O frentista do posto olhou-me estranhamente ao ouvir o pedido: “Por favor, completa com álcool”. Tudo bem, ele ainda não conhecia a Honda CG 150 Titan Mix, a primeira motocicleta bicombustível do planeta, que roda com álcool, gasolina ou a mistura de ambos os combustíveis.
Apesar de saber da novidade, também desconhecia como seria o comportamento da Mix com o tanque cheio de álcool e o frio intenso que fazia em uma véspera de feriado de Corpus Christi.
As condições não eram as melhores para iniciar um teste, mas como diz o ditado popular “quem está na chuva é pra se molhar”. Debaixo de muita água a Mix foi serpenteando no caótico trânsito paulistano em horário de pico.
Nem tão melhor assim
Algumas dúvidas pairavam sobre a CG Mix totalmente abastecida com álcool. O desempenho seria melhor que a versão com gasolina, como dava a entender a ficha técnica? Haveria problemas para o motor funcionar e andar os primeiros quilômetros em baixa temperatura?
A partida elétrica (presente na versão ESD testada) fez com que a motocicleta pegasse “de primeira”. Ao sair com a Titan Mix, a luz “ALC” acendeu no painel e a atenção foi redobrada.
A CG Mix demonstrava o típico comportamento de veículos a álcool nos primeiros quilômetros: “buracos” nas acelerações e a marcha lenta inconstante, sendo necessária a aceleração para a moto não morrer. Depois de alguns quilômetros a marcha lenta se estabilizou e a novidade da Honda seguiu rumo ao interior paulista pela Rodovia dos Bandeirantes com muita chuva, frio e vento contra.
O desempenho superior oferecido quando abastecida álcool é imperceptível, mesmo com a ficha técnica apresentando um aumento considerável no torque: 1,45 kgf.m a 6.500 rpm com combustível vegetal e 1,32 kgf.m no mesmo regime de giros quando abastecida com gasolina. O aumento de potência é insignificante, 0,1 cv: 14,3 cv somente com álcool no tanque contra 14,2 cv aos mesmos 8.500 rpm abastecida com combustível fóssil.
A CG que tem sede
Abastecida com álcool, tempo frio e sofrendo com o forte vento contrário na estrada, era de se imaginar uma sede insaciável da pequena Honda pelo combustível vegetal. Resumindo: a CG 150 Titan Mix não teve “vida fácil” durante o teste. Ao calcularmos a média, um resultado bastante positivo para as condições: 29,2 quilômetros percorridos com um litro de álcool.
Com essa média de consumo, o tanque de 16,1 litros projeta uma autonomia de 465 quilômetros, respeitando uma margem de 4 km para não ocorrer pane seca, já que a novidade não tem torneirinha de combustível nem indicador de reserva. É bom lembrar que essa média pode melhorar bastante sem os fatores climáticos que acompanharam a primeira fase do teste da CG Mix.
No segundo abastecimento, a Mix recebeu três litros de gasolina e o restante do tanque foi completado com álcool. Era de se esperar que nenhuma luz acendesse no painel. Mas ao dar a partida – pegou na primeira tentativa mesmo com baixa temperatura – e sair com a motocicleta, a luz “MIX” acendeu e permaneceu assim até o próximo abastecimento.
Depois de rodar pelas estradas paulistas sem dó do acelerador era hora de ir ao posto encher o tanque novamente – dessa vez com a quantia mínima de gasolina no tanque para partidas no frio – uma média um pouco mais baixa: 27,55 quilômetros por litro.
As luzes que confundem o usuário
O sistema da Honda CG 150 Titan Mix não é idêntico ao dos carros flex por exigir um mínimo de 20% de gasolina no tanque para garantir partidas a frio. A Mix tem duas luzes no painel: “MIX” e “ALC”. Segundo o fabricante, quando a luz “MIX” acender é necessário colocar ao menos dois litros de gasolina. Se as duas luzes acenderem será necessário adicionar no mínimo três litros de gasolina no tanque para garantir a partida a frio. Se ao virar a chave de ignição somente a luz “ALC” piscar, atenção: o teor de álcool no tanque é alto e a temperatura ambiente é baixa, o que significa dificuldades para dar a partida. Aos mais desatentos há um adesivo no tanque explicando o que se deve fazer quando alguma das luzes acender. Na teoria é o que o parágrafo explicou, mas na prática a realidade é diferente. Já que mesmo seguindo as orientações a luz “MIX” permaneceu acesa.
Ao questionar a engenharia da Honda sobre as luzes “MIX” e “ALC”, chegamos às conclusões. A luz “ALC” acende quando há mais de 85% de álcool no tanque e a luz “MIX” acende para avisar que tem os dois combustíveis no tanque. Em poucas palavras, quem utilizar álcool para abastecer a CG Mix, vai conviver com uma das luzes sempre acesa no painel.
Durante o teste, a temperatura ambiente era muito baixa e, mesmo assim, a CG Mix pegou na primeira tentativa todas as vezes pela manhã (alguns dias a moto passou a noite propositalmente no sereno) e a luz “ALC” não piscou nenhuma vez ao ligar a ignição.
Uma situação que o proprietário da CG Mix está sujeito é: ele pode completar o tanque com 100% de álcool e estacionar a moto à noite. Vamos supor que, ao anoitecer, a temperatura caia bruscamente. Será bem difícil dar a partida na moto pela manhã (como também não pode pegar, devido a ausência do tanque auxiliar de partida a frio). E ao pegar, terá o funcionamento irregular típico dos carros a álcool nos primeiros metros. Uma dica para não vivenciar essa situação a bordo de uma CG Mix é abastecer a moto com no mínimo três litros de gasolina de boa qualidade e se habituar à luz “MIX” acesa no painel.
Na ponta do lápis
Por falar em abastecimento, é bom ficar atento com os preços dos combustíveis. Analisando os preços fornecidos pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) há regiões onde os valores cobrados pela gasolina e álcool chegam a 100% de diferença, caso da região Sudeste. No Sul a variação de preço é de 74,31%, seguido pelas regiões Centro Oeste (67,52%), Nordeste (52,63%) e Norte (44,74%). Colocar na ponta do lápis o consumo da motocicleta em todas as condições, o quanto roda por mês e o preço dos combustíveis em sua região são atitudes sensatas a se fazer, para economizar combustível e dinheiro.
Além da diferença de preço entre gasolina e álcool, outro fator importante é o consumo da CG 150 quando roda com diferentes combustíveis. No teste anterior com a CG 150 2009 rodamos 41,2 km com um litro de gasolina. É preciso fazer algumas contas para saber se vale a pena pagar a diferença de cerca de R$ 300 entre o modelo Mix e o tradicional, a gasolina.
Vamos supor que um motociclista paulistano rode 3000 km por mês com sua Titan a gasolina e pague R$ 2,39 o litro do combustível fóssil. Com o consumo de 41,2 km/ litro ele gastaria R$ 174,03 no final do mês.
Já no caso da CG Mix, considerando-se que rode a mesma distância e pague R$ 1,09 no litro do álcool, o motociclista faria uma boa economia no final do mês. Com uma média de consumo de 29,2 km/ litro, ele gastaria mais de 102 litros de álcool, porém pagaria R$ 111,98. Lembrando que esses valores são praticados em postos da capital paulista.
São mais de R$ 60,00 por mês de economia. O que significa que em cinco meses, o motociclista paga a diferença de preço de R$ 300 entre os dois modelos – a gasolina e Mix. Portanto, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste vale a pena optar pela CG 150 Titan Mix.
A bicombustível da Honda está disponível nas cores prata metálico, azul metálico, vermelha e preta. As versões oferecidas são três: KS (freios a tambor e partida a pedal), ES (freios a tambor e partida elétrica) e a top de linha ESD (freio dianteiro a disco e partida elétrica). Os preços sugeridos são R$ 6.151 (versão KS), R$ 6.683 (versão ES) e R$ 7.071 (versão ESD).
FICHA TÉCNICA Honda CG 150 Titan Mix ESD
Motor Monocilíndrico, quatro tempos, 149,2 cm³, duas válvulas por cilindro e refrigeração a ar
Diâmetro x curso 57,3 mm x 57,84 mm
Compressão 9,5: 1
Potência máxima 14,2 cv a 8.500 rpm (gasolina) e 14,3 cv a 8.500 rpm (álcool)
Torque máximo 1,32 kgf.m a 6.500 rpm (gasolina) e 1,45 kgf.m a 6.500 rpm (álcool)
Alimentação Injeção eletrônica PGM-FI
Câmbio 5 marchas
Transmissão Corrente
Chassi Diamond
Suspensões
Dianteira Garfo telescópico
Traseira duplo amortecedor
Rodas e Pneus
Dianteiro 80/100-18 - Pirelli City Demon
Traseira 90/90-18 - Pirelli City Demon
Freios
Dianteiro Disco simples de 240 mm de diâmetro com cáliper de dois pistões
Traseiro tambor de 130 mm
Comprimento 1.988 mm
Largura 730 mm
Altura 1.098 mm
Altura do banco 792 mm
Entre-eixos 1.315 mm
Peso (a seco) 120 kg (versão ESD)
Tanque de gasolina 16,1 litros
Cores: azul metálica, prata metálica, vermelha e preta
Preço sugerido: R$ 7.071 (versão ESD)