Durante quatro dias, o meu despertador – que tocava sempre por volta das cinco e meia da manhã – foi o ronco de máquinas como a Honda CRF 230F e a Yamaha WR 450 F. Era o anúncio de que começava mais uma etapa do Enduro da Independência, a mais tradicional prova off-road de regularidade do país e que completou três décadas neste ano. Entre 5 e 8 de setembro, cerca de 300 pilotos rodaram 596 quilômetros de muita poeira e mato pelas trilhas e estradas do Estado de Minas Gerais e, claro, passando por diversas paisagens históricas.
O enduro de regularidade funciona assim: cada piloto recebe uma planilha pouco antes do início da prova com a indicação do caminho a ser percorrido naquele dia e, o mais importante, a velocidade com a qual cada trecho deve ser percorrido. O vencedor é aquele que conseguir cumprir a planilha com velocidade próxima à estipulada sem atrasar ou adiantar, daí o nome “regularidade”. O perfil da competição rende algumas cenas inusitadas, como os pilotos mais adiantados, que param para descansar ou ir ao banheiro durante a prova. Afinal, quem chega adiantado também perde ponto.
Com inscrições limitadas a até 400 pilotos, a edição de 30 anos do Enduro da Independência contou com 333 participantes divididos nas categorias Master, Sênior, Feminina, Over 40, Over 45, Over 50, Over 55 (nas quais competem pilotos com idades acima de 40, 45, 50 e 55 anos, respectivamente), Junior, Novato, Dupla Graduado, Dupla Estreante e Vintage. No entanto, a maioria dos pilotos do Enduro da Independência está lá pela aventura. “No pódio são apenas cinco que sobem, então poucos competem, o restante participa”, define de forma bem humorada o carioca Adhemar Euclydes de Souza, 58, que está em seu 30º Enduro da Independência. Sobre a experiência de ter pilotado em todas as edições, o bom humor de Euclydes continua “Antes você não sabia o que ia acontecer, que tipo de problema ia enfrentar. Depois, você já sabe e vem assim mesmo”, comenta.
Elas também andam
Ainda que conte com poucas participantes inscritas, ao menos por enquanto, a categoria Feminina firmou o pé na competição e já tem seus nomes fortes. Entre eles está a carioca Mônica Cury, 49, esposa de Euclydes e dona de um invejável currículo de 23 participações no Enduro da Independência, sendo a única mulher em algumas delas. “De 84 a 96 eu andei sozinha”, comenta. Mônica revela, ainda, que a competição nunca a atrapalhou em ser mãe. “Um [Enduro] eu fiz enquanto amamentava meu filho”, diz com orgulho.
As mineiras também fazem bonito. É o caso de Sabrina Katana, que também completa 30 anos em 2012 e garantiu sua quarta vitória na tradicional competição, da qual participa desde 2006. "Essa edição do Enduro da Independência foi especial, porque eu cresci junto com o evento. A organização se preocupou com cada detalhe, como visual, cenografia e, principalmente, com as trilhas. Foi uma prova completa, com muito sufoco e balaios. Estou feliz com mais essa participação", conta.
Marcella Gonçalves é outro destaque. Aos 19 anos, a mineirinha participou pela segunda vez da competição depois de uma ótima estreia em 2011, quando foi vice-campeã da categoria. Entretanto, uma queda no segundo dia de prova rompeu os ligamentos do seu joelho esquerdo e tirou Marcella do páreo neste ano. “Agora o pior é assistir...”, revela a piloto, entristecida por não poder mais participar desta edição.
Passado e presente se encontram
Outra característica marcante do Enduro da Independência é o trajeto, que muda todos os anos para privilegiar não apenas as trilhas mineiras, como também as localidades históricas. Nesta edição, a prova partiu do Parque das Mangabeiras, na capital Belo Horizonte, e passou por cidades como Nova Lima e Mariana até a chegada em Sabará. No entanto é durante as passagens pelos pequenos vilarejos, como São Bartolomeu e Itabirito, que podemos ver o encontro entre os pilotos e seus modernos equipamentos e motos com locais que parecem ter parado no tempo na história do Brasil.
No percurso do Enduro, os pilotos também passam por trechos da Estrada Real, caminho utilizado na época do Brasil Colônia para levar as riquezas extraídas em Diamantina, Minas Gerais, até a corte, que ficava em Paraty, no Estado Rio de Janeiro. Mais tarde, por razões de segurança, foi criado um outro caminho, mais curto para a Estrada Real. O rumo mudou a partir de Ouro Preto e passou por cidades como Juiz de Fora com destino à cidade do Rio de Janeiro.
Após quatro dias – regados a muito Feijão Tropeiro e torresmo – o Enduro da Independência chega ao fim, confirmando a paixão dos mineiros pelo off-road, que é favorecida pela proximidade das trilhas com os trechos urbanos. E, se depender de Gustavo Jacob, presidente do Trail Club Minas Gerais, organizador do evento, ano que vem tem mais. “Pela resposta dos pilotos, que elogiaram bastante, a edição de 30 anos foi um verdadeiro sucesso. A prova foi técnica e compacta, um formato que agradou muito e deve continuar nos próximos anos. Vamos trabalhar para que o Enduro da Independência tenha no mínimo mais 30 anos de sucesso”, finaliza.
Como ficou o Enduro
A edição de 30 anos do Enduro da Independência terminou no sábado, 8 de setembro com uma grande festa na cidade de Sabará (MG). Exceto pela categoria Vintage, que não teve o seu resultado divulgado, a competição terminou assim:
Categoria/ Vencedor
Máster/ Rodrigo Amaral
Sênior/ Antonio Luiz Maciel Filho
Feminina/ Sabrina Katana
Over 40/ Genoir Bruning
Over 45/ Noé de Oliveira
Over 50/ Hugo Morato
Over 55/ George Parik
Junior/ Gabriel Guimarães Cordeiro
Novato/ Tulio Borges Malta
Dupla Graduado/ Vinícius Campos M. e Claudio S.
Dupla Estreante/ Carlos Renato e Luciano B.