Na busca pela inovação e o incansável desejo da exclusividade, a Kawasaki apresentou no Salão de Milão de 2011, uma nova Versys, mas que em nada se parecia com a trail de 650cc vendida em todo o mundo. A marca verde resolveu pegar o quadro e o motor da Z1000, adicionou suspensões de longo curso, um tanque de 21 litros, um assento confortável e, voilà, estava pronta a Versys 1000 com motor de quatro cilindros e 1043 cm³.
Com essa atitude audaciosa, a Kawasaki se tornou a única fabricante no mundo a oferecer uma motocicleta “aventureira” com quatro cilindros em linha. No entanto, as aspas sobre a palavra aventureira se justificam ao primeiro olhar mais crítico. As rodas de liga-leve de 17 polegadas claramente mais bem preparadas para o asfalto e um sistema de freios ABS, que não pode ser desligado, dão pistas de uma motocicleta feita mais para as estradas pavimentas do que para uma aventura off-road.
“Acreditamos que 99% dos usuários deste tipo de moto não utilizam a moto na terra. As rodas da Versys são menores que as da BMW R 1200 GS e Yamaha Super Ténéré, assim, ela pode andar na terra batida, mas seu negócio é viajar no asfalto com grande conforto”, confirmou Affonso de Martino, gerente comercial da Kawasaki no Brasil, em junho deste ano, durante o lançamento nacional do modelo.
Propulsor de respeito
Não restam dúvidas de que o grande diferencial da Versys 1000 é seu propulsor. São quatro cilindros em linha com 1043 cm³ de capacidade, 16 válvulas, comando duplo no cabeçote (DOHC) e refrigeração líquida. Emprestado da naked Z1000, esse motor entrega 118 cavalos de potência máxima aos 9.000 rpm e 10,4 kgf.m de torque já nas 7.700 rpm. Números impressionantes para uma moto aventureira, porém condizentes com uma autêntica supermoto.
Mesmo posicionada no segmento “Adventure” no site da Kawasaki, a tocada urbana e rodoviária da Versys 1000 nos permite fazer algumas considerações nessa classificação da marca. Com seus 239 kg em ordem de marcha, a Versys 1000 está longe de ser uma moto leve, mas mesmo assim trafega por entre os carros com mais desenvoltura que as aventureiras concorrentes que utilizam rodas de 19 e 21 polegadas.
Nas curvas, seu caráter supermotard aparece. A roda menor na dianteira torna a entrada de curva mais “leve” e fácil de pilotar. O torque e o comportamento arisco desse tetracilíndrico fazem a roda traseira querer escapar no meio da curva, caso o piloto abuse do acelerador.
Esse é o principal fator que a diferencia das demais: o vigoroso quatro cilindros em linha. Mesmo com torque suficiente para trafegar em terceira marcha, sem reduções, por exemplo, o motor pede giro e o piloto se sente “instigado” a acelerar.
A compressão foi reduzida de 11.8:1 para 10.3:1 e a curva de torque ficou mais plana que na sua irmã Z1000. O “problema” realmente não é a falta de torque e sim o som que emana do escapamento. Como os quatro pistões pedem giro para funcionar bem, é praticamente impossível não atendê-lo, aumentando assim as trocas de marchas.
As relações de marcha também foram alteradas. A Versys 1000 está com a primeira e a segunda marchas bem curtas, resultando em arrancadas realmente impressionantes. Já as marchas mais altas – da terceira a sexta – ficaram mais longas, tornando a pilotagem desta Kawa em estradas mais confortável. Sem falar que a barreira dos 200 km/h fica para trás com certa facilidade.
O preço por todo esse desempenho é cobrado nos postos de combustível. Rodando sem se preocupar com a economia, a Versys 1000 registrou uma média de 14,5 km/l. Agora, se reduzir o ímpeto ao acelerador, o modo ECO, de economia de combustível, acende no painel e a média facilmente sobe para 17 km/l.
Tecnologia presente
Outra grande novidade da Versys 1000, além do inédito motor, é o pacote tecnológico embarcado: controle de tração (KTRC), modos de entrega de potência e freios ABS. Com esses equipamentos, a Kawasaki dá ferramentas para o piloto segurar todo o desempenho dos quatro cilindros.
São três níveis do controle de tração, sendo o nível “1” o menos intrusivo; e o “3” com maior intervenção da eletrônica, indicado para pisos realmente lisos, como terra – há também a opção de se desligar. Durante a pilotagem on-road em condições normais o controle de nível 1 é suficiente. Todavia, a Versys 1000 tem características de uma supermoto e ao abusar nas entradas e saídas de curva a moto chega a “escapar” a traseira, mas o controle de tração dá conta de colocá-la de volta na trajetória.
Já a pilotagem off-road não segue essas regras. Mesmo não mostrando muita aptidão para o fora de estrada, levamos a Versys 1000 para alguns trechos de terra, onde claramente o controle de tração pode ser mais bem avaliado – assim como a ECU, que permite rodar no modo Full, com toda a potência, e o modo Low, onde há 75% da potência à disposição. Basta acelerar com mais força, que o KTRC entra em funcionamento e, além de piscar uma luz no painel, a central eletrônica ajusta a entrega da potência na roda traseira e a moto parece “engasgar”.
A eletrônica ajuda a controlar as acelerações bruscas na terra, mas prejudica as frenagens. Com o sistema de freios ABS sempre ativo, os freios não funcionam muito bem em trechos de terra, fazendo o piloto passar por maus bocados para conseguir parar. A Versys 1000 mostra que seu pacote tecnológico foi criado mesmo para ser utilizado no asfalto, com bem afirmou o gerente comercial da Kawasaki.
Sua limitação na terra fica ressaltada pelas rodas de aro de 17 polegadas. Além disso, seu escapamento posicionado bem baixo não é indicado para trechos alagados e atoleiros. Em contrapartida, o apelo "touring" fica destacado pelo parabrisa com três opções de regulagem, ajustadas manualmente, e o tanque de combustível, com capacidade para 21 litros de combustível.
Ciclística convencional
Seguindo as especificações mais on do que off-road, a Versys 1000 traz um chassi de alumínio com garfo telescópico invertido de apenas 150 mm de curso, aliado a um monoamortecedor traseiro de mesmo curso, ambos com ajuste na pré-carga da mola. Números que permitem a essa motocicleta encarar pisos irregulares e até uma estrada de terra batida sem problemas, mas que se limita a isso.
Se a intenção for fazer curvas mais ousadas encontre a regulagem mais rígida no amortecimento, e a Versys não desapontará. Mas também é possível ajustar o conjunto quando a proposta for uma longa viagem com garupa e bagagens, que podem ser facilmente amarradas no bagageiro de série apto a receber baú.
O último item analisado por nós também mereceu atenção especial da Kawasaki, até porque os freios receberam a tarefa de parar este nervoso propulsor. São dois discos de 300 mm em forma de margarida com pinça de dois pistões na dianteira e um disco de 250 mm em forma de margarida com pinça de pistão simples na traseira. Com o auxílio do ABS funcionam dentro da proposta – no asfalto, é claro.
Público alvo
As motocicletas aventureiras destinadas ao turismo, encabeçadas pela BMW R 1200 GS, sempre atenderam ao consumidor mais experiente e exigente. Normalmente um homem de meia idade que busca naquele veículo a liberdade de rodar por qualquer terreno sem abrir mão de conforto e segurança. Já os modelos supermoto agradam os jovens ávidos por desempenho, mas que não abrem mão da posição de pilotagem ereta.
A Versys 1000 é um meio termo entre esses estilos. Seria perfeita para quem gosta de desempenho, mas não quer ficar “encaixotado” na posição racing das superesportivas. Uma boa pedida também para o motociclista que gosta de longas viagens, mas não pretende rodar centenas de quilômetros fora-de-estrada. Com a Versys 1000 por R$ 49.990, o piloto acompanhará com estilo e conforto todos os passeios, sem abrir mão do ronco e a tocada característica dos motores de quatro cilindros em linha.
FICHA TÉCNICA Kawasaki Versys 1000
Motor: quatro cilindros em linha, 1043 cm³, DOHC, com refrigeração líquida.
Potência: 118 cv a 9.000 rpm
Torque: 10,4 kgf.m a 7.700 rpm
Câmbio: seis marchas
Transmissão final Corrente
Alimentação: injeção eletrônica
Quadro: dupla trave de alumínio
Suspensão dianteira: garfo telescópico invertido com 150 mm de curso de ajuste no retorno e na pré-carga da mola
Suspensão traseira: monoamortecedor com 150 mm de curso e ajuste de retorno e pré-carga da mola
Freio dianteiro: disco duplo de 300 mm em forma de margarida com pinça de pistão duplo
Freio traseiro: disco simples de 250 mm em forma de margarida com pinça de pistão simples
Pneus: 120/70-ZR17 (dianteiro)/180/55-ZR17 (traseiro)
Dimensões: 2.235 mm x 900 mm x 1.405 mm (C x L x A).
Distância entre eixos 1.520 mm
Distância do solo 155 mm
Altura do Assento 845 mm
Peso em ordem de marcha: 239 kg versão única com ABS
Tanque: 21 litros.
Cores: branca
Preço: R$ 49.990