Mesmo antes de divulgar os números de produção do mês passado, a Abraciclo, Associação Brasileira dos Fabricantes do setor, já divulgou uma nota no último dia de novembro projetando queda de 26% no mercado de motocicletas para 2009. Retração confirmada pelos números de vendas divulgados pela Fenabrave, federação dos distribuidores de veículos: 132.538 unidades vendidas em novembro – 0,31% a menos do que outubro. As vendas já acumulam queda de 18,57% de janeiro a novembro deste ano.
“O setor de duas rodas ainda não se recuperou dos efeitos da crise mundial. As exigências para liberação de crédito dificultam as vendas e afetam a produção”, resume Paulo Shuiti Takeuchi, presidente da Abraciclo, em nota divulgada à imprensa. Moacyr Alberto Paes, diretor-executivo da associação, em entrevista por telefone, afirmou: “a intenção de compra ainda existe, porém não se consegue a aprovação da ficha cadastral. As instituições financeiras estão muito exigentes”.
As vendas estão abaixo das expectativas o que gerou uma divergência entre a produção planejada e as vendas no atacado da líder de mercado, Moto Honda da Amazônia. A planta de Manaus (AM) paralisou a produção parcialmente entre setembro e outubro e completamente por quatro dias em novembro. “Está prevista também outra paralisação de um dia em dezembro”, revelou o diretor comercial da Moto Honda, Roberto Akiyama. Segundo o executivo, a fábrica deixou de produzir 70 mil motos nesses dias parados. “O objetivo é diminuir os estoques”, afirmou.
“Temos um cenário curioso. Ainda existe uma demanda pelo produto, porém nosso público consumidor, majoritariamente das classes C e D, precisa de crédito para comprar a motocicleta. E as exigências das instituições financeiras aumentaram muito. Atualmente, de cada 10 fichas cadastrais, apenas duas ou três são aprovadas”, analisou Akiyama.
Como conseqüência, a Honda deve ter queda de 5% no faturamento para a rede de concessionárias em 2009. “Mas nas vendas ao consumidor, que é o que movimenta o negócio, a queda deve ser maior: em torno de 12% abaixo de nossas expectativas”, completou.
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, engrossa o coro e afirma que o problema do setor de motocicletas é o perfil do comprador. “A grande maioria não preenche as atuais exigências para liberação de crédito”, diz ele.
Esperança
O setor, assim como a Abraciclo, que representa os maiores fabricantes, deposita a esperança em uma nova linha de crédito para motociclistas profissionais, que passou a ser disponibilizada pela Caixa Econômica Federal desde a última segunda-feira (30 de novembro).
Com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), a Caixa vai financiar motos e motonetas de até 150 cc para profissionais de entrega com motos, os motoboys. “Foram disponibilizados R$ 100 milhões e a linha de crédito vai até 30 de junho de 2010”, explicou Milton Kruger, superintendente nacional de clientes renda básica da Caixa. Até então o banco não financiava motocicletas.
Para Kruger é difícil prever quantos motociclistas profissionais vão procurar essa linha de crédito, porém, segundo ele, o mercado está confiante. “Existem cerca de 250 mil empregados nessa função de motociclista profissional em todo o Brasil. 90 mil deles no Estado de São Paulo”, estima o superintendente.
Com crédito de até R$ 8.000 para financiamentos de motos, em prazos que variam de 36 a 48 meses e juros a partir de 12% ao ano mais taxa de juros de longo prazo (TJLP), a linha de crédito da Caixa é mais atraente do que a de outros bancos, porém faz igualmente muitas exigências para a aprovação da ficha cadastral. “O motociclista terá de ser certificado pelo Poder Público. No caso de trabalhador autônomo precisará estar inscrito no INSS e se tiver vínculo empregatício terá de estar registrado no Cadastro Brasileiro de Ocupações sob o número 5191/10, ou seja, motociclista no transporte de documentos e pequenos volumes”, responde Kruger à pergunta de quem poderá solicitar o financiamento. Além disso, as parcelas não poderão ultrapassar 30% da renda mensal do consumidor e o financiamento pode chegar até 80% do valor do bem.
Outra exigência é que as motos cumpram a regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito para motocicletas de uso profissional, como mata-cachorro, antena corta linha, baú, entre outros itens. Por fim, o bem – a motocicleta – tem de estar segurado. “São exigências do CODEFAT (Conselho Deliberativo do FAT)”, justifica Kruger.
Com tantas exigências, Moacyr Paes, da Abraciclo, admite que o crédito da Caixa pode não refletir muito nas vendas. “A grande maioria dos motoboys trabalha no mercado informal. Espero que isso, ao menos, ajude na legalização de muitos profissionais”, conclui.