Na hora de comprar uma moto ou vestir-se para rodar por aí, alguns motociclistas se esquecem da máxima: quando o assunto é segurança, a economia fica em segundo plano. Com isso muitos optam por motos sem dispositivos eletrônicos como freios ABS e controle de tração, pois eles “encarecem” o preço final da motocicleta. Ou ainda pilotam sem equipamentos, como um bom capacete, jaqueta e luvas, alegando que são caros demais. Mas quando vale rodar com segurança? Existe um preço?
Certamente, a prudência e a pilotagem defensiva ainda são as melhores maneiras de se prevenir acidentes. Porém, atualmente, existem hoje no mercado modernos sistemas de freios e uma vasta gama de acessórios específicos para o motociclista rodar mais seguro.
Para sua moto
A Bosch, uma das líderes mundiais no fornecimento de tecnologia e serviços, desenvolve há anos um sistema de freios ABS especialmente para motos. Começou em 1994, quando a primeira geração do ABS para motocicletas foi criada pela empresa alemã.
Hoje o sistema desenvolvido pela Bosch está em sua nona geração, mais leve e menor — já equipa o modelo KTM 990 SMT ABS. Esse aparato é cerca de 60% mais leve e tem a metade do tamanho da primeira geração, criada na década de 90. O tamanho e o custo reduzido possibilitam que, no futuro, o ABS seja instalado também em motos de pequena cilindrada.
E é exatamente isso que já está acontecendo em todo o mundo. No Brasil, a Honda disponibiliza toda sua linha de 300 cc – a street CB 300R e a trail XRE 300 – com freios ABS. Além de equipar o scooter Lead 110 com freios combinados.
Tanto Honda como Kawasaki já vendem suas motos de média cilindrada com o sistema de freios antitravamento. Os freios ABS custam aproximadamente R$ 3.000 para uma Hornet (10% do valor da moto) e para uma XRE 300 (30% do valor da moto), prova de que o preço da segurança é o mesmo, não importando a capacidade.
Embora os consumidores considerem caro uma tecnologia que pode lhes salvar, os dados mostram que a consciência do motociclista brasileiro está mudando. Segundo a Kawasaki, dos 1.517 modelos da naked ER-6n comercializados em 2010, apenas 183 tinham o sistema de freios ABS, ou seja, 12% do total.
Agora em 2011 o quadro está mudando. Entre janeiro e maio foram vendidas 490 unidades da ER-6n, sendo 186 com os freios ABS. Neste ano, 38% dos compradores pagaram R$ 2.223 a mais pelos freios mais seguros – já que a naked de 600 cc com freios ABS custa R$ 28.943 e sem o sistema, R$ 26.720. Apesar de uma porcentagem ainda pequena, o aumento já superou a média de 2010.
A Honda também constata esse crescimento. A CB 600F Hornet em seu atual modelo chegou em 2008 nas versões standard e com o C-ABS. Na época que foi lançada, somente 10% das motos Hornet comercializadas tinham o sistema eletrônico de freios. Hoje esse número passou para 30% — o modelo 2011 standard da Hornet é vendido por R$ 33.260, enquanto que a versão com C-ABS sai por R$ 36.680. São R$ 3.000 que podem significar a diferença entre uma frenagem segura ou um tombo em piso molhado.
Para efeito de comparação, na Europa uma em cada dez motos fabricadas sai com ABS, enquanto no mundo esse número é de uma em cada cem, segundo estudo realizado pela própria Bosch.
Para você
Se nas motos o ABS e a prudência ajudam a evitar mais problemas, os equipamentos pessoais podem ser considerados um anjo da guarda. A começar por um bom capacete. Em média, um modelo confortável e certificado pelo Inmetro vai custar R$ 400.
A cultura do capacete, pelo menos, já está embutida na mente do brasileiro, ao menos nas grandes cidades. Já a necessidade de se pilotar com roupas apropriadas, como jaqueta, luvas e botas, parece não ser levada tão a sério. Talvez porque o preço ainda seja ‘salgado’, mas quanto custa a sua segurança?
Um conjunto formado por jaqueta e luva está custando em média R$ 750 – selecionamos modelos medianos de marcas reconhecidas no mercado. Faltaria ainda um calçado apropriado, que você desembolsará cerca de R$ 480. Ou seja, gastando R$ 1.200, o motociclista vai estar equipado e um escorregão acidental em uma mancha de óleo na pista não vai render mais do que alguns arranhões na motocicleta.
Mas esse gasto com equipamentos de segurança poderia ser menor, garante Daniel Malzoni Matos, sócio proprietário da Unique Motors e membro da ABRAMAS (Associação Brasileira de Moto Peças e Acessórios de Segurança). Segundo Matos, os acessórios não obrigatórios são vendidos como produtos comuns (roupas) e não como equipamentos de segurança, o que acarreta em maior tributação, aumentando o preço final. Malzoni sugere a criação de certificação especifica para acessórios como luvas, jaquetas, botas. “São itens essenciais, já que, em caso de queda, as mãos ou os pés são utilizados como aparo e, desprotegidos, sofrem sérias avarias”, explica.
Para isso o sistema de tributação teria de ser revisto, defende Douglas Mota, advogado tributarista da Demarest Almeida. “Em comparação com o sistema tributário de outros países, o estado deixaria de ganhar nas taxas, mas incrementaria a venda dos produtos de segurança – o que reduz gastos com aposentadorias compulsórias e sistema de saúde, por exemplo. Nos Estados Unidos, com essa visão, os capacetes são livres de impostos”, exemplifica.
Não tem preço
Fazendo todas essas contas, o motociclista gastaria em torno de R$ 3.000 para aumentar sua segurança. Vamos tomar como exemplo um motociclista que adquira uma Honda CB 300R com freios ABS. Logo na compra da moto ele vai gastar R$ 2.410 a mais – já que a versão standard tem preço sugerido de R$ 11.490 e o modelo com ABS, R$ 13.900. Para se equipar, seriam mais R$ 1.200, totalizando R$ 3.610. Vale a pena? Faça suas contas.