- Expression 1.0 16V Hi-Power (2 Portas): R$ 24.290
Pintura metálica: R$ 710 // Ar-condicionado: R$ 2.500
- Expression 1.0 16V Hi-Power (4 Portas): R$ 24.290
Pintura Metálica: R$ 710 // Ar-Condicionado: R$ 2.500 // Direção Hidráulica: R$ 1.100 // Direção Hidráulica + Ar-Condicionado: R$ 3.600