Carlos Vadalá (*)
Por onde quer que olhemos a questão dos riscos do transporte no Brasil, os números assustam. Para muitas empresas que precisam transportar produtos dentro do país ou para exportação ou importação, os riscos sempre são maiores no trecho nacional, o que encarece seguros e mercadorias e exige tecnologias e cuidados para preservar o patrimônio das empresas que já se assemelham ao necessário para lançar e monitorar foguetes que vão ao espaço. De modo geral, o Brasil perde mais de R$ 170 milhões por ano com roubos de cargas, muitas dessas ações praticadas por quadrilhas extremamente bem preparadas, que dominam, inclusive, tecnologias necessárias ao bloqueio de sistemas de monitoramento, interceptando sinais de satélites, bloqueando sinais de controle e fazendo desaparecer cargas em plena luz do dia e nas mais movimentadas estradas do país.
Por isso, quando uma empresa pensa em transportar produtos pelo Brasil, precisa pensar em proteção. E não estamos falando apenas das estradas desertas do interior, mas especialmente nas estradas de maior movimento e melhor estruturadas, que permitem várias opções de fuga aos assaltantes. No entanto, como não poderia deixar de ser, a questão do roubo de carga tem aspectos pouco comentados, mas que também merecem análise, como o envolvimento direto ou indireto, intencional ou não intencional, de empresas de transportes e motoristas em muitas dessas ações, o que exige das empresas que movimentam carga conhecer em detalhes, inclusive, a vida daqueles profissionais responsáveis pelo transporte de carga, assim como fazem as empresas que transportam dinheiro.
Mas enquanto muitos olham para o roubo de cargas como a principal ameaça que afeta o setor de transportes, o avanço das tecnologias de gestão de riscos começa a nos mostrar que há um inimigo ainda maior a ser combatido: a imprudência ou despreparo dos motoristas de caminhões, o que resulta em um número elevado de acidentes, até mesmo em estradas consideradas boas e bem fiscalizadas.
E por que prestar atenção nos acidentes? Porque se o país perde R$ 170 milhões por ano com roubos de cargas, perde mais de R$ 360 milhões todos os anos com acidentes, onde as mercadorias são danificadas ou perdidas porque o caminhão tombou, bateu ou caiu por uma ribanceira.
Se ainda é importante desenvolver tecnologias e ações que inibam o roubo de carga, algo que as operadoras de risco têm feito de modo intensivo e sistemático, falta ao país uma gestão de riscos mais eficaz no que diz respeito ao controle das ações dos motoristas, de modo a inibir excesso de velocidade, trabalho excessivo, comportamento nas curvas, aderência ao roteiro pré-estabelecido, paradas inesperadas, entre vários outros indicadores.
Um monitoramento eficaz destas atividades pode reduzir as perdas decorrentes por acidentes entre 70% e 80%, o que teria um impacto positivo inclusive para a sociedade por razões como produtos mais baratos e, a mais importante delas, redução da violência nas estradas e do número de mortes decorrentes de acidentes com caminhões.
Mas embora já exista tecnologia para isso, a adoção destas práticas por embarcadores e transportadores de carga diz respeito a aspectos ainda mais complexos, que envolvem a gestão de pessoas e o custo dos fretes hoje praticados. É fato que muitas empresas contratam motoristas agregados e exigem determinadas atitudes que, sem dúvida alguma, levam a situações de risco de acidentes por excesso de trabalho, o que um monitoramento eficaz inibiria. Nesse sentido, compromissos de práticas sustentáveis de relações de trabalho ajudariam as empresas a implantar soluções tecnológicas que reduziriam drasticamente perdas financeiras por acidentes, bem como permitiria salvar muitas vidas nas estradas brasileiras.
(*) Carlos Vadalá é Diretor da Komando Gerenciamento de Riscos e integrante da Câmara Setorial de Gerenciamento de Riscos do SESCON.