Os veículos que a General Motors produz no Brasil e demais países da América Latina continuam a decepcionar quando são submetidos aos testes de impacto promovidos desde 2010 pelo Latin NCAP. Desta vez, a entidade independente deu nota zero à segurança do Chevrolet Onix, hoje o carro mais vendido no mercado nacional, que agora também entra para o rol dos menos seguros à venda no País já comprados anonimamente e depois batidos pelo Latin NCAP em laboratórios da ADAG, na Alemanha.
O Onix integra a segunda série de resultados de 2017 do Programa de Avaliação de Carros Novos para América Latina e o Caribe, Latin NCAP, divulgados pela entidade na quinta-feira, 11, que nesta fase também apresentou os testes do Kia Rio produzido na Coreia e vendido em alguns mercados latino-americanos, inclusive o Brasil. O carro coreano também decepcionou e tirou nota zero.
Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP, chamou de “armadilhas mortais” os carros com esse tipo de padrão fraco de segurança vendidos em países latino-americanos, e pede para que montadoras e governos não permitam mais a fabricação deles na região. “É uma grande desilusão que fabricantes líderes como a GM e a Kia continuem a oferecer carros zero estrela na América Latina. Os consumidores merecem bem mais que isso de empresas que sabem perfeitamente como fabricar carros muito mais seguros e fazem aqui produtos que não poderiam vender na Europa ou na América do Norte. Esse tipo de duplo padrão é inaceitável e deve parar”, disse o dirigente em comunicado.
“Esses resultados tão pouco convincentes deveriam servir de lição aos governos da região para estabelecer que os níveis mínimos de segurança não podem estar mais nas mãos dos fabricantes. O Latin NCAP solicita a todos os governos da América Latina a adoptar, de forma urgente, os certificados dos padrões da ONU para os testes de impacto frontal e lateral”, reforçou.
Onix tem estrutura lateral vulnerável
Segundo o relatório dos testes, o carro da GM Brasil apresentou performance de segurança especialmente ruim no teste de impacto lateral – que, em conjunto com o crash test frontal, passou a ser aplicado no protocolo do Latin NCAP somente a partir de 2016. Por isso, em uma escala de avaliação que vai de zero até cinco estrelas, o Chevrolet Onix ficou sem pontuação (nota zero) na proteção ao ocupante adulto, mas garantiu três estrelas em relação à proteção de crianças no banco de trás.
O modelo tinha sido testado pelo Latin NCAP em colisão frontal em 2014, quando ganhou três estrelas para a proteção do adulto. Desta vez, para avaliar o resultado sob o novo protocolo, foi feito também o teste de impacto lateral, no qual o Onix mostrou seu ponto vulnerável, com alta penetração na estrutura do carro que provocou grande compressão no peito do passageiro adulto, representando por um boneco de testes.
Segundo o Latin NCAP, a estrutura da carroceria do Onix não absorveu com eficiência a energia do impacto lateral. Mesmo contando com barras de proteção nas portas, o carro da GM ficou atrás dos dois outros carros brasileiros de tamanho similar já submetidos ao mesmo teste, o Fiat Palio e o Peugeot 208 – e este último sequer tem barras nas portas para o modelo fabricado no Brasil (só na Europa).
“O desempenho estrutural do Onix após o impacto lateral divulgou um grande deslocamento (penetração) do pilar B, para dentro do compartimento do passageiro, significativamente maior do que o observado nos outros dois veículos. Provavelmente, devido ao seu pobre desempenho estrutural, a situação não mudaria nem mesmo incluindo airbags laterais”, afirma o comunicado divulgado pelo Latin NCAP. “Considerando esses resultados, o Onix não passaria os requerimentos básicos da regulação para impacto lateral das Nações Unidas (UN95)”, destacou a entidade.
Ainda segundo o Latin NCAP, a proteção para o passageiro infantil no impacto lateral foi aceitável, mas alerta para o fato de o modelo ter apenas um cinto de segurança de dois pontos na posição central traseira e não tem a ancoragem Isofix para cadeirinhas. Outro problema detectado é que a porta traseira direita se abriu no teste, o que expõe as crianças a maiores riscos.
Desde 2010 o Latin NCAP já bateu em testes uma dúzia de carros vendidos pela GM na América Latina, com resultado geral muito ruim, especialmente no caso dos fabricados na região. Nenhum deles conseguiu atingir cinco estrelas, enquanto seis, a metade dos testados, ficaram sem nenhuma estrela, todos eles produzidos no Brasil, na Argentina e Colômbia. Dois ganharam apenas uma estrela, dois ficaram com três e dois chegaram a quatro – sendo que estes foram modelos globais, caso do Cruze (montado no Brasil com grande parte de componentes importados) e o Malibu vindo dos Estados Unidos com 10 airbags (que nem assim conseguiu cinco estrelas).
O Kia Rio Sedan, fabricado na Coreia e vendido sem airbags nem freios com ABS em alguns mercados latino-americanos (no Brasil as duas bolsas frontais e o antibloqueio de frenagem são obrigatórias por lei desde 2014), foi outra desilusão da segunda leva de resultados do Latin NCAP este ano. Por isso modelo coreano teve zero estrela para a proteção do passageiro adulto e uma estrela para o ocupante infantil.
Segundo o Latin NCAP, o Rio apresentou estrutura estável nos testes de colisão frontal e bom desenvolvimento estrutural para o impacto lateral. O problema foi a falta de airbags e os freios sem ABS na versão básica do carro. Isso, aliado a cintos de segurança com baixo desempenho, explicam os resultados pobres anotados na cabeça e peito dos bonecos que representaram os passageiros da frente no crash test.
A Kia acabou anunciou ao Latin NCAP que os novos Picanto e Rio contarão com ao menos um airbag de série para o motorista em todas as versões vendidas na América Latina. A montadora também se comprometeu a patrocinar o teste do Novo Kia Rio Sedan para evidenciar os avanços quanto à segurança do novo modelo. Mas a entidade alerta que, sem airbag para o acompanhante ao lado, é provável que o carro tenha resultados tão ruins quanto os obtidos agora.
O Kia Rio Sedan ganhou uma estrela para a proteção do passageiro criança, porque não contava com ancoragem Isofix para cadeirinhas infantis, nem cintos de três pontos em todas as posições do banco traseiro.
Lucro acima da segurança
María Fernanda Rodríguez, Presidente do Latin NCAP, expressou sua preocupação sobre a falta de ética das montadoras diante da legislação omissa dos governos latino-americanos quanto à segurança veicular. “Embora vejamos fabricantes que por si oferecem maior segurança em relação aos escassos requerimentos exigidos para a produção e importação de veículos na América Latina, vemos também, e hoje demonstramos isso novamente (com Onix e Rio), empresas que priorizam o lucro econômico ante a sobrevivência de seus clientes. Isso é gravíssimo, já que levamos sete anos com resultados nefastos, sem comprovar ainda que algum país da região esteja exigindo as normas básicas de segurança que recomenda a ONU”, disse em comunicado.
“Felizmente, posso dizer que percebo como os consumidores, que contam com informação do Latin NCAP, começam a escolher melhor que tipo de veículos dirigir. Assim sendo, para gerar uma mudança rápida, os governos devem impulsionar a segurança, e apelo à consciência dos indivíduos que os integram para reduzir o risco que hoje estão sofrendo os cidadãos”, completou.