Para a fábrica da FCA em Betim (MG), que em 2016 completou 40 anos, o início da fabricação do novo hatch Fiat Argo, no começo de maio, é mais do que apenas mais um carro a entrar na linha de montagem. O modelo que será vendido a partir do fim deste mês marca também a conclusão de um ciclo de investimentos iniciado em 2010 de R$ 7 bilhões, que instalou uma nova era industrial na planta mineira. O desenvolvimento do Argo, que sozinho consumiu mais de R$ 1 bilhão, introduziu processos e sistemas que trouxeram à unidade o estado da arte da produção automotiva.
“Os investimentos trouxeram para cá as melhores práticas mundiais de manufatura. Com o cuidado que se teve para desenvolver o Argo com essas melhores práticas, ele chega agora para ser o melhor produto já feito aqui”, afirma sem modéstia Jasson Azevedo, gerente de montagem final em Betim, que em mais de duas décadas de trabalho na unidade mineira conheceu as diversas fases da fábrica.
Salto para o futuro
Com o incrível número de algo como mil robôs operando conectados, a fábrica de Betim deu um salto para o futuro, em direção à chamada Indústria 4.0, como se denomina a quarta revolução industrial, na qual máquinas e homens trabalham em paralelo nos mundos real e virtual. O Argo inaugura esse novo ambiente em seu ápice em Betim, que este ano passou a integrar a categoria prata do World Class Manufacturing (WCM), sistema de manufatura criado ainda no início deste século pelo antigo Grupo Fiat – desde 2014 Fiat Chrysler Automobiles (FCA) –, para introduzir em suas plantas industriais no mundo todo os melhores e mais refinados processos de manufatura, que atingem altos índices de qualidade de desenvolvimento e produção.
Seguindo uma mesma filosofia, quase todos os conceitos aplicados pela FCA no moderno Polo Automotivo Jeep, em Goiana (PE), foram transmitidos para Betim. Inaugurada há dois anos, a fábrica pernambucana já tinha nascido com todos os genes do WCM e de seu principal arquiteto, o brasileiro de nome alemão Stefan Ketter, que após comandar a construção da planta de Goiana foi alçado ao comando da FCA na América Latina, mas conservou seu cargo maior de chefe global de manufatura do grupo, dividindo-se entre as duas funções hoje.
Em Betim, os padrões do WCM tiveram de romper as barreiras do passado – e parecem ter rompido todas. O que se vê na fábrica mineira hoje é uma indústria altamente automatizada e sofisticada, que muito bem pode ser chamada de “Ketter 4.0”, tamanha é a identificação da planta com os princípios do mentor do WCM – desde os uniformes iguais, para todos os níveis hierárquicos dos que trabalham na produção, até a escolha de músicas pessoais dos trabalhadores que são tocadas sempre que algo precisa da atenção de um supervisor na linha de montagem.
Obsessão por qualidade
Outro traço marcante da personalidade profissional de Ketter é a quase obsessão por qualidade – área em que ele se formou na indústria automotiva, trabalhando na BMW e Audi na Alemanha e depois como diretor de qualidade na Volkswagen Brasil, no fim dos anos 90, quando introduziu princípios globais de manufatura na fábrica de São José dos Pinhais. Na FCA de Goiana e agora em Betim ele segue o mesmo padrão de implantar apertados controles de qualidade no desenvolvimento dos produtos.
“No meio de 2016, quando o Argo entrou em processo de desenvolvimento para a produção, toda a área de qualidade de Betim foi centralizada no Component Center”, explica Geraldo Barra, gerente de qualidade de manufatura da planta de Betim. “Isso nos deu condições de assegurar que o carro pode entrar em fabricação sem nenhum problema de peça ou processo fora do padrão. Aqui podemos antecipar isso e corrigir antes”, destaca.
No amplo galpão do Componente Center, cada peça e cada processo industrial envolvido na produção do carro é medido mícron a mícron. Cada modelo de componente enviado à fábrica passa por validações, para assegurar seu exato encaixe e resistência no carro – se algo estiver errado, volta para o fornecedor até acertar. Cada um dos 2.930 pontos de solda aplicados no Argo é aferido para verificar a eficiência do processo. Diversas carrocerias de teste são montadas para passar por minuciosas medições eletrônicas da geometria exata de todo o conjunto.
Todos esses novos processos chegaram com o WCM e o Argo é o primeiro projeto brasileiro da FCA a se beneficiar dele em Betim. O desafio da Fiat agora é transformar seu novo rigor de manufatura em sucesso de mercado – algo que começa a ser colocado a prova no próximo dia 30, quando o Argo será apresentado como todas as suas formas, versões e preços.
Sem mostrar o carro todo, na terça-feira, 16, a FCA divulgou as primeiras imagens do Argo que entrou em produção na fábrica de Betim. Assista abaixo: