Do bloco de formas arredondadas do motor da Royal Enfield Classic projeta-se um longo e cromado pedal de partida. O item, raridade nos dias de hoje, induz ao erro: as atuais motos da marca indiana têm partida elétrica. Mas, caso seja necessário, será preciso um “motociclista raiz” e com disposição para acordar o monocilíndrico de 499 cm³ na “pedalada”, como antigamente.
A expressão que, em oposição ao motociclista “nutella”, virou meme das redes sociais explica bem a proposta da Royal Enfield. Recém-lançada no Brasil, a marca indiana chega com três modelos construídos com o objetivo de ser o mais fiel possível aos originais. Com todo charme, e também peculiaridade, que essa filosofia traz consigo. Afinal, as Royal Enfield não são clássicas apenas no visual, como mostrou esse primeiro contato com os modelos Bullet, Classic e Continental GT em um trajeto de 150 km pelas estradas do interior paulista.
Um “cilindrão”
O motor, que serve de base para os três modelos vendidos aqui, segue a receita das antigas Royal Enfield: um monocilíndrico de grande capacidade. Redesenhado recentemente, tem injeção eletrônica, câmbio de cinco marchas e embreagem multidisco em banho de óleo.
Entretanto, a marca manteve características chaves do propulsor original dos anos de 1950: o longo curso do pistão (90 mm) e uma pesada engrenagem volante que proporciona muito torque em baixos giros. E com a “clássica” refrigeração mista a ar e óleo.
Como resultado, o motor cresce lentamente de giros e vibra bastante em altas rotações. O desempenho é “retrô”: 27,5 cavalos de potência máxima a 5.250 rpm no motor de 499 cm³ da Classic e da Bullet; e 29,4 cv no propulsor de diâmetro maior e 535 cm³ de capacidade que equipa a Continental GT. Números bem inferiores a outras nakeds médias atuais.
Classic: estilo militar
O primeiro trecho do test-ride entre Itupeva e Serra Negra, em São Paulo, percorri com a Classic Desert Storm. A pintura bege fosca reforça o visual militar e acrescenta R$ 1.100 ao preço base do modelo, que é de R$ 19.900 sem ABS. Ao ligar, o motor emite um ruído alto, como um “clunk”, por culpa do grande volume deslocado dentro do cilindro.
O piloto vai literalmente sentado, com o tronco ereto e pernas e braços projetados à frente, em uma posição bem típica das motos clássicas. Embora a unidade avaliada tivesse banco único, a Classic é vendida com o banco da garupa.
A embreagem de acionamento macio facilita engatar a primeira. O motor nem gira muito e logo já é preciso subir de marcha. E assim, acontece com a terceira, quarta, quinta... O som compassado e grave do monocilíndrico também é fruto de robustos dutos de óleo que ajudam a arrefecer o motor e evitam que o piloto sinta o calor do motor nas pernas.
O grande barato de rodar com a Classic – ou com as outras Royal Enfield – é engatar quarta ou quinta e “brincar” com o torque do motor. Mesmo em trechos de subida não era preciso reduzir para sentir o amigável “torque”, que já aparece a partir dos 3.000 giros e atinge o máximo de 4,2 kgf.m a 4.000 rpm.
No plano, em quinta marcha, nessa faixa de rotação, o velocímetro analógico redondo, posicionado sobre o farol, marcava 80 km/h. Ao girar um pouco mais o acelerador foi possível chegar a 110 km/h. A velocidade máxima deve ser de cerca de 130 km/h, mas a vibração excessiva incomoda os pés e as mãos.
Como resultado dessa tocada mais tranquila, ou seja, com marchas altas e giros baixos, a Royal Enfield promete baixo consumo: cerca de 35 km com um litro de gasolina. Se perde em desempenho para as motos de 500cc modernas, a Classic ganha em economia.
As robustas suspensões ajustadas para as esburacadas estradas indianas surpreendem. Confortáveis, vão bem no asfalto ruim das estradas vicinais com amortecimento bem progressivo. O acerto macio do garfo dianteiro e do bichoque traseiro, porém, não atrapalha deitar nas curvas do sinuoso caminho para Serra Negra. O limite do lado direito é somente o grande pedal do freio traseiro, a tambor, que raspa em inclinações maiores.
Por falar em freio, o disco dianteiro não tem uma “mordida” instantânea, mas para com eficácia os 195 kg em ordem de marcha da Classic – há também uma versão com ABS. Como o desempenho não é assim, esportivo, os freios e as suspensões dão conta do recado.
Bullet 500 – urbana com estilo
No segundo trecho do teste era hora de experimentar a Bullet. O modelo fabricado desde 1932 é um dos mais antigos do mundo ainda em produção. Apesar do visual diferente, quadro e motor são os mesmos da Classic. Seu banco, porém, é inteiriço, as tampas laterais são quadradas e o para-lama traseira é mais envolvente.
O desempenho do conjunto motriz é idêntico ao da Classic, mas têm-se a sensação de que o trem dianteiro é mais leve e ágil nas mudanças de direção – muito em função da posição onde o piloto vai sentado. Uma boa para a proposta “urbana” da Bullet.
Modelo mais acessível da Royal Enfield, a Bullet é menos “estilosa” que a Classic, mas é tão “raiz” quanto. Vendida apenas em uma versão sem ABS e com três opções de cores – cinza, preta e verde – por R$ 18.900
Charmosa e peculiar
A filosofia do “motociclismo raiz” da Royal Enfield encontra espaço na atual onda retrô que virou moda no mercado de motos. A proposta da marca indiana é bem clara: oferecer uma moto de visual clássico e mecânica simples por um preço acessível.
Desde que não se tenha pressa, uma vez que seu motor não gosta, e não rende bem, em altos giros, a proposta tem lá seus encantos. Mas é preciso compreender também suas peculiaridades.
Qualquer um dos modelos, porém mais a Classic e a Bullet, são o mais perto que se pode chegar de uma moto dos anos 50, porém com componentes modernos. Uma moto zero quilômetro, mas ainda com o som, a sensação e o charme de uma antiga. Se o acabamento ainda não está nos patamares das motos japonesas, por outro lado, é bem superior às chinesas.
Cheia de personalidade, mas sem complicações tecnológicas ou velocidades de três dígitos, as motos indianas são uma boa opção para quem procura uma moto clássica para passear com calma no fim de semana, mas que até pode ser interessante para rodar na cidade.
FICHA TÉCNICA - Royal Enfield Classic 500
Motor Monocilíndrico, 4 tempos, refrigerado a ar
Capacidade 499 cm³
Diâmetro x curso 84mm x 90mm
Taxa de compressão 8.5:1
Sistema de alimentação Injeção eletrônica de combustível
Potência máxima 27.5 cv a 5250 rpm
Torque máximo 4,2 kgf.m a 4000 rpm
Embreagem Multidisco em banho de óleo
Câmbio 5 marchas
Lubrificação Carter úmido
Quadro Quadro com estrutura única, com o motor fazendo parte da estrutura
Suspensão dianteira Garfo Telescópico de 35 mm de diâmetro e 130 mm de curso
Suspensão traseira Dois amortecedores a gás, com 5 ajustes na pré-carga da mola e 80 mm de curso
Pneus 90/90-19 (dianteira) / 110/80-18 (traseira)
Freio dianteiro Disco único de 280mm com pinça de 2 pistões
Freio traseiro Tambor único de 153 mm
DIMENSÕES
Comprim. x Larg. x Alt. 2140 mm x 800 mm x 1080 mm
Distância entre-eixos 1360 mm
Distância do solo 140 mm
Altura do assento não divulgado
Peso em ordem de marcha 195 Kg
Capacidade do tanque 13,5 litros
Preço A partir de R$ 19.900 (R$ 20.900 com ABS)
Royal Enfield Bullet 500
Motor Monocilíndrico, 4 tempos, refrigerado a ar
Capacidade 499 cm³
Diâmetro x curso 84mm x 90mm
Taxa de compressão 8.5:1
Sistema de alimentação Injeção eletrônica de combustível
Potência máxima 27.5 cv a 5250 rpm
Torque máximo 4,2 kgf.m a 4000 rpm
Embreagem Multidisco em banho de óleo
Câmbio 5 marchas
Lubrificação Carter úmido
Quadro Quadro com estrutura única, com o motor fazendo parte da estrutura
Suspensão dianteira Garfo Telescópico de 35 mm de diâmetro e 130 mm de curso
Suspensão traseira Dois amortecedores a gás, com 5 ajustes na pré-carga da mola e 80 mm de curso
Pneus 90/90-19 (dianteira) / 110/80-18 (traseira)
Freio dianteiro Disco único de 280mm com pinça de 2 pistões
Freio traseiro Tambor único de 153 mm
DIMENSÕES
Comprim. x Larg. x Alt. 2140 mm x 800 mm x 1080 mm
Distância entre-eixos 1360 mm
Distância do solo 140 mm
Altura do assento não divulgado
Peso em ordem de marcha 195 Kg
Capacidade do tanque 13,5 litros
Cores Cinza, verde e preta
Preço A partir de R$ 18.900