Transporte público ineficiente, recordes de congestionamento, combustível caro... Não importa o motivo, muitas pessoas têm visto nos veículos de duas rodas uma opção mais barata e rápida de se locomover nas grandes cidades. Depois de convencer a esposa (ou marido) ou a namorada (o) que a motocicleta pode não ser um veículo tão perigoso, chegou a hora de escolher sua primeira moto.
Surge então a dúvida: qual a melhor opção? Para os iniciantes que querem fugir do ônibus lotado ou trocar as quatro pelas duas rodas aconselha-se uma moto de baixa capacidade cúbica. Além de serem fáceis de pilotar, as pequenas são econômicas e driblam o trânsito urbano com desenvoltura.
Mesmo assim, o “futuro” motociclista vai ter de escolher entre inúmeros modelos. Há muitos anos, bastaria decidir se sua moto de 125cc teria motor quatro ou dois tempos. Porém, com o crescimento do mercado de motocicletas na última década, os fabricantes apostaram em outros segmentos, como CUB e scooters. Genuinamente urbanos esses dois estilos são excelentes para quem quer um veículo de duas rodas para ir e vir com economia e facilidade, mas têm suas limitações.
Para ajudar nessa escolha, a redação da INFOMOTO rodou diariamente com três legítimos representantes de cada categoria: a street Honda CG 125 Fan; a CUB Yamaha Crypton 115 e o scooter Dafra Smart 125.
Este não é um comparativo entre os modelos, pelo contrário. Não há a melhor entre elas, apenas a melhor para você. Cada uma das três motos de estilos diferentes tem suas características, vantagens e desvantagens.
O principal ponto para se levar em conta é o uso que cada um vai fazer destes veículos. Outro fator importante é o trajeto e a distância a ser percorrida diariamente.
Ciclística
Entre os modelos testados, apenas a Honda CG 125 Fan é uma motocicleta de “verdade”. A Crypton é uma CUB (Cheap Urban Bike) e o Smart é um scooter. A principal característica que diferencia a CG 125 dos outros estilos é que o piloto vai montado na moto, enquanto na scooter e na CUB o motociclista vai sentado.
Além disso, a moto tem quadro e suspensões mais robustos e rodas maiores (17 polegadas). Itens que garantem mais estabilidade em altas velocidades e enfrentam melhor o asfalto ruim de nossas vias.
Já os scooters têm rodas menores (no caso do Dafra Smart são de 10 polegadas) e foram projetados para o uso estritamente urbano, em velocidades mais baixas. A Yamaha Crypton tem rodas de mesmo diâmetro da CG (17”), porém seu quadro é do tipo underbone, comum na categoria. As CUB ou motonetas, aliás, podem ser consideradas um meio termo entre as motos e os scooters.
Outra grande diferença entre elas é o câmbio. A Honda CG 125 tem o sistema tradicional, ou seja, você precisar apertar a embreagem e trocar as marchas no pedal de câmbio com o pé. Já o Smart 125 traz transmissão continuamente variável que dispensa as trocas de marchas. No scooter o piloto só acelera e freia, as polias variáveis trocam a relação conforme aumento o giro do motor.
Já a Crypton tem o câmbio semiautomático com embreagem centrífuga. O motociclista ainda precisa trocar as marchas no pedal, porém não há manete de embreagem. O sistema tem funcionamento automático. Assim que se pisa no pedal, a embreagem é acionada permitindo a troca de marchas.
Desempenho
A diferença entre os sistemas de cada um dos modelos é fator determinante para escolher qual – uma street de 125cc, uma CUB ou um scooter – é a melhor opção para você.
O câmbio CVT e totalmente automático do Smart 125 é de longe o mais prático e fácil de pilotar. Ideal para enfrentar o trânsito urbano sem se preocupar em trocar de marcha ou apertar a embreagem, só acelerar e frear. Entretanto, o sistema não privilegia o desempenho e em modelos de baixa capacidade como o Smart limita a velocidade máxima. Sem falar que não há a possibilidade de reduzir uma marcha, caso haja uma subida íngreme pela frente. Mas se você roda apenas em ruas mais estreitas e não pega vias de trânsito rápido, um scooter é a opção ideal para você entrar no mundo de duas rodas.
Já a Crypton 115cc oferece o conforto da embreagem automática com a possibilidade de se escolher a marcha ideal. Além de bastante fácil para iniciantes, o sistema permite retomadas mais ágeis e velocidades finais melhores do que no scooter.
Outro ponto positivo da Crypton é seu pedal de câmbio com uma alavanca para o calcanhar, que permite a redução de marchas sem estragar o sapato. Essas qualidades fazem de outra CUB, a Honda 125 Biz, um sucesso: ocupa o posto de quarta moto mais vendida no Brasil em 2010.
Já a Honda CG 125 Fan salta na frente no quesito desempenho. Seu motor é o mais potente: 11,6 cavalos a 8.250 rpm (8,2 cv na Crypton e 10,3 cv no Smart). Mas nem é preciso ler a ficha técnica para chegarmos a essa conclusão. A possibilidade de escolher a marcha mais adequada e a embreagem manual fazem da CG 125 a mais rápida entre os três modelos – o que vale também para outras motos street em comparação com CUBs e scooters.
Se por um lado oferece desempenho para você até encarar uma rodovia, o câmbio da CG 125 vai exigir um pouco mais de treino, ainda mais se você é iniciante. Outro detalhe é que, caso você precise usar sapato, a constante troca de marchas no câmbio convencional vai estragá-lo com o uso.
Praticidade
Se levarmos em conta o quesito praticidade, vitória disparada para os scooters. Pequenos e fáceis de pilotar, ainda contam com espaço sob o banco e porta-luvas no escudo frontal para carregar pequenos objetos. Sem falar na comodidade de não precisar trocar de marchas, além de evitar a sujeira e os respingos de poças d’água.
A Crypton oferece também a praticidade do escudo frontal e do câmbio semi automático, mas por ter rodas maiores não oferece um bom espaço sob o banco. Já no caso da CG 125, o motociclista vai ter que escolher um calçado mais resistente e ainda instalar um bagageiro e um bauleto, caso precise transportar alguma coisa todos os dias, ou carregar uma mochila pra cima e pra baixo.
Uso e trajeto
Se até agora as características de cada um dos estilos mais o atrapalhou do que o ajudou a escolher seu primeiro veículo de duas rodas, chegamos aos quesitos determinantes para sua escolha. O uso que você fará do veículo e o trajeto que vai percorrer são fatores fundamentais.
Quer um veículo para percorrer os dez quilômetros de sua casa até o trabalho passando apenas por ruas e avenidas movimentadas? Vá de scooter. Prático, fácil e econômico, o Smart 125 vai agradar homens e mulheres que querem apenas fugir do trânsito.
Precisa usar sapato e circula por uma via expressa de trânsito mais rápido diariamente? Opte por uma CUB. Com desempenho superior aos scooters, rodas maiores e ainda com a facilidade de pilotagem, a Crypton 115 é um excelente meio de transporte, porém sem a praticidade do Smart.
Trabalha em outra cidade, trafega por uma rodovia e já tem mais experiência em duas rodas? Vá de 125cc. Afinal, a CG 125 Fan é uma motocicleta na definição do termo. Tem melhor desempenho, ciclística mais robusta e até 110 km/h acompanha os automóveis com facilidade. Vai exigir um calçado reforçado e mais “esforço” na pilotagem. A vantagem é que uma moto 125cc é versátil o bastante caso você decida pegar uma estrada.
Qualquer que seja sua escolha seja bem-vindo ao mundo das duas rodas. Não se esqueça de tirar carteira de habilitação (CNH) categoria “A”. Use sempre o capacete e equipamento de proteção e lembre-se: pilotar uma motocicleta, assim como qualquer outro veículo, exige cautela e atenção.
Opinião da redação
Por uma semana, nós da redação de INFOMOTO rodamos cada dia com um dos veículos apresentados. Somos todos motociclistas e esta não é nossa primeira moto. Leia a opção de cada um.
Aldo Tizzani, 40 anos, jornalista, roda 16 km por dia
Sou fã dos scooters. São práticos, confortáveis, econômicos, com boa capacidade de carga e acima de tudo são fáceis de pilotar. Basta ligar e acelerar. Em função de meu perfil e estilo de pilotagem, o scooter atende minhas necessidades. Da minha casa, na Zona Norte de São Paulo, à redação na região central são apenas oito quilômetros. Sempre rodando por vias planas e de grande movimento. Como o trânsito está sempre congestionado, o scooter circula entre os carros com desenvoltura. O inconveniente são as rodas de 10 polegadas que, em função de seu tamanho, não conseguem absorver bem os buracos de nossas vias. O scooter também não passa de 90 km/h, mas por que pressa? Além disso, o scooter parece ser um veículo “simpático” na visão dos motoristas, já que não carrega o estigma de ser veículo de trabalho. Agora eu sei por que o scooter faz tanto sucesso na Europa.
Lucas Rizzollo, 23 anos, jornalista, roda 20 km por dia
A minha escolha seria a Yamaha Crypton por conter diversas qualidades interessantes para quem procura um primeiro veículo de duas rodas. A primeira delas é a facilidade de condução, principalmente por pilotar “montado”. Além disso, ela é estreita e baixa tornando muito fácil para trafegar em grandes centros urbanos. Outros pontos positivos são o sistema de freio a disco, o marcador de combustível e o indicador de última marcha engatada. Como o meu trajeto no dia a dia é cheio de subidas na Crypton eu posso manter o motor “cheio”, reduzindo a marcha. Isso tudo sem me preocupar com embreagem ou com sujar a parte de cima o meu sapato.
Arthur Caldeira, 31 anos, jornalista, roda 50 km por dia
Moro no ABC paulista e todos os dias rodo pela rodovia Anchieta, onde a velocidade máxima é de 110 km/h. Apesar de ser fã dos scooters, minha opção seria a Honda CG 125 Fan por causa de seu melhor desempenho e da velocidade final maior. Outro ponto positivo é que com uma motocicleta de 125cc ainda dá para esticar até a praia. Para usá-la diariamente, porém, teria de gastar com bagageiro e baú para levar minhas tralhas.