Motociclistas em geral são saudosistas e muitos deles, mesmo os que ainda não estavam nesse mundo, sentem saudades dos “anos dourados” das motocicletas, entre as décadas de 1960 e 1970. Essa época marcou o início do desenvolvimento das novas tecnologias que vemos atualmente e o começo do domínio japonês no mercado das duas rodas mundial. A Honda lançava sua linha “Four”, a Yamaha oferecia a famosa RD 350 e a Suzuki fabricava a família de motocicletas GT. Era um momento de inovações, de mudanças, de rebeldia, e foi sob essa atmosfera que surgiram as primeiras motocicletas estilo café racer na Inglaterra.
Hoje, meio século depois, essas máquinas estão cada vez mais presentes nas ruas ao redor do globo, seja com modelos novos ou customizações, voltando a “fazer a cabeça” dos motociclistas. No Brasil, por exemplo, a Triumph oferece em sua linha o modelo Thruxton, uma motocicleta que já sai de fábrica com o estilo típico de uma café racer. No exterior, principalmente na Europa, existem outros modelos, de várias marcas.
Mas o que os apaixonados por essas motos mais gostam é de fazer a sua própria café racer, com sua “cara” e as especificações que desejar. Ir garimpando peça por peça até construir uma obra de arte sobre rodas. Atualmente há diversas casas de design especializadas neste tipo de construção e uma das mais conceituadas é a australiana Ellaspede. Com mais de 10 projetos em seu currículo, a customizadora sempre tenta fugir do comum e em um de seus trabalhos mais recentes, transformou uma Yamaha XJR 400 – modelo que não temos por aqui, mas que fez muito sucesso na Austrália – em uma verdadeira café racer moderna, com estilo agressivo e ao mesmo tempo clássico.
Escolhendo a motocicleta
Segundo o pessoal da Ellaspede, um dos pontos mais importantes na construção dessa beldade foi a escolha da motocicleta. Um de seus clientes mais assíduos, que eles chamam de Matthew D., encontrou uma unidade da XJR 400 de 1993 com o motor funcionando e em perfeito estado que iria para o desmanche. Isso facilita o trabalho, pois não há necessidade de mexer no propulsor. “Pela idade e sucesso do modelo na Austrália, seria muito difícil encontrar uma unidade em bom estado. No entanto, demorou bastante, mas nosso cliente conseguiu encontrar uma XJR 400 de 1993 na cor preta, com seu motor funcionando de maneira ‘redonda’. Queríamos uma motocicleta que, ao final do projeto, não fosse tão cara e, graças ao Matthew, conseguimos”, disse Hughan Seary, diretor de marketing da Ellaspede, no blog da empresa.
Fabricada pela Yamaha de 1990 até 2007, a versão de 1993, carburada, carrega motor de quatro cilindros em linha, com arrefecimento a ar, capaz de produzir 53 cavalos de potência a 11.000 rpm e 3,45 kgf.m de torque máximo aos 9.000 giros. E por estar em tão boas condições, apenas algumas alterações foram feitas no motor, como a substituição da caixa de ar por quatro filtros esportivos da marca BMC, que alimentam os carburadores retrabalhados com ar “limpo”.
Estilo café racer
Uma moto café racer não precisa, necessariamente, passar por ajustes de motor. E foi o que aconteceu neste projeto. Além da substituição da caixa de ar por filtros esportivos, nada mais foi mexido no propulsor. Agora, a parte estética, foi totalmente remodelada. Para começar, o pessoal da Ellaspede modificou o subquadro traseiro, basicamente por três motivos. Em primeiro lugar, para deixar a XJR com um aspecto café racer (com a traseira mais curta), em segundo para ter a capacidade de carregar um passageiro – exigência do cliente –, e em terceiro para esconder as partes eletrônicas da motocicleta. O trabalho foi tão bem feito que a moto parece ter saído assim de fábrica.
Outra mudança foi a aplicação de um novo sistema de exaustão no estilo SuperTrapp, que tem uma espécie de “pano” envolvendo os canos, item típico de motos café racer e que dá um toque especial ao visual. O guidão curto, com espelhos retrovisores apontando para baixo nas extremidades, sublinha ainda mais seu estilo. O painel de instrumentos foi substituído por um único mostrador redondo que mescla informações digitais com conta giros analógico, deixando-a com um aspecto moderno e agressivo. A XJR 400 também ganhou um novo conjunto óptico dianteiro. Além de ser rebaixado, foi substituído por um farol da marca Acewell.
O conjunto de suspensão é atual, mas segue as mesmas características do modelo original. Na dianteira, garfo telescópico convencional combinado com duplo amortecedor traseiro com ajuste na pré-carga de mola da marca Öhlins. As pinças de freio são agora da marca Brembo, mas as dimensões dos discos permaneceram as mesmas. Na dianteira, dois discos de 298 mm são mordidos por pinça de dois pistões e na traseira, disco simples de 245 mm, acionado por pinça de um pistão. Para combinar com o acabamento da moto, as rodas de três pontas foram pintadas de preto e outras pequenas peças foram construídas especialmente para XJR 400 Ellaspede não perder sua essência. Resultando em uma verdadeira obra de arte sobre duas rodas.