Atualmente, menos de 2% das motos vendidas no Brasil e na Argentina são equipadas com freios ABS, isso é o que revela uma pesquisa encomendada pela Bosch, uma das empresas que fabricam sistemas ABS para motos e carros. Realizada nas cidades de São Paulo, Porto Alegre, Recife, além de Buenos Aires e Córdoba, no país vizinho, os números ainda revelam que 27% dos entrevistados não sabia da existência de freios ABS para motocicletas. “Infelizmente, este sistema ainda não é amplamente disponibilizado e conhecido nesses países. Entretanto, potenciais clientes mostram grande interesse e demanda por informações”, afirmou Besaliel Botelho, presidente da Bosch na América Latina.
A Pesquisa de Segurança da Bosch foi comissionada para investigar a importância da segurança em motocicletas para novos compradores brasileiros e argentinos. Além disso, o conhecimento e a atitude referente a sistemas da segurança da motocicleta também foram avaliados. A pesquisa foi conduzida de outubro a novembro de 2011 e ouviu 750 proprietários de motocicletas (150 por cidade).
Outro dado alarmante é que 26% dos motociclistas não optaram por motos com sistema antibloqueio de frenagem porque não havia essa opção. Atualmente, somente BMW, Ducati, Harley-Davidson, Honda, Kawasaki e KTM oferecem versões de motocicletas com ABS. No caso da Yamaha, somente a bigtrail Super Ténéré 1200 tem o sistema, porém a moto não é vendida sem ele em todo o mundo. Já a linha XJ6 é oferecida com ABS no exterior, mas não aqui. É o que ocorre também com a Suzuki, que não comercializa seus modelos com ABS no País.
Pesquisas comprovam eficiência do ABS
A pesquisa encomendada pela Bosch aponta que 77% dos entrevistados realizam frequentemente ou muito frequentemente frenagens de emergência. Os principais motivos são: a presença de buracos/fossas na rua (60%), a travessia de pedestres (57%) e a parada inesperada de um veículo à frente (53%). A pesquisa destaca também que, em situações de emergência, 40% dos pilotos freiam com menos força do que gostariam em virtude do medo de travar as rodas.
O objetivo dos freios ABS, tanto nas motos como nos carros, é exatamente este: frear com mais segurança e controle do veículo – sem travar as rodas. Segundo o IIHS (Insurance Institute for Highway Security, instituto das seguradoras norte-americanas para a segurança viária), motos com ABS representam 28% a menos de acidentes fatais em cada dez mil motos registradas nos Estados Unidos. Análise do banco de dados de acidentes da Alemanha, o GIDAS, mostra que 47% dos acidentes com moto são causados por frenagem com falha ou hesitante, problemas resolvidos pelo ABS. Diversos estudos científicos comprovam que o ABS é o sistema com mais alto potencial de segurança. Já outro estudo, realizado pela Administração Rodoviária da Suécia ("Vägverket"), em outubro de 2009, estima que 38% de todos os acidentes de motocicleta com feridos e 48% de todos os acidentes graves e fatais poderiam ter sido evitados com o uso do ABS.
Para os leigos, o sistema ABS atua nos freios da moto, impedindo que a(s) roda(s) trave(m). Seu princípio de funcionamento é parecido com o de um automóvel. Pequenos discos (semelhantes ao disco de freio, porém cheios de ranhuras) instalados no cubo das rodas atuam com os sensores do ABS e realizam a “leitura” da velocidade das rodas durante a frenagem. Quando a roda está prestes a travar, os sensores enviam um sinal para a central do ABS e a mesma envia um sinal para “aliviar” a pressão aplicada no freio. “O sistema ABS colabora para manter o comportamento equilibrado da motocicleta em frenagens em diferentes pisos e, consequentemente, oferece maior segurança ao motociclista”, explicou Alfredo Guedes Jr, engenheiro da Honda.
Em motos pequenas
Um dos principais objetivos dos avanços tecnológicos é a segurança. Mas para as novas tecnologias chegarem às motocicletas levou certo tempo. Nos carros, a alemã Mercedes-Benz deu o passo inicial oferecendo como opcional os freios antibloqueio na série S, já em 1978. Nas motocicletas o primeiro ABS surgiu apenas dez anos depois com uma conterrânea, a BMW K 100.
Como a história do dispositivo é recente, poucos estilos de motos têm como opção o uso do ABS. Para termos uma idéia do “atraso” desse recurso, somente em 2009 tivemos uma superesportiva equipada de fábrica com tal atrativo. Foi neste ano que a Honda passou a oferecer a CBR, nas versões de 600 e 1000 cm³, equipadas com o sistema eletrônico de frenagem. Depois, BMW S 1000RR e Kawasaki ZX-10R passaram a oferecer o recurso.
Atualmente, em motos de baixa cilindrada, apenas a Honda oferece em sua linha de 300cc a opção de freios ABS. Um sistema desenvolvido em parceria com a japonesa Nissin. A Bosch também conta com a geração 9 de freios ABS, que ganhou uma versão exclusiva para uso em motocicletas. Desenvolvido pelos engenheiros da Bosch Centro de Engenharia no Japão, derivado da versão para automóveis de passageiro, o ABS 9 para motos tem a metade do tamanho de seu antecessor. Em sua menor versão ele pesa só 700 gramas e conta com um sistema modular que permite adotar diferentes variantes. Na prática, pode ser adaptado para uso em qualquer tipo de moto, seja de grande, média ou baixa cilindrada – desde que a moto seja sempre equipada com freios a disco de acionamento hidráulico.
“A partir do momento que houver uma demanda crescente para uso do ABS em motos na América Latina, que permita uma base inicial de produção com custos competitivos e preços atraentes, certamente a Bosch irá analisar a possibilidade de produzir o ABS para motos no Brasil”, afirma Carlo Gibran, gerente de vendas da divisão Chassis Systems Control da Robert Bosch América Latina, já que, por aqui, a empresa fabrica somente sistemas ABS para automóveis. Por enquanto.