Com a chegada este mês do furgão médio Jumpy à sua rede de 106 concessionárias, a Citroën começa a explorar um novo segmento de mercado, com linha de utilitários que até o meio de 2018 deve receber o reforço de outros quatro produtos: a versão de passageiros da Jumpy a partir do início do ano, a furgoneta Berlingo em março e, em junho, opções de carga e passageiros da Jumper, van de porte maior. “Mais que um novo produto, o Jumpy dá início à abertura de uma nova fronteira comercial da Citroën no país, que passa a ter seu foco também na comercialização de veículo comerciais leves”, afirma Paulo Solti, vice-presidente do Grupo PSA América Latinas e diretor geral da Citroën do Brasil.
“Com todos os cinco modelos na lista de ofertas, o segmento deverá representar perto de 15% das vendas da marca no mercado brasileiro”, estima o executivo. A projeção é aumentar a participação da marca nas vendas do mercado brasileiro de comerciais leves de apenas 1,3% em 2017 para 6% em 2018, alcançando 12% até 2021.
Na ofensiva de lançamentos de veículos utilitários leves que planejou para a América Latina, o Grupo PSA traçou estratégia espelhada na região para suas duas marcas, Citroën e Peugeot – que também em outubro está lançando exatamente o mesmo furgão médio, de iguais dimensões, powertrain e preços, mas com nome Expert e seu leão-símbolo na grade dianteira; e que terá em idêntico horizonte de tempo a mesma linha espelhada de produtos, a versão de passageiros da Expert chamada Traveller, a furgoneta Partner e a van Boxer. “Temos a mesma experiência bem-sucedida na Europa, onde lideramos o segmento de comerciais leves com cerca de 20% de market share somando as duas marcas. Dessa forma preenchemos melhor os espaços do mercado e temos uma concorrência benéfica dentro de casa”, justifica Carlos Gomes, presidente do Grupo PSA na América Latina.
No plano de crescimento do Grupo PSA na América Latina, de fazer as vendas de Peugeot e Citroën saltarem do atual nível de 200 mil veículos este ano para 300 mil até 2021, os modelos utilitários deverão representar cerca de 20% do total, dobrando o volume de 30 mil unidades comercializadas na região em 2015 para 60 mil na virada da próxima década. “É uma área ainda a ser explorada, com poucas marcas e opções. Por isso vemos grande oportunidade de crescer, usando a grande experiência que já temos na Europa”, projeta Gomes. Ele estima um mercado latino-americano de 920 mil comerciais leves em 2017, sendo 305 mil no Brasil, 245 mil no México e 178 mil na Argentina. É algo como 16% do mercado total, do qual a PSA hoje tem perto de 5%. “Com a nova linha de produtos, já em 2018 deveremos vender perto de 50 mil utilitários na região”, avalia. Apesar da participação no segmento ainda muito baixa no Brasil, de apenas 0,6%, o grupo tem 12% de penetração na Argentina e 10,3% no Chile.
O Grupo PSA adotou estratégia de múltiplas fontes de fornecimento para sua nova gama de utilitários que começa agora a ser vendida na América Latina. Os furgões médios Citroën Jumpy e Peugeot Expert estão sendo montados pela Nordex no Uruguai, com grande quantidade de componentes importados, mas ainda assim enquadrados nos índices de nacionalização do Mercosul, de no mínimo 50% no caso uruguaio, para ser comercializados entre os países-membros sem aplicação de imposto de importação. As versões de passageiros serão adaptadas no Brasil, na fábrica do grupo em Porto Real (RJ). As novas furgonetas Berlingo (Citroën) e Partner (Peugeot) são produzidas na Argentina, onde devem ser lançadas em dezembro próximo. Por fim, as vans Peugeot Boxer e Citroën Jumper, que até o ano passado eram feitas no Brasil na mesma linha da Fiat Ducato, em acordo de produção mantido com a Iveco na planta de Sete Lagoas (MG), passarão a ser importadas completas da Itália para os mercados latino-americanos. “Mesmo assim conseguiremos manter preços competitivos”, promete Carlos Gomes.
Calibrados para competir
Tanto Peugeot quanto Citroën ajustaram o custo-benefício dos seus furgões médios Expert e Jumpy que chegam agora ao mercado brasileiro para competir pelas primeiras posições do segmento. Os concorrentes nomeados são versões parecidas de Renault Master, Mercedes-Benz Vito e Sprinter, além dos minicaminhões Kia Bongo e Hyundai HR. É um subsegmento de comerciais leves médios que vem caindo nos últimos anos, somou 13,3 mil unidades vendidas em 2015, baixou para 8,4 mil em 2016 e não deve passar de 8,2 mil este ano. Mas a expectativa é que, com a volta do crescimento econômico, as vendas cheguem perto de 9,5 mil veículos em 2018 e sigam em expansão sustentável nos próximos anos.
“Existem condições para a volta do crescimento nas vendas de furgões médios”, afirma Lucas Lins, chefe de produto da Citroën, citando as restrições cada vez maiores para circulação de veículos comerciais pesados em grandes centros urbanos como São Paulo e o aumento das entregas urbanas rápidas (que exigem veículos ligeiros), além do avanço de pequenas empresas e autônomos. Nesse cenário, a Citroën identifica que 89% dos clientes do Jumpy serão pequenos frotistas que têm de um a cinco veículos.
Os preços já anunciados de Peugeot Expert e Citroën Jumpy são iguais e bem mais baratos que o concorrente de tamanho mais próximo, o Vito da Mercedes-Benz. Ambos os veículos terão apenas duas versões, partindo de R$ 79.990 em promoção de lançamento, que depois passará a R$ 83.990. A versão mais simples já inclui itens como direção assistida eletrohidráulica, computador de bordo, volante com regulagem de altura, airbags frontais, freios com ABS (antitravamento), controle eletrônico de estabilidade (o ESP da Bosch), assistente de partida em rampa, rádio AM/FM com MP3, acionamento elétrico de vidros e travas e banco do motorista com regulagem de altura.
Por R$ 87.990 (ou R$ 91.990 após a promoção de lançamento) agrega-se ar-condicionado, faróis de neblina e o sistema ModuWork, mecanismo que levanta o assento do passageiro e elimina do lado direito a divisória existente entre a cabine e o compartimento de carga, para ampliar o espaço de carga e levar materiais de até 4 metros de comprimento sobre o assoalho.
Foram desenhados planos de financiamento exclusivos para o novo furgão, com taxas competitivas, entrada a partir de 10% do valor do bem e processos administrativos simplificados de aprovação. Também foi criado pacote bastante competitivo de pós-venda, com preparação da rede para atendimento diferenciado e profissional – um dos principais fatores de escolha no segmento de veículos comerciais. No programa Citroën Pro, a marca promete revisões agendadas feitas no mesmo dia, com preços fixos, oito anos de serviço de assistência 24 horas, pagamento de serviços e peças em até quatro parcelas sem juros e veículo reserva na eventualidade de o utilitário permanecer por mais de quatro dias na oficina.
A garantia é de três anos ou 100 mil quilômetros rodados – algo que vale mais para carros de passeio, pois muitos veículos comerciais rodam mais de 100 mil km por ano. Ao menos a Citroën promete o custo mais baixo do mercado, de R$ 4.687, para as cinco revisões oficiais até os 100 mil km. O custo total de propriedade calculado para a Jumpy com essa rodagem, ou 24 meses de uso, é de R$ 91 mil, ou R$ 0,91 por quilômetro, também o mais baixo entre os concorrentes diretos, comparando a soma de preço de aquisição, seguro, revisões, manutenção, pneus, IPVA, combustível e depreciação.
Qualidades
O Citroën Jumpy é um veículo de carga ágil, fácil de dirigir como um carro, com dimensões externas de 5,3 metros de comprimento, 2,2 m de largura e distância entre eixos de 3,27 m. A altura de 1,93 m permite o acesso fácil a garagens e raio de giro é bem ajustado para manobras em espaços reduzidos. O amplo compartimento de carga tem 6,1 metros cúbicos (chega a até 6,6 m3 com o ModuWork), medindo 2,86 metros de comprimento, 1,63 m de largura e 1,4 m de altura. Pode carregar até 1,5 tonelada e tem peso bruto total (PBT) de 3.219 kg. Portas traseiras com 180 graus de abertura e a corrediça lateral facilitam carregamentos e descarregamentos. Nos assentos dianteiros, o conforto é parecido com o de um automóvel comum. O encosto central pode ser rebatido e vira uma “mesa-escrivaninha” para anotações ou acomodar um laptop de serviço.
Com essas dimensões, o furgão pode passar por diversas transformações e servir a muitos tipos de aplicações, como food truck, ambulância e remoções, transporte de cadeirantes, escolar, petshop e até veículo prisional, entre outras possibilidades.
Jumpy e Expert passaram por três anos de desenvolvimento específico para o mercado brasileiro, com 800 mil quilômetros rodados desde o início do projeto. Foram feitas algumas alterações em relação aos modelos vendidos na Europa: as versões montadas no Uruguai têm capacidade de carga 100 kg maior, a suspensão foi erguida em 10 milímetros e a relação de marchas foi encurtada em 6%.
O powertrain conjuga transmissão manual de seis marchas com motor turbodiesel 1.6 BlueHDI de 115 cavalos e torque máximo de 30 kgfm a 1.750 rpm. O consumo divulgado pela Citroën é de 11,4 km/l na cidade, com autonomia de até 820 km. Promete ser o gasto de diesel o mais baixo entre os concorrentes diretos, mas o problema é que o veículo também consome Arla 32, algo incomum nessa categoria no Brasil. Como não valia a pena mudar o que já faz na Europa para baixos volumes que serão vendidos na América Latina (a capacidade máxima de produção no Uruguai é de 6 mil Jumpy e Expert por ano), a PSA optou por equipar os utilitários com o mesmo motor vendido no mercado europeu, com tecnologia de emissões Euro 6, que só permite o uso de diesel S10 (10 ppm de enxofre) e tem sistema de pós-tratamento de gases SCR, com injeção de solução de ureia (Arla 32) no catalisador. É bom para o meio ambiente, com sensível redução de poluentes, mas sai mais caro para o transportador na comparação com motores Euro 5 com sistema de recirculação de gases EGR, mais comumente utilizados em furgões do mesmo tamanho.