Quando se fala em agentes poluidores, a motocicleta é sempre citada como a vilã da história. O veículo de duas rodas ficou rotulado na mídia por emitir mais monóxido de carbono (CO) na atmosfera que os carros. Mas, muitas vezes, essa comparação é feita de forma equivocada: motos usadas e automóveis “novinhos em folha”. Aí não é justo! Porém esta lengalenga acaba em janeiro de 2009, quando entra em vigor a nova lei de emissões de gases – o Promot 3 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares), que visa reduzir drasticamente a emissão de poluentes pelas motocicletas. A partir do ano que vem carros e motos se equivalem no que diz respeito à emissão de níveis de emissão de poluentes. Ou seja, 2 gramas de CO por km. Assim, o “Promot 3 e os Impactos no Setor Duas Rodas” foi um dos temas discutidos durante o Congresso SAE BRASIL 2008, realizado no dia 8 de outubro, em São Paulo (SP).
Para Renato Linke, gerente do Setor de Engenharia Automotiva e Certificação da Cetesb, o setor de duas rodas respondeu rapidamente às novas metas de emissão de poluentes. “A próxima fase do Promot será implantar controle diretamente na produção. Porém temos poucos laboratórios para as análises e este é nosso principal gargalo. No Brasil só os grandes fabricantes – Honda e Yamaha – tem os equipamentos em Manaus (AM)”, explica o gerente da Cetesb.
Investimentos
Novos investimentos estão surgindo na área de análise e certificação de novos produtos. Boas iniciativas não faltam. A Dafra, por exemplo, está investindo R$ 8 milhões em um dos mais modernos laboratórios de controle de emissão de poluentes do País. A montagem de laboratório próprio não é uma obrigatoriedade para o fabricante, mas permitirá maior velocidade no lançamento de novos modelos.
Além disso, a Cetesb, o Ibama e a Suframa, em parceria com a Abraciclo (associação que reúne os fabricantes de motocicletas), estudam a possibilidade de montar um laboratório exclusivo para medições no segmento de duas rodas e, assim, controlar o nível de emissão praticamente na linha de produção. Em 2009, a Delphi também deve fazer investimentos neste sentido.
Novos produtos
Durante o SAE Brasil, Alfredo Guedes Jr., analista da Honda South America, fez uma breve explanação sobre os avanços tecnológicos e as mudanças nos sistemas de emissões dos produtos Honda para atender à nova lei. O maior exemplo é a nova Biz 125, primeira moto de baixa cilindrada equipada com injeção eletrônica do Brasil. Mas hoje, quais os modelos Honda que já estão de acordo com o Promot 3. Guedes Jr. foi categórico. “Somente as motos importadas e os modelos 2008/2009”.
Porém, como a Honda ainda não apresentou as versões 2008/2009 de vários de seus modelos, podemos supor que a marca líder de mercado têm muitas novidades, principalmente nas linhas que utilizam motores 125 (CG Fan), 150 (GC Titan e Bros), 250 (Twister e Tornado) e 400 cc (NX4 Falcon). Agora é esperar o que vem pela frente: modelos mais modernos, econômicos e com baixa emissão de poluentes.
Liberdade de escolha
A Delphi e a Bosch, duas gigantes da indústria de componentes para o setor automotivo, também estão investidos em tecnologia para que as motocicletas rodem com dois combustíveis, no caso gasolina e álcool.
No ano passado, a Delphi apresentou o sistema Moto Multi Fuel. Além de permitir que as motos operem com qualquer proporção de combustível (gasolina ou álcool), o sistema reduz a emissão de gases do efeito estufa. A tecnologia de injeção eletrônica Multi Fuel da Delphi estará presente na AME Amazonas 300. O modelo custom será a primeira motocicleta bi-combustível do Brasil. Com motor de 300 cm³, que produzirá 22 cv de potência máxima, as vendas devem começar em março com preço de cerca de R$ 13 mil.
Para Orlando Volpato Filho, supervisor de Engenharia da Delphi, as novas tecnologias visam reduzir custos e potencializar o desempenho dos sistemas. Além, de uma maior economia na hora de encher o tanque.
Já a tecnologia Flex Fuel da Bosch também está pronta para entrar no mercado de duas rodas. Aliás, a Bosch já oferece sistema de injeção eletrônica de combustível para motocicletas desde 1989, por intermédio de seu Centro de Competência para Duas Rodas, que fica na China. Experiência e know-how a empresa tem. Agora só falta saber qual a montadora instalada no País que irá ser a primeira a utilizar a tecnologia bi-combustível da Bosch. As negociações estão em curso, mas correm em sigilo absoluto.