Foi com muita surpresa e espanto que recebemos a informação do falecimento de Aurélio Batista Félix, idealizador e fundador da Fórmula truck no Brasil.
Aurélio se sentiu mal no final da prova de abertura da temporada em Guaporé, no domingo (dia 2) e foi transportado logo em seguida para o Hospital São Vicente em Passo Fundo, onde se submeteu a uma cirurgia de desobstrução de coronárias no mesmo dia. Atendido de imediato pelo médico oficial da Fórmula Truck, dr. Daniel de Moraes e cirurgiões locais, Aurélio já estava se sentindo bem nesta quarta-feira e até caminhando pelos corredores do hospital.
No final da tarde da quarta-feira, 05, ele voltou a sentir mal e chegou a ser encaminhado novamente para o centro cirúrgico. No entanto, segundo o boletim médico do Hospital São Vicente, assinado pelo dr. Álvaro Soares, Aurélio teve novamente um enfarto e foi submetido a uma angioplastia. Ainda segundo o boletim médico, o promotor teve uma hemorragia estomacal, entrando em óbito.
AURÉLIO BATISTA FÉLIX
Aurélio Batista Félix nasceu em Santos (SP), no dia 24 de abril de 1958, e desde criança sempre teve muito contato com caminhões. Era filho de caminhoneiro e ficava fascinado ao ouvir histórias das viagens de seu pai.
Aos 9 anos de idade, começou a manobrar caminhões e, aos 11, já guiava automóveis pela rua. Pouco depois, aos 16, ficou conhecido no bairro por fazer com uma Kombi algumas das manobras que mais tarde fariam parte do show nas provas da F-Truck.
Foi naquela mesma época que ele começou a guiar caminhões nas estradas e quando não havia risco de fiscalização da polícia rodoviária até arriscava viagens de pequenos trajetos. Mas o trabalho como caminhoneiro começou mesmo aos 17 anos. Com o pai adoentado, ele assumiu a boléia e passou a fazer o transporte de motores Ford do modelo Maverick para o porto de São Sebastião. Descia a rodovia dos Tamoios e se divertia dirigindo carretas de 10 toneladas.
Aurélio participou da primeira prova de caminhões realizada no Brasil, em Cascavel, em 1987, considerada o berço da Fórmula Truck. Mas a experiência acabou retardando a criação da categoria em razão de um acidente fatal na corrida.
Ali, começou um trabalho mais direcionado à idéia, com a criação da Racing Truck, em 1989, funcionando na mesma sede da Transportadora ABF, em Santos. Paralelamente a atividade de sua empresa de transporte, Aurélio investia em seu grande sonho, a F-Truck.Aos poucos, o filho de caminhoneiro e já vice-presidente do Sindicato dos Motoristas Autônomos da Baixada Santista foi preparando alguns caminhões que tirava da sua própria frota e transformando-os em caminhões de corrida. O trabalho na preparação do caminhão, do motor, suspensão, criação de novas peças e principalmente os equipamentos de segurança, exigiu incansáveis pesquisas e reuniões do pequeno grupo comandado por Aurélio.
Paralelamente, um regulamento técnico foi tomando corpo com a preocupação de colocar modelos e marcas diferentes em nível de igualdade dentro da pista. Começaram as provas-exibição em 1993, já reunindo perto de 10 mil pessoas nos autódromos.
Na época, eram realizadas cinco ou seis provas por ano. Em 1994, fez uma apresentação oficial em Interlagos e mostrou o Fórmula Truck para empresários, autoridades esportivas e imprensa. No ano seguinte, o público nas provas-exibição já passava de 15 mil pessoas e a CBA começou a estudar a homologação do evento automobilístico que já impressionava por levar um público tão grande aos autódromos.O reconhecimento do trabalho de Aurélio Batista Félix veio com a aprovação da Fórmula Truck pela Confederação Brasileira de Automobilismo para a criação definitiva do campeonato brasileiro em 1996.
Os equipamentos de segurança desenhados por Aurélio e produzidos na própria sede da Fórmula Truck foram reconhecidos pela entidade máxima do automobilismo brasileiro e hoje são superiores aos utilizados na Europa.Na atual temporada, Aurélio estava realizando o sonho da internacionalização da categoria, com negociações adiantadas para uma corrida na Argentina. O projeto ganhou força depois da visita de Aurélio a uma etapa da Truck européia, em Nurburgring, no ano passado.
Ele voltou animado e teve longas conversas com representantes da categoria que visitaram o Brasil em 2007. Aurélio tinha 49 anos de idade e era casado com Neusa. Deixa três filhos: Danielle, Gabrielle e Aurélio Junior.
Velório e sepultamento
O Velório acontece nesta quinta-feira (06 de Março), no Memorial Necrópole Ecumênica de Santos (Av: Dr. Nilo Peçanha, 50), as 9 da manhã e deve se estender até a sexta-feira (07 de Março). O sepultamento acontecerá às 10 da manhã de sexta-feira e será no mesmo local do Velório.
Confira abaixo algumas manifestações de pêsames
Nota de Pêsames VW
A Volkswagen Caminhões e Ônibus, patrocinadora da equipe RM Competições, expressa seu pesar pelo falecimento de Aurélio Batista Félix, idealizador e organizador do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck. Mais do que um profissional, lamenta-se a perda de um grande amigo.
Seu espírito empreendedor transformou as corridas de caminhões num dos mais populares esportes automobilísticos do País. Seus espetáculos de acrobacia a bordo de até seis caminhões prendiam a respiração de milhares de espectadores. Seu entusiasmo transformava os boxes das competições em usinas de novidades.
O exemplo de Aurélio Batista Félix e sua contribuição ao automobilismo brasileiro não serão esquecidos. A Volkswagen Caminhões e Ônibus agradece publicamente ao homem que transformou caminhões em personagens de um grande espetáculo. E mantém seu compromisso de fazer desta temporada outro grande sucesso, mesmo abalada por essa irreparável perda.
Volkswagen Caminhões e Ônibus
Vinicius Ramires
Vinicius Ramires, piloto da equipe RRT2 na Fórmula Truck, esteve nesta quinta-feira (6) no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, acompanhando os funerais de Aurélio Félix, criador e organizador da categoria. Representante de Sorocaba, o piloto resumiu os adjetivos que percebeu com mais clareza em Félix nos quase três anos de atuação nas corridas de caminhão. “Ele era um homem extremamente inteligente e talentoso no que fazia”, disse.
Ramires chama atenção para a habilidade que Félix demonstrava no lido com caminhões. “O Aurélio era tão conhecido por ser competente no que fazia e dedicado como poucos. Ele soube transformar a Fórmula Truck em uma família, e cabe a todos nós, fazemos somos parte desta família, manter vivo o sonho dele de tornar a Fórmula Truck cada vez maior e melhor. Lamento muito por todos nós, e lamento principalmente pela família”, acrescentou o piloto.
Roberval Andrade
A notícia da morte de Aurélio Batista Félix, na noite de quarta-feira (5), chocou o automobilismo brasileiro. De modo especial, os profissionais ligados ao Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck, categoria criada e coordenada pelo ex-dirigente. “Eu não imaginava que esta notícia trágica fosse mexer tanto comigo quanto mexeu. Fiquei chocado”, admitiu o paulista Roberval Andrade, que pilota na categoria desde 2000 e foi campeão brasileiro em 2002.
Andrade manifesta a admiração que nutre por Félix desde o início de sua carreira como piloto, quase oito anos atrás. “Sempre admirei o Aurélio pela garra e pela determinação que ele mostrou. A Fórmula Truck teve uma perda irreparável, sinto por todos nós, que estávamos sempre ao redor dele”, comentou. O corpo de Aurélio está sendo velado no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, e será sepultado na manhã desta sexta-feira (7).
Comunicado Vicar
Tristeza no automobilismo
O automobilismo nacional amanheceu mais triste nesta quinta-feira. A Vicar e toda a família Stock Car se solidarizam com a família da Fórmula Truck neste momento difícil em razão da passagem do empresário, promotor e organizador Aurélio Batista Félix.
Fiquei muito entristecido com a notícia do falecimento do Aurélio na noite desta quarta-feira. Ele fez um trabalho de extrema importância para o automobilismo brasileiro na última década, dedicando toda sua energia e espírito de empreendedor na difícil tarefa que é liderar uma estrutura profissional desta magnitude.
Nossos mais profundos sentimentos para a família de Aurélio, sua esposa e filhos, sabendo que o legado deixado por ele vai sempre fazer parte da história do automobilismo nacional.
Carlos Alberto Col
Diretor Presidente da Vicar Promoções Desportivas
Pedro Mulffato
O piloto Pedro Muffato desembarcou na manhã desta quinta-feira (6) em Santos, no litoral paulista, para acompanhar os ritos de despedida a Aurélio Félix, criador e ex-promotor do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck. Abalado, o paranaense, que atua na categoria competindo com um caminhão Scania, definiu Aurélio, que morreu quarta-feira (5) na cidade de Passo Fundo, como “um leão”. “Ele foi um lutador incansável, que morreu lutando”, disse.
“Sem dúvida, Aurélio Félix foi o maior empreendedor do automobilismo brasileiro de todos os tempos”, atribuiu Muffato, credenciado pela experiência de mais de quatro décadas no esporte. “Ele soube produzir automobilismo. Mostrou, com seu modo de fazer as coisas, que o automobilismo, quando executado com honestidade, seriedade, garra, talento e dedicação, pode ser extremamente viável. Eu disse isso a ele muitas vezes em vida”, relatou.
Muffato reconhece que Félix submetia-se, no comando da Fórmula Truck, a um ritmo de trabalho extenuante. “O momento é de dor, estamos extremamente abalados, mas analisando friamente, o Aurélio dedicava sua vida integralmente à sua categoria. Ele já havia passado por problemas de saúde, mas sempre voltou ao ritmo do trabalho pelo qual tinha tanta paixão. Ele não dava a si próprio um tempo e um espaço para descansar, para desestressar”, ponderou.
Pedro Muffato esteve com Aurélio Félix em seu último dia de vida. Visitou-o, na tarde de quarta, na UTI do Hospital São Vicente de Paula, em Passo Fundo, onde estava internado desde domingo. “Além de visitar um grande amigo, retribuí a uma gentileza dele”, definiu o piloto, que foi submetido em 2007 a um delicado procedimento cirúrgico e recebeu, na UTI do Hospital Policlínica, em Cascavel, a visita de cortesia do criador da Fórmula Truck.
“Estive com o Aurélio durante boa parte da tarde. Naquela que acabou sendo nossa última conversa, recomendei ao Aurélio que, assim que ficasse bom, diminuísse o ritmo de trabalho, que desse um tempo para ele mesmo”, relevou Muffato. “Mas tenho certeza de que, caso tivesse mesmo se recuperado, o Aurélio iria mesmo continuar com seu show, dedicando a vida a manter a Fórmula Truck como o fenômeno que é. Aurélio era incansável”.