Em ano de profunda contração das vendas, em que o mercado brasileiro de veículos leves encolheu um quarto em relação à 2014, as três líderes de mercado foram os que mais perderam terreno. Juntas, Fiat, General Motors e Volkswagen entregaram 7,77 pontos porcentuais de participação em 2015, todas anotaram quedas além dos 30%, bastante acima do tombo médio do mercado de 25,6%, e pela primeira vez o domínio das três ficou abaixo de 50%, declinando para 47,9%. Todo esse espaço foi tomado pelos que estão imediatamente abaixo na tabela das marcas mais vendidas do País, mas pode-se dizer que Hyundai, Toyota, Honda e Jeep foram os grandes vencedores, com ganho somado de seis pontos – sendo que Honda e Jeep foram as duas únicas entre as 10 no topo do ranking que registraram crescimento de emplacamentos de um ano para outro.
Quem mais perdeu participação de mercado em 2015 foi justamente a líder do ranking brasileiro por 14 anos, a Fiat. Sem nenhum lançamento importante, a marca italiana teve queda nas vendas de 37,1% no ano, com perda de expressivos 3,24 pontos porcentuais de market share, para 17,7%. Ainda assim, conseguiu se sustentar na liderança com 51 mil unidades à frente da General Motors, que se consolidou no segundo lugar pelo segundo ano seguido.
A GM também não trouxe em 2015 nenhuma grande novidade ao mercado, mas sustentou sua posição em grande medida lastreada pela boa aceitação do Onix, que fechou o ano pela primeira vez como carro mais vendido do País e foi responsável por quase um terço das vendas da montadora no período. Ainda assim, a GM registrou queda de 33% nos emplacamentos e viu sua participação encolher 1,7 ponto, para 15,6%.
Depois de perder para a GM o segundo lugar no ranking em 2014, a Volkswagen permaneceu em terceiro em 2015, mas foi a marca que apurou maior queda nas vendas no período, com recuo de 37,6%, e seguiu perdendo participação, com menos 2,81 pontos, para 14,5% – seu menor porcentual histórico. A ausência de lançamentos de peso explica o declínio da alemã, puxada ainda mais para baixo depois que o Gol perdeu a liderança de mercado que manteve por mais de duas décadas. Após ficar em segundo em 2014, o modelo desceu para quinta posição entre os automóveis mais vendidos no Brasil – e só não caiu mais por causa das vendas diretas a frotistas, que corresponderam a cerca de um terço das vendas do Gol no ano passado.
Mantendo seu quarto lugar no mercado, a Ford conseguiu ganhar quase um ponto de participação em 2015, passando a 10,2%. A fabricante teve queda de vendas de 17,7%, menor do que a média, graças especialmente ao bom desempenho do Ka, que com seu bom motor três-cilindros tornou-se o 1.0 mais vendido do País e subiu à quarta posição geral.
A quinta posição traz a principal alteração no ranking de marcas mais vendidas do País. A Hyundai, que por muito pouco não tomou o lugar da Renault em 2014, conseguiu ultrapassar a francesa em 2015, com ganho de participação de 1,14 ponto porcentual, para 8,26%. A marca coreana também teve retração de vendas no ano, de 13,7%, mas menor do que a média de mercado e 10 pontos menos do que o tombo da Renault. A Hyundai ainda surfa no sucesso da família HB20 no Brasil, que passou por renovação no ano passado. O hatch tornou-se o terceiro carro mais vendido do País, responsável por mais da metade das vendas da marca, com 110,4 mil unidades emplacadas, enquanto a versão sedã vendeu mais 53,3 mil.
A Renault insistiu na estratégia de vender no Brasil carros mais populares da plataforma da romena Dacia e, no momento em que o segmento de entrada sofre mais, a marca também não avançou, teve queda de emplacamentos de 23,4%, quase em linha com a média do mercado, e desceu para a sexta posição, perdendo o lugar de antes para a Hyundai. Renovou o Duster no início de 2015, que não fez frente a novidades mais sofisticadas como Jeep Renegade e Honda HR-V, e já no fim do ano lançou a picape Duster Oroch, sem tempo para turbinar o desempenho da fabricante. Ainda assim, a Renault conseguiu ganhar leve participação de 0,2 ponto e fechou os 12 meses com o melhor market share de sua história: 7,33%.
Desde que entrou no segmento de compactos, em 2012 com o lançamento da linha Etios, a Toyota ascendeu à sétima posição do mercado brasileiro e vem mantendo a colocação. Mas em 2015 a marca ganhou mais 1,23 ponto de participação, passando a 7,1%. E não foi o Etios que garantiu o resultado, mas o sedã médio Corolla, renovado em 2014, que foi décimo carro mais vendido em 2015 e com 67,3 mil unidades foi responsável por 38% das vendas da Toyota no País. O volume é quase o dobro do que vendeu o Etios hatch. No balanço geral, os emplacamentos caíram 10%, o que pode ser considerado pouco em relação ao tombo de 25,6% do mercado.
O desempenho da Honda em 2015 ficou à margem da crise econômica. Os emplacamentos da marca cresceram 11,2%, um dos raríssimos números positivos vistos no ano. Também foi a que mais ganhou participação: foram 2 pontos, para 6,2%, mantendo o oitavo lugar no ranking nacional. O lançamento do HR-V explica o desempenho em boa medida, com 51 mil unidades, um terço das vendas da Honda no período – e só não foi mais porque o modelo foi lançado em março e teve filas de espera durante todo o ano passado.
Em nono lugar no ranking, a Nissan seguiu sem chamar muito a atenção dos consumidores brasileiros em 2015, apesar de ter lançado o March com novo motor 1.0 de três cilindros e, na sequência, o novo Versa fabricado no Brasil. As vendas caíram 15,4%, abaixo da média do mercado, e a marca ainda conseguiu ganhar 0,3 ponto porcentual de participação, para 2,5%.
O desempenho mais meteórico do ano ficou com a Jeep, com crescimento dos emplacamentos de mais de mil por cento (1.163%) após a inauguração da fábrica brasileira e do lançamento, em maio, do Renegade, responsável por 93% das vendas da marca no País. O SUV compacto teve sucesso instantâneo e encerrou o ano como 18º carro mais emplacado, mas ficou entre os 10 primeiros por vários meses – foi o sexto em dezembro. Amparada em um único modelo, a Jeep terminou 2015 como a décima marca de veículo mais vendida no Brasil – um ano antes sequer figurava entre as 20 primeiras.
Com isso, a Jeep deixou para trás marcas tradicionais no mercado brasileiro, como Mitsubishi, Citroën e Peugeot, que ficaram de fora do ranking das 10 mais em 11º, 12º e 13º lugares, respectivamente. Fortemente atingida pela alta do dólar, a Kia, que ocupava a 13ª posição em 2014, desdeu para a 16ª, ultrapassada por Mercedes-Benz (14ª) e Audi (15ª).