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China quer dobrar a produção de motos

29/09/2009 - 09:03 - Arthur Caldeira/ Agência INFOMOTO de Chongqing, China - Fotos: Gustavo Epifanio/ Agência INFOMOTO

A moderna arquitetura mescla vidro e aço e o imponente edifício do centro de exposições da chinesa Chongqing, com cerca de 40.000 m² de área, só não impressiona mais que a vitalidade desta cidade de 32 milhões de habitantes que, desde 1997, foi elevada ao status de província e é comandada diretamente pelo governo central da China. Arranha céus dominam a paisagem, trânsito carregado nas principais vias, milhares de prédios em construção e obras públicas por todos os lados marcam a metrópole, localizada entre os rios Jialing e Yangtzé, o maior da China e o terceiro maior do mundo.

O principal motor desse pólo de desenvolvimento que fica no centro oeste da China é a indústria automobilística e motociclística que, somadas, respondem por 71% da economia local. Em 2008, foram produzidos 1.090.000 automóveis (a quarta maior produção na China) e 10,63 milhões de motocicletas na cidade, o que lhe confere o título de capital das motos no país asiático. As principais montadoras chinesas de motocicletas têm plantas na cidade: Jialing, Lifan, Loncin, Qingqi, Shineray, Haojue e Zongshen, entre outras. Um terço das motocicletas exportadas para o mundo sai das linhas de montagem de Chongqing. 

Não à toa, a única feira nacional dedicada exclusivamente ao setor de duas rodas acontece em Chongqing. Neste ano a CIMAMotor (Feira Internacional do Mercado de Motocicletas Chinês) chegou a sua oitava edição e aconteceu entre 17 e 20 de setembro no moderno Centro de Exposições.

A feira se profissionalizou, cresceu. Passou a ser organizada pela UNIDO SPX-CQ, uma parceria entre a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial e a cidade de Chongqing, em conjunto com a VNU, uma empresa holandesa do ramo. E assim como tudo na China atual o tamanho e os números do evento impressionam: 333 expositores em mais de 40.000 m², dos quais 27 eram montadoras chinesas de motos representando mais de 70% do mercado. Quatro vezes maior que a edição 2008 do CIMAMotor. Durante os quatro dias de feira mais de 50.000 mil pessoas conheceram as principais novidades do segmento de duas rodas.

Um mercado em expansão

Não fossem pelos ideogramas chineses e marcas desconhecidas, o visitante incauto poderia imaginar que se tratava de um enorme e tradicional salão de motos europeu. Afinal, o moderno pavilhão de exposições de Chongqing é bem imponente e trazia uma enorme faixa com a imagem de uma esportiva Suzuki GSX-R, marca japonesa que, aliás, também estava presente à CIMAMotor.

Porém alguns detalhes davam cores chinesas à exposição. A começar pelo exército de funcionários das fábricas todos usando roupas azuis. Apesar da mesma cor, cada exército de operários “azuis” representava a fábrica para a qual trabalhavam identificados pelo nome da companhia escrito nas costas. Uma cena inusitada na formal cerimônia de abertura. Em seguida um tímido show de acrobacias sobre duas rodas fez com que todos ficassem boquiabertos.

No piso térreo do pavilhão, dedicado às montadoras, grandes estandes mostravam que as marcas chinesas descobriram a importância de se investir em marketing. Nada de estandes discretos e sisudos, pelo contrário. As fábricas chinesas disputavam a atenção dos visitantes com shows mirabolantes e música alta (até demais). Ao todo cerca de 100 novos modelos de motocicletas foram lançados no evento. No estande da Loncin, que produz 300.000 motos por ano, um desajeitado robô imitando os Transformers chamava a atenção do público para conhecer os lançamentos da marca e parecia anunciar a transformação pela qual passa a indústria chinesa de motos.

Para Wang Wei, diretor da UNIDO SPX-CQ, a indústria de motos chinesa pode crescer ainda mais nos próximos anos. Mesmo que os 27 milhões de unidades produzidas em 2008 já garantam à China a posição de maior produtor de motocicletas do mundo. “As vendas para o mercado externo têm crescido de 20 a 40% nos últimos anos, porém o mercado interno só aumentou 15%”, lamenta Wang. Em função da crise financeira mundial as exportações de motos em 2009 devem crescer somente 10% - mesmo assim acima dos 8% de aumento do PIB chinês projetados para este ano.

Principal desafio

Mesmo que as motos chinesas pareçam estar em todos os países, como resumiu o presidente da Jialing Group, Guong Pin - “em todos os lugares onde há uma motocicleta rodando, há uma motocicleta de origem chinesa” – o principal desafio na visão do diretor da UNIDO de Chongqing é alavancar as vendas domésticas. “É o principal mercado para as fábricas de motos chinesas”, declara ele para a surpresa de todos.

Dos 27 milhões de motos produzidas na China, “somente” 15 milhões são vendidas dentro do país. Pouco se considerarmos a população de 1,3 bilhão de habitantes. O principal entrave são as leis que restringem a circulação de motos em muitas cidades, como por exemplo, Xangai. Nas estradas e rodovias também não podem circular motos, mesmo as de grande capacidade cúbica, como as Harley-Davidson e Ducati, que estavam expostas no CIMAMotor 2009.

Chongqing é uma das poucas exceções, talvez por pressão dos fabricantes ali instalados. Nas avenidas e ruas, podem-se ver algumas motos de baixa cilindrada circulando, porém poucas se levarmos em consideração o trânsito caótico e o número de motos ali produzidas.

Porém quando se trata de leis e regras do governo central, as respostas são evasivas. Os fabricantes esperam que isso mude, mas não defendem a bandeira abertamente. Resultado de quase 60 anos (que serão completados em 1º de outubro) de um governo comunista e autoritário e encabeçado pelo Partido Comunista Chinês que restringe liberdades individuais e de imprensa.

“Podemos atingir 50 milhões de motos produzidas por ano”, aposta Guong Pin, presidente da Jialing. Ou seja, praticamente o dobro do que é produzido atualmente. Grande parte dessas motos seria destinada aos chineses, creem os fabricantes. Já que, em breve, a população chinesa deve se tornar majoritariamente urbana e vai buscar um meio de locomoção acessível e barato.

O grande salto

Mas não é apenas o mercado chinês de motos pequenas – entre 50 e 90 cc – que a CIMAMotor quer fomentar. Harley-Davidson, Ducati, Yamaha, Suzuki estavam presentes ao evento expondo suas motos de grande capacidade cúbica. Todos de olho nas centenas de milionários chineses que o assombroso crescimento econômico faz surgir todos os anos. Apesar do comunismo, marcas como BMW, Audi, Ferrari, Gucci, Prada, Salvatore Ferragano, entre outras, já fazem parte do imaginário chinês. As motos de luxo também querem seu espaço.

Presente na China desde 2005, a Harley tem revendas em Pequim, Xangai e Hong Kong. Porém ainda enfrentam as restrições para aumentarem suas vendas. “Convidamos motociclistas de toda a China e queremos incentivar o uso da moto como lazer”, declarou Wang Wei, da UNIDO.

As fábricas chinesas também querem difundir a cultura de duas rodas em seu país. Prova disso são os lançamentos de 250cc ou até mesmo de maior capacidade cúbica de marcas como a Jialing e Zongshen. A Shineray apresentou na feira a X2, a primeira moto off-road profissional fabricada na China. “Comando duplo de válvulas, refrigeração líquida e balança de alumínio”, explicava orgulhoso Victor Huang, gerente de vendas da marca. “Os amortecedores também são reforçados e estamos disputando campeonatos internacionais com esse modelo de 250cc”, completou Huang. Mostrando que a indústria de motos chinesas está pronta para dar um grande salto.

* A Agência INFOMOTO viajou a convite da UNIDO SPX-CQ

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