O termo crossover já é velho conhecido dos fãs de automóveis. Em essência, ele serve para descrever um modelo que mistura dois estilos diferentes. No caso dos carros, crossover costuma definir um veículo com o conforto e a dirigibilidade de um sedã embrulhado na carroceria de um SUV. Entretanto, o conceito já não se limita mais aos veículos de quatro rodas e é apontado como a nova tendência dos fabricantes de motos.
“A crossover faz uma junção entre as trail, as motos de uso misto, e as street esportivas”, comenta Alfredo Guedes Junior, engenheiro da Honda. A marca japonesa, aliás, iniciou recentemente no Brasil a produção da NC 750X, evolução da moto apresentada em 2012 como o primeiro modelo assumidamente crossover do País. Segundo ele, a “mistura” integra o melhor das nakeds esportivas com os modelos de orientação off-road.
No caso, ficaram as suspensões de curso mais longo das trails e somam-se itens para deixar a moto mais utilizável em condições cotidianas. “Aspectos como a postura de pilotagem e as rodas de aro 17’’, como as da CB 650F, por exemplo, deixaram o modelo ágil no asfalto,”, explica Guedes.
Transformação das big-trails
Salvo algumas exceções, robustez para transpassar obstáculos, cruzar rios e se aventurar por pedras já não são mais o principal motivo de quem compra uma big-trail. Conforto agora é o mais importante. “Nós focamos em construir uma moto com o desempenho de um modelo de grande capacidade cúbica, mas no qual o piloto pudesse aproveitar uma pilotagem confortável e com grande maneabilidade”, comentou Tomohira Ichimaru, chefe do projeto que criou a nova Suzuki V-Strom 1000, apresentada em 2012 e já à venda no Brasil.
Na Triumph, essa “transformação” começou mais cedo. A Tiger 1050, por exemplo, passou de uma aventureira com rodas raiadas de 19’’ em 2004 para uma moto on-road com pneus aro 17’’ em 2007. Embora a reformulação da família em 2010 tenha dado foco para a aventura nos modelos de 800 e 1200 cc e tirado a Tiger 1050 de cena, ela não permaneceu fora por muito tempo. Um ano depois, a moto ressurgiu com o nome Tiger Sport e as mesmas características visuais. Mas, além do motor tricilíndrico de 1050 cc, incorporou o monobraço traseiro da naked Speed Triple, abraçando de vez a mistura de estilos que caracteriza as motos crossover.
“Existe uma procura grande pela Explorer 1.200cc, mas a Tiger 1050 era muito solicitada. É uma moto para longas viagens no asfalto, na qual foi feito um grande trabalho na questão do conforto e do desempenho”, comenta Claudio Peruche, gerente de Pós-Venda da subsidiária brasileira da Triumph. “Além de ser mais uma opção disponível para o consumidor, ela tem um bom posicionamento de preço”, completa ele. Vendida aqui por R$ 45.990, a moto posiciona-se entre os modelos de 800 e 1200 cc da família Tiger.
Tendência mundial
Posicionar uma crossover como produto central de uma linha também foi a estratégia da BMW com a S 1000 XR. Estreante no mercado europeu – e confirmada para chegar ao Brasil no segundo semestre desse ano – a moto custa 16.200 euros (cerca de R$ 50.000). O valor é mais do que os 13.200 euros cobrados pela naked, porém menos do que os 17.900 pedidos pela superesportiva S 1000 RR no Velho Mundo.
A BMW, aliás, não foi a única marca que resolveu embarcar no segmento recentemente. No mesmo Salão de Milão 2014, a Yamaha revelou a MT-09 Tracer. Com visual esportivo e também investindo na proposta de conforto para viagens longas, a moto é feita sobre a mesma base da naked MT-09, com a qual partilha também o propulsor tricilíndrico de 847 cm³.
Na batalha das crossovers, quem está ganhando, pelo menos em quantidade, é a Honda. Entre o lançamento da NC 700X e sua evolução, a marca inseriu outros dois modelos com essa proposta: a CB 500X, cujo visual é semelhante ao da NC, mas com capacidade cúbica menor, e a versão reestilizada da VFR 800X Crossrunner, que traz motor de quatro cilindros em “V” e diversos itens eletrônicos, como controle de tração. Sempre defendendo a versatilidade dos modelos e o apreço do motociclista moderno pelo asfalto como justificativas para apostar alto no segmento.
Para Alfredo Guedes Junior, a demanda pelas crossovers aumentou por conta do momento que o motociclismo vive no mundo todo. “O planeta está partindo para coisas mais racionais e versáteis”, explica. Todavia, vale lembrar que as big-trails aptas para sair do asfalto não estão ameaçadas de extinção. Afinal, modelos como a BMW R 1200 GS Adventure e a própria Honda XL 700V Transalp têm seu público fiel. “A Transalp, por exemplo, tem DNA mais aventureiro. Quem tem uma, às vezes, até prefere utilizar o carro no dia-a-dia e tem a moto para o lazer aos finais de semana”, finaliza o engenheiro da marca japonesa.
QUEM SÃO AS CROSSOVERS?
Modelo Motorização Preço sugerido
Honda NC 750X Dois cilindros paralelos, 745 cm³ R$ 28.990 e R$ 31.100 (ABS)
Honda CB 500X Dois cilindros paralelos, 471 cm³ R$ 24.624 e R$ 26.198 (ABS)
Triumph Tiger Sport Três cilindros em linha, 1050 cm³ R$ 45.990 (ABS)
BMW S 1000 XR Quatro cilindros em linha, 999 cm³ (prevista para chegar no 2º semestre)
Yamaha MT-09 Tracer Três cilindros em linha, 847 cm3 (sem previsão de vir ao Brasil)
Honda VFR 800X Crossrunner Quatro cilindros em “V”, 782 cm³ (sem previsão de vir ao Brasil)