“Bonita, hein? Pena que as motos da Yamaha são tão caras!”. Em um simples e inocente comentário, o frentista do posto de combustível conseguiu resumir a estratégia de marketing da Yamaha ao relançar a CUB Crypton no mercado brasileiro: aproveitar a imagem de qualidade associada à marca em um produto de entrada com preço mais acessível.
“Queremos explorar a qualidade, a tecnologia e a confiabilidade de nossa marca para enfrentar a concorrência”, declarou Minoru Matsumura, Gerente Nacional de Vendas da Yamaha, à época da apresentação da Crypton T 115, que chegou às concessionárias de todo o Brasil no final de abril.
Segundo pesquisas feitas pela marca, os consumidores das classes C e D estão mais exigentes e seletivos. E a Yamaha quer combater o crescimento das motos chinesas nesse segmento mais popular. “Com a chegada desses novos concorrentes, as grandes fábricas tiveram que mudar seus produtos”, disse Matsumura.
Motor maior e embreagem centrífuga
Aposentada há cinco anos, quando foi substituída pela Neo AT 115, a Crypton T 115 voltou, como o nome já denuncia, com um propulsor de maior capacidade cúbica. O motor de um cilindro, comando simples no cabeçote e refrigeração a ar, com pistão e cilindro em alumínio, tem agora 113,7 cm³, maior que os 105 da versão anterior.
A maior capacidade, porém, não resultou exatamente em um melhor desempenho. A mudança foi apenas um ajuste para atender às normas do Promot 3, a lei de emissão de poluentes para motocicletas atualmente em vigor.
Os números declarados pela própria Yamaha confirmam isso. Alimentado por carburador, o motor produz potência máxima de 8,2 cv a 7.500 rpm (na antiga eram 8,3 cv) e torque de 0,88 kgf.m a 5.550 rpm (contra 0,87 kgf.m do motor de 105 cc).
Apesar de modesto, o desempenho está de acordo com a proposta do modelo: ser uma alternativa acessível ao transporte público. Rodando na cidade, seja em vias locais ou em avenidas de trânsito rápido, a Crypton T 115 consegue acompanhar os carros e sair na frente nos semáforos. Até mesmo em vias expressas, como as marginais na capital paulista, consegue manter a velocidade de 90 km/h com facilidade.
Facilidade também para os iniciantes, já que a Crypton tem câmbio semi-automático com embreagem centrífuga. Não há manete de embreagem. Basta pisar no pedal para subir de marcha, ou seja, todas as quatro marchas são para “baixo”. Para reduzir, o pedal de câmbio conta com uma útil alavanca também no calcanhar. Mas diferentemente da Honda Biz, por exemplo, o câmbio não é sequencial: não se consegue passar da quarta para a primeira marcha, mesmo com a Crypton parada.
Receita já usada em outras CUBs, o motor pequeno e esse tipo de câmbio proporcionam, além da facilidade de pilotagem, bastante economia. A Yamaha Crypton rodou em média 38 km com um litro de gasolina. Chegou até mesmo a ter consumo de 40 km/litro. Fruto de outra novidade: a válvula solenóide de cut-off (que interrompe o fornecimento de combustível ao se tirar a mão do acelerador).
Mais simples
A versão testada foi a “K”, a mais simples e barata. Sem partida elétrica, a Crypton T 115 K pega com facilidade no pedal. Com quadro tubular em aço do tipo underbone, tem freios a tambor em ambas as rodas. A outra versão “ED”, mais cara (R$ 5.356,00), traz partida elétrica e disco na dianteira.
Pesando apenas 95 kg, a Crypton é uma “motinho” fácil de pilotar. Tanto por seu câmbio como por sua ciclística e posição de pilotagem. O piloto vai sentado na Crypton e conta com a proteção do escudo frontal contra respingos de poças d’água, vento e outros imprevistos. O câmbio também atrai as mulheres, pois permite que se use um sapato para pilotar. O que não é lá muito seguro, mas é prática comum entre as consumidoras.
As suspensões e as rodas raiadas de 17 polegadas garantem a robustez para enfrentar as esburacadas ruas paulistanas – e brasileiras em geral. Os freios a tambor – com 110 mm de diâmetro na frente e 130 m atrás – não oferecem aquela frenagem instantânea, mas dão conta do recado em função do desempenho modesto e do baixo peso da Crypton.
A simplicidade é tanta que faz falta maior espaço sob o banco: os 4,0 litros acomodam um par de luvas, carteira, e não muito mais que isso. Mas vale destacar o suporte da pedaleira da garupa fixado ao quadro, o que garante conforto ao passageiro.
Desenho atual e preço em conta
O Gerente de Vendas Minoru Matsumura é bastante direto ao posicionar a nova Yamaha Crypton T 115 no mercado nacional: “A Crypton é um meio termo entre a Honda Biz 125, mais cara e completa, e a Honda Pop 100, muito popular”.
A Pop 100, modelo de entrada da Honda com preço sugerido de R$ 3.990, além do motor menor, é considerada “feia” por muitos. Ao menos nesse quesito a Crypton ganha de goleada da concorrente.
Seu novo desenho tem linhas modernas, além do farol e lanterna reestilizados. Destaque para o conjunto de iluminação dianteiro com piscas integrados ao escudo, o que justifica o elogio do frentista.
O painel também é novo e mais completo: além do velocímetro, traz marcador de combustível e luzes indicadoras do ponto neutro e da quarta marcha engatada (TOP).
O preço sugerido da versão testada, a “K”, é de R$ 4.687. Acima da Pop 100, mas abaixo da Biz 125 KS (R$ 5.300). E bastante competitivo frente às concorrentes chinesas.
Uma grande novidade na comercialização da Crypton T 115 é o lançamento de uma nova modalidade de consórcio da fábrica. No novo plano de 60 meses, o consumidor paga 75% do bem até ser contemplado. O consorciado então escolhe entre pagar os 25%, referentes à diferença, no ato, ou diluir junto ao valor das parcelas restantes. As parcelas reduzidas são de R$ 75,77, a menor do mercado segundo a Yamaha. Uma maneira de aproveitar a imagem de qualidade da marca, mas sem ser uma moto cara.
Ficha Técnica Crypton T115
Motor Monocilíndrico, OHC, quatro tempos, refrigerado a ar
Potência máxima 8,2 cv a 7.500 rpm
Torque máximo 0,88 kgf.m a 5.500 rpm
Alimentação carburador
Capacidade do tanque 4,2 litros
Câmbio Quatro velocidades com embreagem semi-automática
Transmissão final por corrente
Suspensão dianteira garfo telescópico com 100 mm de curso
Suspensão traseira duplo amortecedor com 80 mm de curso
Freio dianteiro Tambor de 110 mm de diâmetro
Freio traseiro Tambor de 130 mm de diâmetro
Chassi tubular em aço
Dimensões (C x L x A) 1.930 mm x 660 mm x 1055 mm
Altura do assento 755 mm
Altura mínima do solo 126 mm
Entre-eixos 1.235 mm
Peso seco 94,9kg
Cores preto, vermelho e prata
Preço público sugerido R$ 4.687,00 (K)