Ao fazer a revisão de suas motos e a manutenção periódica, muitos motociclistas se esquecem de verificar importantes itens da segurança de seu veículo, os fluidos. Por ficarem escondidos em seus respectivos reservatórios, são comumente esquecidos. E não deveriam, pois, de acordo com Rogério Otani, mecânico profissional, “podem ser cruciais para a longevidade da moto e para a segurança do piloto”.
O óleo do motor, por ter participação crucial no movimento da motocicleta, é o mais lembrado pelos motociclistas. No entanto, existem outros fluidos importantíssimos que merecem atenção dos proprietários, como fluido de freio, óleo do amortecedor da suspensão, líquido de arrefecimento, óleo da embreagem hidráulica e óleo do eixo cardã. Diretamente ligados ao bom funcionamento de uma motocicleta, estes itens devem ser vistoriados frequentemente, segundo especialistas.
Óleo do Motor
O óleo do motor é responsável pela lubrificação dos cilindros, dos pistões e, nas motos, também da caixa de câmbio e da embreagem. Dessa forma, uma boa lubrificação garante maior vida útil à motocicleta, diminuindo o atrito entre as peças e evitando, assim, desgaste excessivo. Atualmente existem diversos tipos de lubrificantes de motor. Podem ser óleos graxos (de origem animal ou vegetal), óleos minerais (derivados do petróleo), e óleos sintéticos e semi-sintéticos (produzidos em laboratório). Ao longo dos anos, assim como as motos, os óleos evoluíram e hoje há uma gama extensa de tipos de óleo, que se diferem pela densidade, viscosidade e aditivos.
Apesar de todas as informações sobre o tipo de óleo e o intervalo de troca estarem presentes em todos os manuais de proprietário, muitos motociclistas têm dúvidas sobre qual lubrificante utilizar e quando trocar.
Segundo Cláudio Peruche, gerente de pós-vendas da Triumph Motocicletas do Brasil, se o cliente não quiser seguir as especificações de óleo recomendadas pela fabricante, algo que o mesmo não aprova, ele deve escolher um lubrificante que tenha boa resistência ao desgaste, atrito e temperatura. “Recomendamos para nosso cliente utilizar sempre o óleo especificado pela fabricante, que realiza diversos testes em todos os tipos de condições para saber qual é o melhor lubrificante para cada um de seus modelos. No entanto, sempre há aquele que prefere fazer uma escolha própria. Nesse caso, ele deve se atentar ao tipo de uso que faz com sua motocicleta e às especificações do lubrificante”, explica.
Os produtos sintéticos mantêm a estabilidade do óleo por mais tempo. No caso da Triumph, cujas motocicletas vão de 600cc até 1.200 cc, o óleo escolhido é o Castrol 10W50 ou 10W40, totalmente sintético, de classificação API-SH JASO MA2.
Estas, encontradas em todos os óleos de motor, são siglas das entidades internacionais responsáveis pela elaboração de uma série de normas (baseadas em testes específicos) para a classificação dos lubrificantes, de acordo com seu uso. Dessa forma, o óleo lubrificante escolhido pela Triumph, por exemplo, segue as normas da API (American Petroleum Institute). O “SH” se refere ao nível de desempenho do óleo. Quanto mais para trás a segunda letra da sigla estiver no alfabeto, melhor é seu desempenho. Ou seja, um óleo API-SH é melhor que um API-SG, e assim por diante. A nomenclatura JASO MA2 (Japanese Automobile Standards Organization) classifica a adequação do óleo lubrificante também ao sistema de transmissão da moto.
Já os números, 10W40, por exemplo, correspondem à classificação da SAE (Society of Automotive Engineers), que se baseia na viscosidade dos óleos a 100ºC. A letra “W” significa “Winter” (inverno, em inglês) e ela faz parte do primeiro número, como complemento para identificação. Quanto maior o número, maior a viscosidade, para o óleo suportar temperaturas mais altas. Graus menores suportam baixas temperaturas sem se solidificar, o que prejudicaria o fluxo do lubrificante.
Dicas e cuidados importantes:
“A verificação diária do nível do óleo é responsabilidade do proprietário. Nós da Triumph recomendamos que todas as revisões sejam feitas nas concessionárias e que os intervalos de troca, que variam entre 10.000 e 16.000 quilômetros dependendo do modelo, devem sempre ser respeitados”, explica Cláudio.
1 – Nunca use óleo de carros em motocicletas;
2 – O óleo certo (viscosidade) para cada modelo de moto é o recomendado pelo fabricante;
3 – Verifique diariamente o nível do óleo que deve estar sempre entre os dois traços do medidor.
4 – Na troca de óleo, confira a necessidade de substituir os filtros de óleo e ar da motocicleta;
5 – Caso sua moto não rode muito, faça a troca a cada seis meses (validade dos lubrificantes);
6 – Nunca misture tipos de óleos diferentes;
7 - Quando se utiliza um lubrificante com nível de desempenho inferior ao recomendado pelo fabricante do veículo, mesmo reduzindo o período de troca, pode haver problemas de formação de borra devido ao envelhecimento (oxidação) precoce do lubrificante, ou comprometimento da função de lubrificação do motor pelo óleo;
8 - Aditivos ao óleo não melhoram o desempenho do motor
Fluido de freio
Por fazer parte de um dos sistemas mais importantes de uma motocicleta, o fluido de freio é essencial para a segurança do piloto. Ao acionar o manete ou o pedal, o fluido de freio é deslocado em direção ao pistão da pinça de freio e o empurra. O pistão move as pastilhas, que por sua vez entram em contato com o disco, causando atrito. Este atrito é o que faz as rodas travarem ou diminuírem de velocidade, até pararem por completo.
Atualmente existem, basicamente, dois tipos de fluidos. Os baseados em etilenoglicol (DOT 3, DOT 4 e DOT 5.1) e os produzidos a base de silicone (DOT 5). Os números que acompanham essa sigla (3, 4, 5 e 5.1) classificam o fluido em função de sua respectiva temperatura de ebulição e eficiência. Dessa forma, um fluido de freio classificado como DOT 3, o mais básico, apresenta uma temperatura de ebulição de 205° C, enquanto que o DOT 4, com aditivos para que a água absorvida não altere tanto suas características, suporta até 230° C e o DOT 5.1 260° C. O fluido DOT 5, normalmente utilizado em veículos militares e embarcações, não é recomendado para o uso em motocicletas, apesar de suportar temperaturas superiores a 260°C. E cada fabricante determina o tipo de “óleo” correto para se utilizar em cada um de seus modelos.
O sistema de freios trabalha, quase sempre, em altas temperaturas. Por isso os fluidos têm elevados pontos de ebulição. Como o sistema pode absorver a umidade do ambiente, o ponto de ebulição do fluido tende a baixar com o passar do tempo, causando, assim, três tipos de problemas. O primeiro é a oxidação de vários componentes do sistema de freios, diminuindo a vida útil das peças. O segundo é a diminuição do ponto de ebulição, pois apenas 1% de água misturada no fluido pode baixar até 50°C o ponto de ebulição. E o terceiro é a formação das famosas “bolhas de ar” na mangueira.
E é exatamente isso que o motociclista deve evitar. Esses problemas prejudicam a eficiência de todo o sistema, causando falhas e o famoso “efeito borrachudo”. O manete não apresenta resistência e passa uma sensação de maciez. Deve-se, então, sangrar o fluido e trocá-lo sempre que apresentar esses defeitos. De acordo com Peruche, da Triumph, “pela característica higroscópica do fluido de freio, ou seja, ele retém água, nós da Triumph recomendamos a troca do líquido uma vez por ano ou a cada 10 mil quilômetros. A qualidade do fluido e sua manutenção adequada irão garantir que as respostas às frenagens sejam mais rápidas e seguras”. Segundo Cláudio, todas as máquinas da marca inglesa saem de fábrica com fluido do tipo DOT 4.
Dicas e cuidados importantes:
1 - Sempre verificar o nível do fluido
2 - Substituir o fluido de acordo com o manual do proprietário da motocicleta (normalmente recomenda-se 10.000 km ou uma vez ao ano)
3 - Ao alterar a especificação de seu fluido – motos com DOT 3 podem receber DOT 4, mas não o contrário – deve-se sangrar todo o “óleo” antigo antes de colocar o novo
4 - Realizar manutenção preventiva no sistema de freios duas vezes ao ano
5 - Quanto mais eficiente for o fluido, menor será o intervalo entre as manutenções
6 - O tipo de fluido a ser utilizado pode ser encontrado na tampa do reservatório ou no manual do proprietário
Óleo do eixo cardã
As motocicletas com transmissão final do tipo eixo-cardã contam com o benefício da durabilidade e do conforto deste tipo de sistema. Segundo Cláudio Peruche, essa longevidade se deve ao fato de não estar exposta às intempéries do meio ambiente e sim “mergulhada” em lubrificantes. “Quando respeitado os períodos de revisão e manutenção, esse tipo de sistema é vitalício”.
Nas suas motos equipadas com cardã, como a Explorer 1200 e a Trophy, a Triumph utiliza o óleo lubrificante sintético Castrol SAF-XO 75W90. Segundo o gerente do pós venda da marca, Claudio Peruche, o lubrificante só é trocado na primeira revisão das máquinas, com 800 km. “A primeira revisão é a mais importante para o assentamento das engrenagens do eixo cardã e nunca deve ser negligenciada. Após a primeira, o cliente deve respeitar os intervalos de revisão e fazer as vistorias necessárias”.
Claudio ressalta ainda a necessidade de procurar uma concessionária autorizada em caso de problemas. “Caso o cliente encontre algum problema em seu sistema de eixo cardã, a Triumph recomenda que o mesmo leve sua moto imediatamente a uma concessionária. A manutenção feita de maneira errada pode comprometer todo o sistema”, finalizou.
Dicas e cuidados importantes:
1 – A primeira revisão é a mais importante para a vida útil do eixo cardã
2 – Em caso de avarias, leve sempre a uma concessionária autorizada da marca de sua motocicleta
3 – Nunca tente fazer a troca de óleo do cardã por conta própria
4 – Respeite sempre os intervalos de revisão estipulados no manual do proprietário
Fluido de arrefecimento
A temperatura do motor de uma motocicleta pode passar dos 100°. No entanto, ao atingir tal marca, perde eficiência. Dessa forma, as fabricantes adotam em seus modelos tipos diferentes de sistemas de arrefecimento. O mais eficiente entre eles é o arrefecimento líquido do motor, encontrado atualmente nas máquinas de maior capacidade cúbica e mais modernas.
Os dutos contidos no motor (cilindro e cabeçote), por onde circula o líquido de arrefecimento, dissipam o calor. Ou seja, o líquido faz uma troca de calor, ganhando temperatura ao passar pelo motor, perdendo ao passar pelo radiador, e assim resfriando o propulsor.
Sendo assim, “a troca do líquido de arrefecimento do motor é um procedimento fundamental para manter a temperatura certa do motor em todas as condições de uso e evitar a corrosão do sistema, o ressecamento prematuro de mangueiras e vedações, além de outros sérios danos. O funcionamento correto do sistema só traz benefícios à motocicleta, já que ganha em durabilidade, economia de combustível e desempenho e, consequentente, tem menor nível de emissões”, explica Rogério Otani, mecânico profissional.
Dicas e cuidados importantes:
1 – O líquido de arrefecimento evapora naturalmente, portanto verifique- o regularmente na posição vertical em local plano;
2 - Se o nível estiver próximo ou abaixo da marca inferior, adicione uma mistura de 50/50 de etilenoglicol (ou coolant) e água destilada até a marca superior;
3 – Em caso de necessidade emergencial, utilize apenas água destilada ou filtrada, pois a água corrente pode causar incrustações e corrosões no motor por ter cloro e outros sais minerais;
4 – Não rode com o reservatório vazio. Há possibilidade de entrar ar no sistema de arrefecimento e causar danos graves ao conjunto.