A Volkswagen desistiu de fazer do Up! um carro popular de entrada no mercado brasileiro, como parecia ser a intenção quando o modelo foi lançado no País, em 2014. Com a introdução de tecnologias modernas vieram também muitos componentes importados e os custos foram inflados pela desvalorização cambial. Assim nunca foi possível praticar preços populares e o foco mudou, para tentar colar no Up! imagem e valores premium. Essa estratégia foi intensificada no lançamento da linha 2018. Para além das suaves alterações de design, que deixaram o Up! com visual mais robusto e adulto (leia aqui), a principal mudança foi de conteúdo, com redução no número de versões e introdução de itens de série nas opções mais caras – que por isso ficaram de 3% a 5% mais caras.
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Com preços ainda maiores na faixa de mercado mais sensível a preços – entre 2013 e 2016, para cada 1% de aumento houve queda de 2% nas vendas do segmento de entrada –, a Volkswagen espera aumentar as vendas do Up! com o efeito novidade, mas evita fazer qualquer aposta pública em volumes.
O desempenho comercial do carro nunca foi dos melhores. No ano passado o carro foi apenas o 13º mais vendido com 38.354 emplacamentos, em baixa de 28% sobre 2015. No primeiro trimestre deste ano, já sob influência da reestilização que reduz as vendas do modelo antigo, foram vendidas 8.804 unidades, na 16ª posição das preferências e queda de 14% na comparação com os mesmos três meses de 2016.
Na fábrica de Taubaté (SP), onde o Up! é produzido, a chegada da linha 2018 do modelo não trouxe qualquer aquecimento, já que na terça-feira, 18, a montadora colocou em férias coletivas 3,6 mil dos 4 mil funcionários da unidade, que deve permanecer parada até o fim deste mês e retomar gradualmente a produção até 8 de maio (leia aqui).
Menos versões, mais equipamentos e preço maior
O Up! 2018 estreia configurações mais simples, para reduzir o número de combinações possíveis do carro de 301 para apenas 20 na nova linha – algo que será copiado para todo o resto da gama Volkswagen, que até o fim deste ano deve reduzir de 337 para 93 o total de ofertas diferentes entre versões e opcionais. Ao todo, passam a ser oferecidas três versões mais baratas do Up! MPI, com motor 1.0 três-cilindros aspirado de 75/82 cv, e três mais caras TSI, equipadas com o 1.0 três-cilindros turbinado de 101/105 cv – também presente na versão especial de lançamento Connect.
Ao longo de seus três anos no Brasil, o preço da versão quatro-portas mais básica Take Up! subiu 31%, de R$ 28,9 mil no lançamento em 2014 para R$ 37.990 agora. Este foi o único valor mantido pela Volkswagen na tabela do Up! 2018 divulgada na segunda-feira, 17. Mas também foi mantida uma lista de equipamentos pobre, que agora tem suporte para smartphone integrado ao painel, mas não inclui sequer a direção assistida elétrica, disponível só como equipamento opcional com valor adicional. Também é necessário pagar à parte por ar-condicionado e acionamento elétrico de travas e vidros. Não há controle remoto de travamento/destravamento na chave e a fábrica não oferece sistema de som. Além disso, saiu de linha a opção mais barata de duas portas.
Todas as demais opções tiveram os preços aumentados, em cerca de 5% no caso das versões intermediárias Move Up!, que depois de subirem em movimento espiral acelerado para cima algo como 60% em três anos, passam agora a custar R$ 48.290 (MPI com câmbio manual de cinco marchas), ou R$ 50.668 no caso do MPI com transmissão automatizada I-Motion, enquanto a opção turbo TSI (disponível unicamente com câmbio manual) chega a R$ 52.790.
Como têm feito quase todas as montadoras ao aumentar preços, a Volkswagen justificou seu movimento no Up! 2018 com a adição de equipamentos de série. O Move Up! MPI não tem mais opcionais, segue com direção elétrica de série e chave com controle remoto, e agregou itens como ar-condicionado, volante revestido em couro com controles multifuncionais, sensor traseiro de estacionamento, sistema de som, rodas de liga leve 14 polegadas calçadas com pneus de baixa resistência ao rolamento, acionamento elétrico de vidros e travas.
“São itens que já eram comprados pelos clientes em 70% das vendas do Up!, por isso decidimos simplificar a lista de equipamentos e agregar valor ao cliente, que na maioria não compra mais carros pelados”, explica Gustavo Schmidt, vice-presidente de vendas e marketing, que há um mês voltou à Volkswagen – após seis anos na Renault.
A mesma justificativa foi usada para os topo de linha Cross Up! e High Up!, que tiveram a tabela aumentada em torno de 3%, para respectivamente R$ 55.600 e R$ 57.100. Além de todos os equipamentos já presentes no Move Up!, as duas versões vêm com sensores de chuva e crepuscular, rodas de liga leve aro 15” e faróis de neblina que acompanham o movimento da direção. Agora estas opções são oferecidas unicamente com o motor turbinado TSI, que já responde por metade das vendas do modelo atualmente.
Todos os Up! turbinados, inclusive o Move Up! TSI, podem ser equipados opcionalmente com bancos revestidos com couro sintético e o Composition Phone, que por meio do aplicativo “maps + more” (disponível gratuitamente para os sistemas Android e IOS) conecta via Bluetooth o smartphone ao sistema de som do carro e computador de bordo. Com isso o celular passa a ser a tela central multimídia, com navegação usando mapas TomTom (sem necessidade de conexão com a internet), informações do veículo e de condução mais econômica (programa Think Blue).
Será vendida nos próximos meses uma versão especial de lançamento, o Up! Connect, derivado do Move Up! turbo, que sai por R$ 54.990 e inclui pintura externa exclusiva laranja, azul ou e prata, retrovisor e teto pintados de preto, interior escurecido, adesivos alusivos à edição, rodas 15” diamantadas e o sistema Composition Phone.
Apelo tecnológico
Schmidt avalia que a versão mais barata Take Up! seguirá respondendo por cerca de 30% das vendas da gama, enquanto o Move Up! deve representar outros 30% e os 40% restantes devem ser divididos entre as opções Cross e High.
Com o posicionamento de imagem, acabamento, tecnologia, segurança e preços mais premium, as versões turbinadas podem fazer mais sucesso. “O TSI deve surpreender e até passar dos 50% (que representa hoje) das vendas”, arrisca Schmidt. Ele destaca também o apelo tecnológico do Up! e, ao mesmo tempo, de ser um dos carros mais econômicos e seguros do País, construído com aços especiais de alta resistência. Além do consumo baixo de combustível, a ideia é vender redução do custo total de propriedade. Nesse sentido, a Volkswagen vai oferecer com o novo Up! um pacote de revisões programadas de três anos por R$ 999.
Para o executivo, o Gol seguirá sendo a opção preferencial e mais barata da marca na maior parte do País, especialmente nos municípios localizados no interior dos estados. “O Up! tem vocação mais urbana, deve fazer mais sucesso nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro”, diz.