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Porsche sustenta alta com operação própria

01/06/2016 - 10:33 - Automotive Business - Foto: Divulgação Porsche

Quase um ano após a fundação de sua subsidiária no Brasil, inaugurada oficialmente em julho do ano passado, a Porsche faz um balanço positivo da operação local, com o primeiro e até agora único escritório comercial próprio em toda a América Latina. Após fechar 2015 com 732 carros vendidos no mercado brasileiro, número praticamente estável e só 10 unidades abaixo em relação aos 742 de 2014, o crescimento voltou este ano: os 246 veículos entregues aos clientes de janeiro a abril significam avanço de 14,4% sobre o mesmo período de 2015. O presidente da Porsche Brasil, Mathias Brück, avalia que o bom resultado é devido a lançamentos e maior margem de negociação de encomendas com a matriz na Alemanha, o que só foi possível com a instalação da filial brasileira. Mas ele prefere cautela diante do cenário econômico conturbado, que ainda não dá pistas se será possível sustentar os negócios em alta pelo resto de 2016, por isso não arrisca nenhuma projeção de vendas. 

“O começo não foi fácil com a crise que se instalou, o real teve desvalorização de 47% em 10 meses e isso não é compensável nos preços. Mas conseguimos sobreviver neste primeiro ano aqui. Sabemos que o Brasil é um mercado muito maior do que o atual, ainda assim estamos felizes com o que temos. O mercado brasileiro de veículos premium está caindo este ano, é inevitável, é uma questão de falta de confiança do consumidor. Apesar disso, sustentamos crescimento até agora graças ao forte aspecto aspiracional da nossa marca”, explica Brück. Ainda assim, a empresa preferiu não testar demais a disposição do cliente em pagar mais e compensou boa parte da desvalorização do real e aumentou os preços de 5% a 7,5% este ano, bem abaixo da depreciação cambial. 

Com preços de caros que no País começam em R$ 500 mil e passam de R$ 1 milhão, a imagem é tudo. “Como dizemos, ninguém precisa de um Porsche, mas muitos desejam um carro assim, é uma compra emocional. Temos muitos bons concorrentes nesse segmento, mas a diferença é a alta performance de todos os modelos Porsche, que atrai e cria fãs em todo o mundo”, atesta Brück. No Brasil existem 8,5 mil carros da marca rodando, muitos clientes têm mais de um modelo ou até uma coleção inteira. O legado global da Porsche é impressionante: 70% de todos os seus automóveis fabricados desde 1948 ainda estão rodando. 

É justamente esse aspecto emocional da marca que a subsidiária pode trabalhar melhor do que um representante. “Nosso importador fez um ótimo trabalho aqui (a Stuttgart Sportcar, que iniciou as importações de carros da marca no Brasil em 1997 e hoje controla cinco das nove concessionárias no País), por isso alcançamos um bom crescimento em anos anteriores, mas sua função principal era importar e vender. Agora, como subsidiária, podemos investir mais em marketing, fazer campanhas, prospectar mais novos clientes e trazer maior número de produtos, com uma negociação mais flexível com a Alemanha sobre volumes, modelos e preços”, afirma Brück. “Por isso continuo a dizer que foi uma decisão acertada montar a subsidiária própria aqui”, completa. 

Estratégia de longo prazo

Alguns milhares de brasileiros vão sentir essa diferença de estratégia no próximo Salão do Automóvel de São Paulo, marcado para novembro deste ano. Ao contrário do que acontecia em anos anteriores, quando o estande da Porsche era fechado e só convidados podiam entrar, desta vez a marca vai expor toda a sua linha de modelos de forma aberta aos visitantes, que vão poder chegar ver tudo de perto. Serão apresentados carros ainda inéditos no Brasil, incluindo o Cayenne híbrido e o novo 911. “Mesmo quem não pode comprar vai poder ver. Isso é importante para formar e manter a imagem da marca”, entende Brück. 

A Porsche começou a estudar assumir a operação brasileira há cerca de cinco anos, mas a decisão ganhou corpo há dois anos e no segundo semestre de 2015 a subsidiária começou a funcionar e fazer suas próprias importações, mantendo associação com a Stuttgart. Brück reconhece que se a decisão tivesse de ser tomada hoje, diante do cenário recessivo, “talvez poderíamos atrasar um pouco os planos, mas já sabíamos que o mercado brasileiro é cheio de altos e baixos, montar o escritório faz parte de uma estratégia de longo prazo, porque queremos estar preparados para quando o mercado voltar a crescer”. 

Um certo limitador desse crescimento esperado para o futuro está na cota de 867 carros que a Porsche pode importar para o Brasil sem pagar a sobretaxa de 30 pontos adicionais de IPI, uma política imposta pelo Inovar-Auto que passou a vigorar em 2013. “Se continuarmos a crescer é possível que a cota não seja suficiente já este ano e teremos de trazer alguns modelos pagando mais imposto. Mas é quase certo que esta cota não será o bastante para 2017 ou 2018, quando esperamos avançar mais”, endossa Brück. 

Ainda que com limitadores, seja pela crise ou pela política industrial, o executivo garante que a abertura da subsidiária brasileira não tornou muito mais cara a operação brasileira, que permanece lucrativa. Brück lembra que com apenas 26 funcionários diretos no escritório em um prédio nobre ao lado do Shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo, “nossos custos fixos não são problema, somos enxutos e eficientes como a Porsche é em qualquer outro lugar”. A fabricante é considerada a mais lucrativa do mundo, vendeu 225,1 mil carros em 2015 e faturou € 21,5 bilhões, registrando lucro de € 3,4 bilhões no ano – a maior contribuição relativa para o resultado do Grupo Volkswagen, ao qual pertence e controla ao mesmo tempo por meio da holding Porsche SE, que detém a maior participação acionária na companhia. 

Atrás do México, o Brasil é hoje o segundo maior mercado da Porsche na América Latina – mas já foi o primeiro em 2011. Os maiores mercados globais, pela ordem, são China (58 mil unidades em 2015), Estados Unidos (51,7 mil) e Alemanha (28,9 mil), países onde a icônica marca alemã vem conquistando seguidos crescimentos de vendas acima de dois dígitos porcentuais.

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