Maior e única feira dedicada exclusivamente ao mercado de duas rodas, o CIMAMotor chegou a sua 10ª edição mostrando uma mudança no perfil do mercado de duas rodas do gigante asiático. Ao invés das pequenas e outrora antiquadas motos chinesas, os lançamentos deste ano traziam desenhos mais modernos, injeção eletrônica e até mesmo modelos com maior capacidade cúbica.
Realizada na cidade de Chongqing, no meio oeste da China, entre 13 e 16 de outubro, o CIMAMotor contou com a presença das marcas locais e também mundiais. Todas de olho no grande potencial do mercado chinês. Apesar de estarem espalhadas pelos quatro cantos do mundo, as motocicletas produzidas na China são adquiridas majoritariamente por consumidores chineses.
Aproximadamente 75% das 27 milhões de unidades produzidas em 2010, foram vendidas no mercado interno. E é justamente esse o grande desafio das indústrias do setor de duas rodas: criar novos motociclistas.
“O mercado de motos utilitárias, destinadas ao uso no campo já está saturado. Agora é preciso conquistar novos consumidores”, explicou Wang Wei, diretor da UNIDO SPX-CQ, braço da Organização das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Industrial em parceria com a cidade de Chongqing, organizadora do CIMAMotor.
Antes é preciso compreender que as motocicletas na China até pouco tempo eram vistas como veículos de trabalho e locomoção dos produtores rurais. Por isso mesmo as primeiras motos que desembarcaram no Brasil costumavam ter baixo desempenho e qualidade. Mas esta visão está mudando. E de dentro para fora.
Os próprios fabricantes chineses estão percebendo que para conquistar o jovem urbano será preciso fabricar uma motocicleta melhor, mais atraente e moderna. Afinal, nas grandes cidades da China, IPads e IPhones estão em toda parte e esses consumidores não gostariam de pilotar as antigas motos chinesas. “Agora as pessoas não compram as motos pensando apenas no uso prático, buscam também modelos bonitos e mais modernos”, explicou Wei.
Melhores motos para uma vida melhor
Assim também pensa a indústria chinesa de duas rodas. Li Bin, diretor da associação chinesa de fabricantes de automóveis e motocicletas, faz coro a outros executivos do setor e acredita no potencial do mercado interno. “Temos de estimular o uso da moto na China para melhorar o trânsito em nossas cidades”, declarou Bin. Pode soar estranha a declaração do engenheiro chinês, afinal são mais de 20 milhões de motos comercializadas anualmente. Mas levando-se em consideração a população chinesa de 1,3 bilhão de habitantes o mercado de duas rodas ainda tem muito a ser explorado.
Tanto que os principais lançamentos da 10ª edição do CIMAMotor também chamariam a atenção dos visitantes do Salão Duas Rodas de São Paulo, realizado no início de outubro. O Dachangjiang Group, que produz cerca de 3 milhões de motos por ano das marcas Hao Jue e Suzuki, mostrou entre seus lançamentos uma motocicleta de 250cc, a Suzuki GW 250, equipada com motor de dois cilindros, injeção eletrônica e painel digital. Com linhas que lembram a grande naked B-King de 1.300 cc, a GW 250 foi a grande estrela da marca. Promovida em shows de acrobacia e painéis espalhados pelo moderno centro de exposições de Chongqing, o modelo é a cara das novas motos chinesas.
A japonesa Honda, que pelo segundo ano consecutivo esteve oficialmente na feira, apostou em dois modelos elétricos e também em uma CUB, com desenho mais moderno e injeção eletrônica. Além de mostrar diversos modelos de alta cilindrada, como a CB 1000R e a VFR 1200F.
Já a Shineray, que anunciou uma fábrica no Brasil recentemente, apresentou uma trail de 400cc. Enquanto a CFMoto, marca desconhecida de nós brasileiros, mostrou uma sport-touring e uma naked de 650cc.
Parcerias
Mas não são apenas as fabricantes chinesas que querem aproveitar essa mudança de perfil no mercado de motocicletas chinesas. Muitas marcas internacionais também estiveram presentes ao CIMAMotor 2011. Todas de olho nos milhares de chineses que entram para as listas dos milionários mundiais a cada ano.
A americana Victory, que pertence à Polaris, fez sua estreia na feira apresentando seus modelos custom de alta cilindrada. A italiana Ducati, por meio de seu representante local de Xangai, recentemente se instalou na China e já mostrou em seu estande a Diavel e a Multistrada Pikes Peak, uma edição especial, lançada há poucos meses.
Há ainda muitas empresas como a MV Agusta que optaram por parceiros locais. A fábrica italiana associou-se a Lifan, que irá importar e revender seus produtos na China. Parar anunciar sua chegada expôs a F4 RR Corsacorta, última versão da aclamada superesportiva, e a Brutale 920, um modelo mais acessível de sua famosa naked.
Outro exemplo é a japonesa Kawasaki. Juntamente com a Loncin, outra fábrica chinesa oriunda de Chongqing, a Kawasaki vai vender suas motos de alta cilindrada na China.
Os fabricantes de motos espelham-se no sucesso da indústria automotiva. Nos últimos dez anos, a China assumiu o posto de país onde mais se vende automóveis no mundo. E por que não motos? Mercado consumidor a China tem, e de sobra.
*O jornalista viajou a convite da UNIDO SPX-CQ