Até hoje a maioria dos veículos de duas rodas elétricos pecaram em algum ponto. Seja estético ou tecnológico, muitos lançamentos deste segmento ainda não conseguiram agregar as características de uma motocicleta. Ou ainda não haviam conseguido.
Com a Zero DS estes conceitos começaram a mudar. Sua autonomia ainda não concede a liberdade que o piloto merece e a bateria poderia carregar mais rapidamente. Mas no quesito estético e ergonômico a empresa canadense está um passo a frente.
A nova Zero DS tem cara de moto, jeito de moto e se não fosse a ausência de câmbio seria uma moto. As grandes diferenças são mesmo a “falta” de um tanque de combustível fóssil e o motor elétrico de alto desempenho.
Rodamos por uma semana com o modelo na cidade de São Paulo e depois dessa experiência com a terceira geração produzida pela Zero Motorcycle, posso afirmar que a evolução é nítida e em alguns anos estes veículos poderão invadir as ruas das grandes cidades — mesmo que ao lado dos propulsores a gasolina/álcool.
Sensação elétrica
Não há partida e não existe ruído, pelo simples fato de seu motor elétrico ser alimentado por uma bateria de íons de lítio. Essa característica por si só já causa muita estranheza ao motociclista. Todavia, a Zero DS conseguiu, mesmo sem o ruído apaixonante de uma moto, atender aos meus anseios durante uma semana de teste. E não pensem que ela não foi exigida.
Grandes subidas na Vila Madalena, bairro com muitos desníveis na capital paulista, uma esticada até o Terminal do Socorro, no extremo sul da cidade, e muita chuva entre uma parada e outra. Vale ressaltar que a Zero DS é recomendada para uso estritamente urbano, pois sua bateria sobrevive por no máximo 90 quilômetros — e carrega plenamente em quatro horas.
Na prática, as coisas não são bem assim. Primeiro devo dizer que sim, a Zero DS consegue transpor qualquer subida, seja ela a mais íngreme que for. Isso não é um problema, desde que esteja carregada.
Aliás, totalmente cheia a bateria lhe entregará potência e torque suficientes para sair em primeiro no farol, ou mesmo realizar ultrapassagens dentro da cidade. O problema ainda é a durabilidade e o tempo de recarga da bateria.
A bateria
Com meu peso e altura (95 kg e 1.90 m), a autonomia do modelo não ultrapassava os 50 km. E tem mais. O piloto não pode se empolgar e pilotar no limite do propulsor elétrico. Atingindo os 110 km/h que mostrava o velocímetro digital, a carga da bateria acaba com muita rapidez, fazendo sua autonomia ser drasticamente reduzida.
E é exatamente isso que o comprador de uma Zero DS tem que entender. O limite pode até ser alcançado, mas nunca mantido, senão seu passeio acabará antes que o previsto.
Isso poderia não ser um problema, mas a cidade ainda não está pronta para receber produtos elétricos. Se você ficar na mão, ou seja, se a carga acabar, somente uma boa lábia o salvará — fiquei sem bateria na Avenida Robert Kennedy, na zona sul de São Paulo e, depois de fazer amizade com o dono de uma loja de automóveis usados, consegui carregar a Zero DS e voltar pra casa.
Calma, a bateria não desligará do nada. Um marcador de combustível convencional no painel vai alertando para a situação da carga. Entretanto a visualização pode enganar. Quando a moto vai para a rua completamente carregada e o piloto exige muito dela, sendo em uma subida ou uma longa reta, o medidor indica uma queda grande na carga da bateria.
Soltando a mão ou parando em um farol, nota-se que parte desta carga parece voltar. Mas não confie plenamente nesta medição. Minha dica é sempre mantê-la carregada, ou seja, ponha na tomada aonde você for.
Ciclística convencional
Um dos detalhes que foge do comum quando o assunto passa para a ciclística é o chassi da Zero DS. Fabricado em alumínio aeronáutico de baixo peso (8 Kg), o quadro deixa a moto com um ar elegante e bem diferente.
O restante da ciclística nós estamos cansados de ver por ai. A suspensão dianteira é invertida com 18 opções de ajuste de compressão e 12 de retorno, sendo seu curso de 228 mm. Na traseira a suspensão é do tipo monochoque com 203 mm de curso e regulagens de pré-carga, compressão e retorno.
Antes de citar os freios devo dizer que o conjunto ciclístico da Zero DS é de uma moto convencional, portanto atende a proposta do modelo. Porém como não há um tanque de combustível, o condutor pilota muito próximo ao guidão, alterando toda a ergonomia perante a uma moto “normal”.
Voltemos aos freios. A disco em ambas as rodas, são suficientes para frear a moto com perfeição, mas não trazem a opção do ABS — a marca não divulga o diâmetro dos discos.
Para garantir a aderência ao piso, roda de 17 polegadas com pneu 110/80 com desenho misto na frente, e roda traseira de 16 polegadas com pneu 120/80 na traseira. O painel conta com informações analógicas e digitais, mostrando velocímetro, dois hodômetros e indicador do nível de bateria, além de uma luz espiã que informa a temperatura.
Conclusão
Depois de uma semana com a Zero DS posso afirmar que foi uma surpresa agradável nossa convivência. Sabendo utilizá-la, o piloto pode certamente realizar sua rotina em qualquer cidade do País, sendo capaz de substituir as motos movidas com motores de combustão interna. Basta lembrar que se trata de uma moto elétrica. Sendo assim, em cidades como São Paulo, atente-se em dobro aos veículos ao seu redor, pois a bordo da Zero DS ninguém vai escutá-lo.
Do mais, a moto divide os espaços da cidade com qualquer outra motocicleta de igual para igual. A bateria ainda demora a carregar e dura pouco, porém quando a recarga for mais rápida e durar por mais de 200 quilômetros, as motos elétricas vão começar a ser levadas a sério — isso se a escassez de recursos naturais não apressar o processo. Resumindo: o preço ainda assusta (R$ 29.000), mas a tecnologia caminha a passos largos para virar realidade.
Vendas elétricas
Quem esteve no Salão Duas Rodas 2011 viu os modelos da Zero Motorcycle. Representadas pelo Grupo Izzo, as motocicletas elétricas da marca canadense chamavam a atenção em um estande colado com as motocicletas da KTM e Ducati. Entretanto, será que a curiosidade dos visitantes se materializou em vendas?
Segundo a assessoria da marca, algumas motos da Zero Motorcycle foram vendidas durante a feira de motos de São Paulo, sendo o pós venda de responsabilidade do importador e será realizada na loja da KTM na Avenida dos Bandeirantes, na capital paulista. Não existem muitas revendas espalhadas pelo País e o conceito de moto elétrica ainda não emplacou no Brasil, mas rodar com a Zero DS é uma experiência diferente.
Ficha Técnica Zero DS
Motor: Elétrico de alta eficiência com refrigeração forçada de ar, campo magnético constante com alimentação de 48 Volts e 450 Ah
Potência máxima: 25 cavalos a 3.050 rpm
Torque máximo: 5,9 kgf.m a 3.050 rpm.
Chassi: Fabricado em alumínio aeronáutico de baixo peso ( 8 Kg)
Suspensão:
Dianteira invertida Fast Ace com 18 opções de ajuste de compressão e 12 de retorno com 228 mm de curso. Traseira do tipo monoshock com amortecedor Fast Ace e 203 mm de curso
Freios:
Disco simples na dianteira com dois pistões e 310 mm de diâmetro. E disco simples com um pistão na traseira e 220 mm.
Rodas e pneus:
Roda dianteira com aro de alumínio de 17 polegadas e pneu 110/80 com desenho misto. Roda traseira com aro de alumínio de 16 polegadas de largura e Pneu 120/80 com desenho misto
Comprimento: 143 cm
Altura do assento: 90 cm
Peso seco: 135 kg
Capacidade da bateria: Máximo de 90 km e carrega em 4h em tomada 110V ou 220V.
Vida útil da bateria: 112.000 km
Preço: R$ 29.000