Precursora entre as nakeds com alma esportiva, a Triumph Speed Triple foi completamente renovada para 2016 e desembarca agora no Brasil na versão R, top de linha. A inglesa manteve sua identidade visual, mas recebeu alterações em seu motor de três cilindros e 1.050 cm3, que agora gera mais potência e torque. Além disso, está equipado com acelerador eletrônico que possibilitou a instalação de controle de tração integrado a cinco modos de pilotagem. Na parte ciclística, um novo quadro, conjunto de suspensões mais sofisticadas e freios ABS.
O primeiro resultado das novas mudanças foi que a naked inglesa subiu de categoria e preço: a Speed Triple R custa agora R$ 59.500. A geração anterior, sem nenhuma eletrônica e com especificações mais modestas, era vendida a R$ 43.990.
Mas as novidades, ao menos na teoria, também deixaram a Speed Triple R ainda mais esportiva. Para esse primeiro contato, levamos a naked inglesa para a pista do Haras Tuiuti, no interior de São Paulo (SP).
Hooligan em duas rodas
Logo de cara, a nova Speed Triple R parece familiar: não apenas porque manteve seu inconfundível conjunto óptico com dois faróis saltados, mas também porque a posição de pilotagem esportiva continua. As pernas vão flexionadas e recuadas, o tronco inclinado sobre o tanque e os braços abertos no melhor estilo streetfighter – estilo, aliás, inaugurado pela própria Speed Triple em 1994, quando a Triumph retirou as carenagens da esportiva 955i, instalou um guidão mais largo e estava pronta uma naked derivada de uma esportiva.
Já acomodado, procurei me entender com os novos controles eletrônicos. A interface é bastante semelhante aos outros modelos Triumph: botões no punho esquerdo permitem navegar entre os cinco modos de pilotagem – Rain, Road, Sport, Track e Rider, este último completamente personalizável ao gosto do piloto.
Por recomendação, entrei na pista com o modo “Road”. A potência máxima, agora de 140 cv (5 cv a mais) 9.500 rpm está disponível, mas a resposta do acelerador é bastante linear. Controle de tração e freios ABS ficam intrusivos e até atrapalham a pilotagem mais esportiva. Logo troquei para o modo Sport, o qual altera principalmente a resposta do acelerador: já na saída dos boxes, a roda dianteira levantou com vontade, mas a eletrônica se encarregou de domar essa hooligan inglesa.
O novo motor recebeu mais de 104 alterações internas, segundo a Triumph. As inovações vão da câmara de combustão, passam pelo cabeçote, virabrequim, desenho de pistão e o tal acelerador ride-by-wire. Na prática, isso resultou em um comportamento mais vigoroso, principalmente em baixos e médios regimes. Em geral, trata-se do bom tricilíndrico que une a força dos motores de dois cilindros em baixos giros e a disposição dos quatro cilindros em altas rotações, mas agora com a eficiência de um acelerador eletrônico. A embreagem agora conta com sistema slip-assist, que diminui o esforço no acionamento e evita que a roda traseira derrape em reduções mais bruscas.
Suspensões e pneus esportivos
Mais à vontade com a Speed Triple R e com a sua eletrônica no modo Track, era hora de abusar das suspensões. Na dianteira, o novo garfo telescópico invertido Öhlins NIX 30 com tubos de 43 mm e totalmente ajustável está entre os melhores do mercado, assim como o monoamortecedor traseiro da mesma marca TTX36. Ambos permitem usar e abusar da Speed Triple R nas curvas, ainda mais com os bons pneus Pirelli Diablo Supercorsa que são de série na versão “R”.
Parece não haver limite de inclinação e as pedaleiras, que no modelo anterior pegavam no asfalto, agora estão mais altas e, pelo menos, nesta pista não raspavam.
Se o novo conjunto ciclístico merece elogios pelo que tem, a ausência de alguns componentes rende críticas ao modelo. Com sua orientação esportiva, a Speed Triple R deveria estar equipada com um amortecedor de direção. Em uma saída de curva mais empolgada, o sistema anti-wheeling desligado pelo modo Track e o acelerador com a resposta mais instantânea fizeram a roda dianteira levantar e o largo guidão balançar de um lado para o outro. A falta de um amortecedor de direção e o motor mais “nervoso” transformaram a naked inglesa em um cavalo bravo. Foi preciso calma para não tirar a mão de uma vez e ir ao chão e ficou a lição para domar o punho nas próximas curvas.
Outra crítica para o uso esportivo da Speed Triple R vai para os freios. O bom conjunto tem dois discos de 320 mm e pinças monobloco Brembo, na dianteira, e disco simples com pinça Nissin, na traseira. Dotado de sistema ABS (que pode ser desligado), garante frenagens eficazes para parar os 192 kg a seco da Speed Triple R no início. Mas demonstrou certa fadiga ao final da bateria de 20 minutos na pista e o manete de freio chegou a bater na manopla, muito provavelmente por superaquecimento do fluido, que percorre flexíveis revestidos em malha de aço (aeroquip).
Novamente, vale observar que a avaliação foi feita na pista e que a mesma unidade já havia sido utilizada em outras baterias por outros pilotos, mas perdi a entrada de uma curva, porque o freio simplesmente não funcionou como deveria.
Radical, porém cara demais
A Speed Triple fez fama como uma verdadeira hooligan inglesa entre as nakeds, em função de seu visual agressivo e seu comportamento radical. Seu motor impressiona e demonstra ter fôlego em todas as fixas de giros. O visual continua marcante e controverso: alguns adoram, outros odeiam. A nova versão “R”, única que virá para o Brasil, traz ainda um desenho modernizado e o refinamento de piscas em LED e algumas peças em fibra de carbono, além dos bem vindos controles eletrônicos.
Companheira ideal para uma estrada sinuosa ou para rodar na cidade, a Speed Triple R pode até servir para você se divertir em um autódromo, mas será preciso investir em um amortecedor de direção e fazer algumas melhorias nos freios.
A Speed Triple R continua sendo uma moto para aquela escapada com os amigos no final de semana e que dá prazer aos motociclistas que adoram contornar curvas, acelerar e frear para valer. Mas, com seu novo preço (R$ 59.900) e posicionamento, irá disputar mercado com modelos com bons atributos, como a BMW S 1000R, vendida hoje a R$ 58.900, mas que traz suspensões eletrônicas, quick-shift (assistente de troca de marchas) e mais 20 cavalos de potência máxima (160 cv) em seu motor de quatro cilindros.
FICHA TÉCNICA - Triumph Speed Triple R
Motor: Três cilindros em linha, 12 válvulas, DOHC, com refrigeração líquida
Capacidade cúbica: 1050 cm³
Potência máxima: 140 cv a 9.500 rpm
Torque máximo: 11,4 kgf.m a 7.850 rpm
Câmbio: Seis marchas
Partida: Elétrica
Transmissão final: Corrente
Alimentação: Injeção eletrônica multiponto sequencial
Quadro: Dupla trave superior tubular em alumínio
Suspensão dianteira: Garfo telescópico invertido Öhlins NIX 30 com 43 mm de diâmetro totalmente ajustável com 120 mm de curso
Suspensão traseira: Monobraço com amortecedor Öhlins de tubo duplo TTX 36 totalmente ajustável com 130 mm de curso
Freio dianteiro: Disco duplo de 320 mm de diâmetro e pinça monobloco Brembo de fixação radial com quatro pistões e sistema ABS
Freio traseiro: Disco de 255 mm de diâmetro e pinça Nissin de dois pistões com ABS
Pneu dianteiro: 120/70 ZR 17
Pneu traseiro: 190/55 ZR 17
Comprimento total: 2.075 mm
Largura total: 780 mm
Altura total: 1.070 mm (sem os espelhos retrovisores)
Distância entre eixos: 1.435 mm
Altura do assento: 825 mm
Tanque de combustível: 15,5 litros
Peso a seco: 192 Kg
Cores: Branco e cinza fosco
Preço: R$ 59.900