O Programa de Inspeção Veicular criado pela Prefeitura de São Paulo entrou em sua segunda fase em 2009. Com isso desde 2 de fevereiro, além dos veículos a diesel e automóveis (fabricados a partir de 2003), todas as motocicletas (exceto as com motores dois tempos) estão obrigados a passar pela inspeção, que se limita apenas a verificar a emissão de poluentes.
Ao final da primeira semana, a grande polêmica ficou por conta da alta taxa de reprovação das motocicletas. Segundo dados da Controlar, única empresa responsável pela inspeção na capital paulista, das 389 motos inspecionadas 12 foram rejeitadas na inspeção visual e 87 reprovadas no teste de emissão de gases. Ou seja, 25%.
A inspeção visual verifica o funcionamento do motor, vazamento de óleo e fumaça aparentes e também o sistema de exaustão. Ao ser aceita no teste visual, a moto passa pela medição computadorizada da emissão de gases, que afere a emissão de monóxido de carbono e hidrocarbonetos e também a diluição dos poluentes. Apesar de a empresa divulgar que a emissão de ruídos também seria verificada, no Centro de Inspeção da Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, o procedimento não estava sendo realizado nas motocicletas. Segundo um técnico, que preferiu não se identificar, os ruídos das motos serão medidos a partir do próximo ano.
Polêmica
Como na primeira semana a reprovação entre as motos foi alta, pode-se supor que muitas das motos que rodam em São Paulo são grandes vilãs da poluição. Porém, a questão não é assim tão simples.
“Temos de levar em consideração que os automóveis inspecionados têm no máximo seis anos de uso. No caso das motos, a inspeção vale para todas, independente do ano de fabricação”, afirma Moacyr Alberto Paes, diretor-executivo da Abraciclo, associação dos fabricantes do setor de duas rodas.
Outro fator que pode influenciar nesta alta taxa de reprovação é que o índice de monóxido de carbono admitido pela Inspeção Veicular em São Paulo tem valores estabelecidos em uma porcentagem do volume – no máximo 9% para as motos fabricadas antes de 2002. Porém, para a homologação junto ao Ibama e atender ao Promot o índice é medido em massa. “Desconhecemos as razões para os valores estabelecidos para a inspeção em São Paulo”, completa Paes.
O limite de diluição dos poluentes também gera polêmica. “Não sabemos que fórmula química é esta utilizada pela Controlar”, afirma o diretor da Abraciclo. Os fabricantes e a associação tiveram somente uma reunião com a Secretaria Municipal competente, poucos dias antes da entrada em vigor da nova lei, mas sem a presença da Controlar. “Levamos os departamentos de engenharia das montadoras para estabelecermos padrões para a medição. Porém não sei dizer se estão sendo cumpridos”, diz.
A Abraciclo já solicitou os dados oficiais, mas até agora não foi atendida. “Na próxima semana devemos acompanhar as inspeções. Queremos ajudar, mas não temos acessos aos dados”. A associação ressalta que todas as motocicletas fabricadas no Brasil, desde 2003, seguem as rígidas normas do Promot.
O diretor-executivo da Abraciclo ainda tece outras críticas à Inspeção Veicular na cidade de São Paulo. “A Inspeção Veicular que deveria ser feita, levando em conta diversos itens de segurança, ainda não saiu do papel. Esta inspeção em São Paulo preocupa-se apenas com a poluição”, diz ele, referindo-se ao fato de que itens de segurança, como pneus, freios, iluminação, entre outros, são deixados de lado. Fato comprovado pela reportagem da INFOMOTO na visita ao Centro de Inspeção da Barra Funda. Nem motos ou carros eram inspecionados quanto ao estado dos pneus, faróis, lanternas, etc.
Como ser aprovado?
Mas como a lei está valendo e a não realização ou a reprovação na inspeção para as motos registradas na cidade de São Paulo pode gerar multa de até R$ 550,00 e bloquear o licenciamento do veículo, procuramos as montadoras com o intuito de orientar os motociclistas.
A Yamaha admitiu que, por meio de sua rede de concessionários, foi notificada sobre duas reprovações de motocicletas da marca. Ambas reprovadas no polêmico teste de dispersão de poluentes, sendo que uma apresentou fator de diluição inferior a 1 e a outra, acima de 2,5 – o admitido está entre 1 e 2,5. Em nota, a empresa afirmou: “a área de engenharia está investigando as possíveis razões, que podem decorrer de vários fatores: desde a regulagem incorreta da marcha lenta, passando pela regulagem da mistura ar/combustível até eventual uso de combustível adulterado. Contudo, ainda não temos resposta exata sobre os casos”.
Porém, a Yamaha orienta seus clientes a realizar uma revisão completa, seguindo suas especificações. “Cuidados com cabos, velas, e filtros são essenciais”, afirma seu comunicado. Ressalta ainda que é importante preservar os componentes originais, especialmente os itens do sistema de alimentação e exaustão.
Apesar de as concessionárias Yamaha não contarem com equipamentos para a aferição da emissão de gases, a empresa recomenda que seus clientes realizem as revisões nesses locais já que, segundo a empresa, os técnicos estão habilitados a realizar ajustes conforme as especificações da fábrica. “Por fim, a motocicleta ajustada e abastecida com combustível de origem confiável, se aferida da maneira correta, deve ser aprovada na inspeção”.
Já a Honda não quis se pronunciar sobre a Inspeção Veicular. Insistentemente procurada por nossa reportagem, a empresa, líder de mercado, limitou-se a emitir uma nota por escrito, por meio de sua assessoria de imprensa: “Estamos acompanhando o processo de inspeção veicular pela mídia e não conhecemos os métodos empregados, o que inviabiliza qualquer análise mais aprofundada. Sugerimos consultar diretamente a Controlar, que possui os dados oficiais e a metodologia das inspeções, ou até mesmo a Abraciclo, que pode responder em nome do segmento de duas rodas”.
A Honda não quis nem mesmo orientar seus clientes sobre que cuidados ter com a moto e também se negou a dizer se suas concessionárias estariam aptas a realizar revisões antes das inspeções.