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Mercedes Classe C nacional chega em um ano

10/02/2015 - 08:47 - Automotive Business - Foto: Divulgação MB

Pouco mais de um ano depois de confirmar o investimento de R$ 500 milhões em uma fábrica de automóveis no Brasil, a Mercedes-Benz inicia este mês a construção da planta em Iracemápolis, no interior paulista. A cerimônia que marcou o começo das obras civis foi realizada na quinta-feira, 5, com a promessa de que toda a unidade fabril esteja concluída nos próximos 12 meses, em fevereiro de 2016, quando começa a produção comercial do sedã médio Classe C nacional. Seis meses depois será a vez do utilitário esportivo GLA entrar em linha. A expectativa é atingir a capacidade máxima da unidade, de 20 mil carros/ano, até 2017. 

Iracemápolis entra em operação no mesmo ano em que a empresa completará 60 anos de atividades industriais no País, a maior parte deles dedicada à produção de veículos comerciais pesados na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), inaugurada em 1956. “Com a nova fábrica seremos os únicos a fazer caminhões, ônibus, vans e carros na América Latina”, destacou Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil. 

Não será algo inédito para a própria Mercedes, que entre 1997 e 2009 fabricou carros no País, os antigos Classe A e Classe C, na planta de Juiz de Fora (MG), que em 2013 foi convertida para a fabricação de caminhões. As expectativas da empresa eram bem maiores no fim dos anos 90, quando esperava-se que as vendas do Classe A no mercado brasileiro pudessem alcançar 60 mil unidades por ano. “A situação é muito diferente hoje, com aumento da renda da população e acesso a financiamentos. Na época isso não existia e cometemos um erro de julgamento, que não se repete aqui”, avalia Schiemer, ao responder por que acredita que desta vez a produção de automóveis Mercedes-Benz no Brasil veio para ficar. 

A perspectiva de exportações, contudo, é bem menos animadora. Apesar de produzir no Brasil carros que terão o mesmo padrão de qualidade, design e desempenho dos modelos hoje importados da Europa, não existe no momento nenhum plano de exportar os Mercedes-Benz brasileiros, nem mesmo para os vizinhos do Mercosul. “O problema e que o Brasil só tem acordos comerciais com poucos mercados que não compram muitos carros. Os custos de produção e logística aqui também não são competitivos, mesmo com o câmbio mais favorável”, afirma Schiemer. 

Ele usa o mesmo argumento para justificar o preço dos futuros Classe C e GLA nacionais, que serão mantidos no mesmo patamar dos carros hoje importados. Na prática, essa manobra deve ampliar a margem de ganho da Mercedes, pois os produtos fabricados aqui não pagam o imposto de importação de 35%, que é o primeiro da cascata de tributos que incidem sobre um carro no País e por isso eleva a toda a cadeia de tributação de IPI, ICMS e PIS/Cofins. Ao produzir em Iracemápolis, a montadora também ganhou benefício fiscal do Estado de São Paulo, que permite diferir o ICMS de toda a cadeia de produção, com pagamento somente após a venda de cada carro. 

Espaço para crescer

A aposta de Shiemer é a mesma das outras marcas premium de veículos que estão instalando fábricas no País, como Audi, BMW e Jaguar Land Rover. “O mercado nacional para o tipo de automóvel que vamos fabricar aqui é muito pequeno, 35 mil unidades em um universo de 3,5 milhões de carros vendidos não é nada, em outros países essa participação é de 10% a 15%, por isso é um segmento que deve continuar crescendo aqui”, diz o executivo. A expectativa para 2015 é que esse nicho continue a avançar, com expansão em torno de 10%, “em uma projeção mais conservadora devido à situação econômica menos favorável”, completa.

Assim como experimentam outras marcas automobilísticas de prestígio, a procura por carros Mercedes-Benz vêm crescendo ano a ano no País. “Entre 2008 e 2014 triplicamos nossas vendas e no ano passado chegamos o recorde de quase 12 mil unidades. Com a chegada de novos modelos, como o Classe C e o GLA nacionais que serão flex (bicombustível gasolina-etanol), vamos crescer ainda mais”, afirma Dimitris Psillakis, diretor da divisão de automóveis da Mercedes-Benz do Brasil. Ele também destaca a ampliação da rede de distribuição: “Foram investidos R$ 100 milhões nas concessionárias que entre 2010 e 2014 passaram de 27 para 45. Outros R$ 100 milhões serão investidos até 2016 para dobrar a rede para 70 lojas”, conta Psillakis.

O diretor conta que Classe C e GLA foram os escolhidos para produção em Iracemápolis porque representam cerca de 70% das vendas da marca no País. Com a construção da fábrica, de acordo com as regras do Inovar-Auto, a Mercedes-Benz ganhou como investidora uma cota de importação de ambos os modelos sem cobrança de 30 pontos adicionais de IPI, equivalente a até 50% da capacidade de produção prometida – no caso, 10 mil unidades/ano do potencial máximo de 20 mil. O resto da gama se acomoda na cota de importador de até 4,5 mil/ano sem pagar o imposto extra. Dessa forma a empresa consegue importar todos os carros de que precisa sem nenhuma sobretaxação.

Nacionalização

Outro desafio a vencer pelas regras do Inovar-Auto é o volume de compras nacionais, cujo valor multiplicado por 1.3 nos primeiros três anos de produção nacional (incentivo dado a fabricantes de baixos volumes) pode ser abatido do adicional de 30 pontos porcentuais do IPI devido. Mesmo importando a maior parte dos componentes que serão montados em Iracemápolis, como todas as partes estampadas, motor e transmissão, Schiemer garante que as peças adquiridas de fornecedores locais serão suficientes para abater os 30 pontos. 

Markus Schäfer, membro do board da Mercedes-Benz Cars responsável por manufatura e logística, revela que a fábrica brasileira deverá ter cerca de 20 fornecedores locais de componentes. “Essa região já tem uma boa base de suprimentos e nossos fornecedores já estão perto, mas consideramos a possibilidade de ter um parque abrigar parte da cadeia se isso for necessário”, diz o executivo. Ele afirma que os volumes no Brasil ainda são baixos para justificar a produção de partes estampadas e o powertrain. 

A fábrica brasileira abrigará todos os procedimentos de montagem, incluindo armação de carrocerias (soldagem), cabine de pintura e linha de montagem final, com nível médio de automação em torno de 40%, principalmente no setor de pintura. “Teremos aqui exatamente os mesmos processos de estado-da-arte que temos em nossas 26 plantas no mundo”, garante Schäfer. Segundo ele, não será um problema administrar uma unidade de baixo volume de produção quando comparada à média de outras unidades do grupo no mundo, de 200 mil a 300 mil veículos por ano. “Estamos familiarizados com esse tipo de operação, temos linhas de produção equivalentes em países como Índia e Indonésia”, explica.

Schäfer também aposta no potencial futuro de crescimento do mercado brasileiro: “Pensamos no desenvolvimento de longo prazo e começamos com pequenos volumes. Vai depender do mercado, mas acredito que temos os produtos certos para crescer aqui.” Ele conta que a fábrica de Iracemápolis foi projetada sob o conceito de modularidade, que permite receber expansões futuras, com a construção de novos prédios. 

A Mercedes passa atualmente pelo maior processo de expansão de sua história. “Temos atualmente 10 plantas em construção ou ampliação no mundo, oito de produção de veículos e duas de motores e componentes. Só este ano vamos investir entre € 3 bilhões e € 4 bilhões em nossas operações produtivas”, diz Schäfer, confirmando que Iracemápolis está incluída nesses valores. “Isso acontece porque temos um plano de ampliação de portfólio de produtos sem precedentes até 2020, vamos precisar de locais e pessoas para produzir tudo isso.” 

Prazo apertado

Iracemápolis começa a produzir com 600 empregados, número que pode chegar a mil trabalhando em dois turnos para atingir a capacidade de 20 mil unidades/ano. Existe estimativa de geração de mais 3 mil empregos diretos. Os primeiros 20 funcionários da fábrica já foram contratados e a Mercedes firmou convênio com o Senai para formação de mão-de-obra local, que precisa passar por treinamento de aproximadamente um ano. A maior parte será contratada na região, mas devem acontecer algumas transferências de outras plantas no País. 

Schäfer admite que o prazo para começar a produzir em um ano é bastante apertado, mas diz que até agora tudo correu dentro do previsto. “Tivemos um ano de trabalho antes”, diz, referindo-se principalmente à obtenção de licenças, terraplanagem, que está concluída, e todo o projeto da fábrica. “Dentro de nossos computadores ela já está pronta”, revela. A construção começa imediatamente e já no meio deste ano devem estar concluídos os primeiros prédios. Os equipamentos da cabine de pintura chegam em agosto. Até o fim do ano toda a linha deve estar operacional para fazer os primeiros testes de produção, para que em fevereiro seja iniciada a produção do primeiro Mercedes-Benz feito em Iracemápolis.

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