Visitar a China não é uma tarefa fácil. Vários documentos para o visto, quase 24 horas voando e a incerteza de passar “ileso” pela imigração. Além disso, há 10 horas de diferença de fuso horário em relação ao Brasil. Como os mongóis, que conseguiram transpor a Muralha da China, a Agência INFOMOTO chegou a Guangzhou, considerada a terceira maior cidade chinesa, para visitar uma das principais fábricas de motos da Ásia. A Haojue é a líder de vendas na China com 18% de participação de mercado. Parceira da Dafra Motos, a Haojue fabrica três milhões de unidades/ano. Ou seja, o dobro que a Moto Honda da Amazônia, em Manaus (AM). Desse total, mais de 2,6 milhões de motos que a fábrica produz são vendidas no mercado interno, 60% vão para o campo e 40% são usadas nas cidades.
Hoje a China tem mais de 300 marcas de motocicletas e aproximadamente 75% das 27 milhões de unidades produzidas em 2010 foram vendidas no mercado interno. E é justamente esse o grande desafio das indústrias do setor de duas rodas: criar novos motociclistas e, no caso da Haojue, é ampliar sua participação no mercado externo e fabricar produtos mais atraentes.
Henry L. F. Su, diretor comercial e de marketing da montadora chinesa, explica que a fábrica pode quase dobrar sua produção para atender outros mercados. “Hoje, temos capacidade de produzir cerca de cinco milhões de unidades/ano”, explica Henry Su.
O diretor comercial e de marketing da Haojue revela ainda que a meta para os próximos anos é ampliar a participação no mercado externo. “E para isso, a parceria com a Dafra nesta estratégia global é fundamental, já que o Brasil, como a própria China, são países emergentes, que precisam de transporte barato e de qualidade”.
Em Jiangmen visitamos duas fábricas da marca. De cara o que impressiona é a ampla infraestrutura, traduzida por um parque fabril bem pensado – não tem nada de “puxadinho”, “quebra-galho”, já que os galpões são gigantescos – e processos produtivos de bom nível tecnológico. Eles pensam grande, planejam suas fábricas pensando na produção que será feita daqui a 50 anos. Lá são fabricados modelos de 100cc a 150 cc, entre streets e scooters. Hoje, a Haojue exporta sua produção para cerca de 70 países.
Do lingote aos testes no dinamômetro
Nas instalações amplas, limpas e organizadas, centenas de funcionários se dividem nas diversas estações da linha de montagem, que tem mais de 100 metros de extensão. Hoje, a Haojue tem três fábricas em Jiangmen que contam também com usinagem e estamparia. Enfim, a Haojue transforma os lingotes de alumínio em carcaça de motores, cilindro, cabeçote e tampas laterais. Uma produção verticalizada na qual muitos itens são produzidos na própria montadora ou em empresas do Dachangjiang Group, conglomerado empresarial dono da marca, que tem no total 12 mil funcionários.
Os chineses da Haojue tem ainda áreas específicas para injeção de plástico e alumínio, além de fazer vários testes em laboratórios, como durabilidade dos materiais e componentes, impacto e emissões. Isso sem falar nos testes de bancada e no dinamômetro que avaliam potência e torque do motor.
Chassi e linha de montagem
Na linha de soldagem robotizada são produzidos cinco mil chassis por dia. A maioria dos processos são feitos por robôs, mas há também processos manuais, principalmente para soldar pequenas peças como, por exemplo, o suporte para o chicote. Depois do processo finalizado, um por um os chassis passam por um gabarito para verificar se há anomalias na “espinha dorsal” da moto. Com a robotização, a marca chinesa ganhou em produtividade, precisão e qualidade.
De lá, o chassi já pintado segue para a linha de montagem onde começa a receber componentes e peças. O primeiro item a ser instalado no quadro é o motor. Na fábrica de Jiangmen três linhas estavam operando simultaneamente – duas de motos e uma de scooter. Por dia são montadas 4.200 motos. Uma nova unidade a cada 45 segundos. Mas há a intenção de arredondar o número para cinco mil, equivalente à quantidade de chassis fabricados. Só um detalhe, no dia da visita estavam sendo produzidas, simultaneamente, os modelo Haojue Riva 150 e uma Suzuki HJ 125, ambas para o mercado chinês. Aliás, todas as motos e scooters Suzuki de até 150cc são fabricadas em Jiangmen. Inclusive as que são comercializadas no Brasil.
Claro que há motos chinesas de vários modelos e preços. Mas, o que vimos na Haojue é um comprometimento muito grande com a qualidade das motos, principalmente nas que são exportadas para a Europa e também para o Brasil.
Visitar a China é uma boa oportunidade para rever conceitos e refletir sobre processos produtivos e a qualidade do produto fabricado pelo gigante asiático. Até porque, em uma economia globalizada, preço e qualidade andam de mãos dadas. Só como exemplo, o badalado iPad, tablete da Apple, é "desenhado na Califórnia e fabricado na China".
Claro que as motos chinesas precisam evoluir, ou melhor, se adaptar às nossas condições (clima e terreno), além do estilo de pilotagem do brasileiro, que exige muito do produto. Mas o pouco que vimos na fabricada de Jiangmen é que a Haojue está se esforçando em fazer um produto de boa qualidade. Trilhando o caminho para conquistar ainda mais outros mercados ao redor do mundo.
* O jornalista viajou a convite da Dafra Motos.